(Publicado em 27 de Junho de 2002)
A reacção impensável do Governo e do primeiro-ministro perante o tratamento concedido pelas autoridades policiais espanholas aos participantes portugueses na manifestação anti-globalização, que decorreu em Sevilha no último Sábado, veio demonstrar à saciedade que os actuais detentores dos principais cargos políticos não merecem ocupar os lugares que detém e que, com eles no Poder, a independência nacional corre sérios e graves riscos!
Independentemente de serem do Bloco de Esquerda ou de qualquer outra força política ou movimento cívico, tratavam-se de cidadãos europeus no uso pleno das suas faculdades e direitos democráticos que pretendiam participar numa manifestação pacífica que já havia sido devidamente autorizadas pelas entidades competentes para o efeito. A conduta discricionária da Polícia Nacional e da Guardia Civil, em alguns casos em pleno território nacional português, revela um comportamento típico do Estado Novo ou da Espanha franquista que não pode ser admitido num Estado de Direito!
Simpatizando ou não com Francisco Louçã, trata-se um deputado da Assembleia da República Portuguesa e a reacção solidária da segunda figura do Estado é irrelevante. Dando o devido desconto aos procedimentos diplomáticos, a tibieza da reacção do primeiro-ministro e do ministro dos Negócios Estrangeiros, ambos em Sevilha e com acesso privilegiado a José Mari Aznar, foi confrangedora e revela um espírito de subserviência que em nada dignifica os titulares daqueles cargos...
Aliás, isto sucede na mesma semana em que foi conhecido o afastamento do embaixador português Francisco Seixas da Costa das Nações Unidas, numa manobra de clara perseguição política a um distinto militante do Partido Socialista, ex-membro do Governo e um dos principais responsáveis pelo sucesso das negociações que conduziram à adesão de Portugal à União Económica e Monetária. A sua substituição por outro dos assessores diplomáticos de Cavaco Silva, ex-colega de gabinete do actual ministro, diz tudo...
Acima de tudo, isto culmina uma semana “horribilis” para o primeiro-ministro e para o PSD, relegado para uma posição secundária nas insuspeitas sondagens da Universidade Católica (a quase dez pontos do PS) e com os seus ministros numa posição ainda mais secundária no Governo, com os participantes naquele estudo de opinião a destacarem a actuação dos ministros do CDS-Partido Popular (o melhor é Bagão Félix, que obtém 9,9 valores numa escala de 0 a 20!!). Após dois meses de Governo, são mais os descontentes com Durão Barroso do que com António Guterres no pior momento dos seis anos da governação socialista!
Neste período, contradizendo todos os dias o discurso adoptado na campanha eleitoral, este Governo foi incapaz de devolver a esperança e a confiança aos portugueses e aos agentes económicos, a ministra de Estado e das Finanças ficou com a sua imagem de rigor e credibilidade completamente arrasada com o episódio do Benfica, Nuno Morais Sarmento enredou-se numa teia de inverdades sobre a Lei da Televisão e provocou a primeira derrota perante o Tribunal Constitucional, a Bolsa continua alegremente a caminho da derrocada, os impostos e a despesa pública subiram, o custo de vida encaminha-se nesse sentido e a falta de liderança do primeiro-ministro e o vazio de ideias dos governantes começa a ser desesperante.
A coroar o bolo, chegam-nos as notícias do membros do Governo que recusam-se repetidamente a falar com os autarcas do seu próprio partido (mesmo que estes tenham pertencido a anteriores Governos e possam dar-lhes alguns conselhos úteis!), obrigando-os a denunciar a situação na comunicação social, para merecerem os seus minutinhos de glória... Enfim, são políticos portugueses!!!
Ninguém pode governar contra um País, demonstrando uma arrogância “demodée” e uma falta de preparação atroz, debilitando continuadamente a sua imagem externa e reagindo mansamente aos excessos de “nuestros hermanos”. Imagine, sr. Barroso, que estávamos noutro País ou que fossem outras as suas gentes...
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