(Publicado em 6 de Setembro de 2001)
A publicação recente de legislação sobre o processo eleitoral para as autarquias locais, abrindo espaço à apresentação de candidatura apresentadas e compostas por cidadãos independentes aos órgãos dos municípios (antes tal só era possível para as assembleias de freguesia), veio introduzir um factor novo nas questões da participação na vida política.
Sem colocar em causa a regular participação na vida interna das associações e partidos políticos, quando estamos a tratar de questões locais e que dizem respeito à manutenção e sobrevivência das nossas comunidades, dos seus valores e dos seus estilos de vida, em rigor, ninguém pode afirmar-se como independente!
A preservação e dinamização do património comunitário, seja ele de índole arquitectónico, cultural ou natural é uma obrigação moral e um dever cívico que cada cidadão deve assumir como uma tarefa particular e encarar com espírito de missão, protegendo-os dos interesses deste ou daquele grupo.
O princípio de unidade subjacente a cada sociedade depende da consciencialização de cada um dos seus membros para esta realidade, devem estes colocar os seus “talentos” ao serviço do colectivo, enriquecendo a sua identidade e contribuindo para o desenvolvimento.
Cada um de nós é devedor de dedicação às comunidades de que faz parte e de respeito às autoridades encarregadas do bem comum, livre e democraticamente eleitas e que têm em vista atingir objectivos que ultrapassam as nossas capacidades individuais. O direito de associação contribui para garantir os direitos de todos e de cada um dos seus membros e a participação de cada cidadão é um forte contributo para desenvolver as qualidades pessoais, nomeadamente o sentido de iniciativa e de responsabilidade.
No respeito pelo princípio da subsidariedade, cada um de nós deve estar disponível para dar o seu contributo pessoal para o bem comum seja na mais simples associação ou nas estruturas institucionais mais formais, procurando harmonizar as relações entre os indivíduos e a comunidade e rentabilizar os meios escassos para suprir os constrangimentos que dificultam ou impedem o seu desenvolvimento sustentável.
Por isso mesmo, ninguém pode dizer que é independente quando estão em jogo os interesses da sua comunidade nem fechar-se na sua concha, deixando ao Estado e aos “políticos” profissionais a tarefa de gerir o bem comum, abstraindo-se dos seus deveres e responsabilidades.
Nos tempos incertos que atravessamos, com os desafios que se colocam à nossa capacidade de enfrentar o quotidiano, cada um deve assumir o papel de militante pela sua terra, pelos interesses da sua comunidade, sem bairrismos ou regionalismos arcaicos, mas antes numa perspectiva de humildade e de sinceridade, com uma postura de serviço público aberta e digna e com a consciência plena de que “a pessoa humana é, e deve ser, o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais”.
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