(Publicado na edição de 27 de Fevereiro de 2004 do jornal ALGARVE REGIÃO)
Nas últimas semanas, voltou a ser tema de discussão regional a possibilidade do Governo decidir sobre a abertura de mais duas ou três faculdades de medicina, para colmatar a falta de médicos e melhorar a prestação dos cuidados de saúde.
Saliente-se que, no Algarve, este tema já esteve em cima da mesa em 1998, acabando por beneficiar do processo as universidades da Beira Interior (Covilhã) e do Minho (Braga), continuando a não existir qualquer faculdade de medicina a sul do rio Tejo.
Nos últimos anos, a Universidade do Algarve, num trabalho discreto e profícuo, consolidou um justificado prestígio nacional, marcado recentemente pela reeleição do Prof. Adriano Pimpão para a presidência do Conselho dos Reitores das Universidades Portuguesas.
Com uma experiência única de relacionamento entre o ensino universitário e o ensino politécnico e com um plano de desenvolvimento coerente com os anseios dos algarvios e as necessidades do País (embora alvo de injustificados cortes no último Orçamento de Estado), a Universidade vem desenvolvendo os seus objectivos - a formação humana, cultural, científica e técnica; a realização da investigação fundamental e aplicada; a prestação de serviços à comunidade, numa perspectiva de valorização recíproca; o intercâmbio científico, técnico e cultural com instituições congéneres nacionais e estrangeiras; a contribuição, no seu âmbito de actividade, para a aproximação entre os povos, com especial destaque para os países de Língua oficial portuguesa e os países europeus; e, a contribuição para o desenvolvimento do País e, portanto, da região do Algarve – de uma forma sustentada.
A determinação dos seus responsáveis tem contado com o empenhamento das entidades locais e instituições regionais que, progressivamente, têm vindo a integrar nos seus quadros os respectivos licenciados, ganhando outro enquadramento técnico e humano e reforçando decisivamente a sua capacidade de intervenção.
Os desafios do mundo actual, em rápida transformação, exigem-nos uma atenção permanente aos avanços da ciência e das novas tecnologias. A necessária diversificação da economia algarvia obriga-nos a um olhar cuidado da evolução mundial e à criação de alternativas ao turismo e às actividades tradicionais. Quando as preocupações das comunidades locais se alteram permanentemente exigindo melhor qualidade de vida e mais respeito pela natureza, compreende-se que o papel desempenhado da Universidade do Algarve seja estratégico e fundamental!
Devidamente enquadrada no Plano de Desenvolvimento, realizado tendo em perspectiva o horizonte de 2006, a criação da Escola Superior de Saúde de Faro, englobando as licenciaturas em enfermagem e tecnologias da saúde, e a disponibilidade de meia centena doutorados em áreas do conhecimento com aplicação ao ensino e investigação da medicina, com diversas equipas a desenvolver acções no domínio da doença de Alzheimer e em projectos sobre a SIDA, permitem-lhe encarar o desafio da criação da faculdade de medicina com naturalidade.
Para complementar os extraordinários investimentos desenvolvidos e iniciados durante os governos socialistas na melhoria da rede de instalações de saúde – hospital distrital do Barlavento, rede de centros, áreas de internamento e extensões da saúde e centro de medicina física e reabilitação do sul – mostra-se necessário proceder à formação dos recursos humanos, quer para suprir as lacunas existentes, quer para prever carências futuras.
Mesmo que para tal seja necessário implementar uma parceria público-privada, a oportunidade que é dada à região do Algarve com a construção de um hospital central não pode ser desperdiçada, devendo ser previsto no caderno de encargos a inclusão das instalações necessárias para uma faculdade de medicina pública, incluída na estrutura orgânica da Universidade do Algarve e sob a sua orientação científica e pedagógica.
Por outro lado, não podemos esquecer que todos os indicadores demográficos apontam para um envelhecimento progressivo da nossa população e para o aumento da procura de cuidados de saúde especializados, nos domínios da geriatria e medicina desportiva, nomeadamente devido á monocultura do turismo.
As lacunas da rede de cuidados continuados e de centros e lares de terceira idade levam-nos também a crer que os investimentos privados neste domínio vão crescer, aumentado a procura de mão de obra especializada.
Saliente-se ainda que o plano regional de saúde do Algarve, em discussão pública a partir do início do próximo mês, não aponta nenhuma solução concreta para os problemas das listas de espera e falta de recursos humanos, nem soluções para a localização das futuras unidades de saúde.
Contudo, numa primeira análise, parece-nos que deveria ser prestada uma maior atenção às questões da prevenção, nomeadamente para a intensificação da presença dos médicos e dos técnicos de saúde no sistema de ensino, protagonizando uma educação para a saúde e para a prevenção dos factores de risco, contribuindo desta forma para a redução dos custos a montante. Porém, isto só é possível com recursos humanos disponíveis que, nesta fase, estão mais vocacionados para a resolução dos problemas existentes...
Não podemos permitir que jogos de bastidores ou tentativas de protagonismo possam vir a prejudicar o cumprimento deste desígnio regional, que parece reunir agora o consenso das várias forças partidárias.
Apesar das dúvidas de algumas personalidades, está demonstrado que a Universidade do Algarve e a região têm a massa crítica necessária e o potencial indispensável para acolher uma faculdade de medicina, fechando a rede de estabelecimentos superiores de ensino de saúde que o País necessita!!!
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