(Publicado na edição de 27 de Junho de 2002 do jornal BARLAVENTO)
O adiamento da decisão sobre o financiamento do Parque das Cidades vem demonstrar o estado actual da política no Algarve. Preocupados com o seu umbigo, os autarcas da região parecem não se importar de fazer perigar um dos principais investimentos públicos em curso no Algarve. É hora da Associação de Municípios demonstrar a sua capacidade de decisão e de congregar as vontades dos seus pares, calculando riscos, assumindo cedências, definindo prioridades...
Perante este imbróglio, deixem-me manifestar alguma saudade da determinação do Nuno Mergulhão ou da capacidade de negociação e persuasão de Carlos Tuta. Com eles, certamente, não estaríamos agora num impasse que envergonha os algarvios e faz-nos sonhar com a regionalização!! O projecto estruturante lançado por Joaquim Vairinhos, Luís Coelho e Vítor Aleixo, exemplarmente conduzido por Murta Marcos nos últimos três anos, não pode soçobrar perante as dificuldades agora “encontradas” pelos actuais responsáveis dos executivos municipais de Loulé e Faro.
Efectivamente, nunca podemos ter tudo o que desejamos e desde sempre me disseram que a política é a arte do possível. Compreendo que os candidatos tenham prometido aquilo que entenderam às populações que os elegeram em Dezembro, percebo que queiram respeitar os seus compromissos e até aceito que nem apreciem positivamente todos os projectos em curso nos vossos municípios, projectados, negociados e lançados pelas anteriores gestões e que mais cedo ou mais tarde não deixarão de apontar como obra feita! Entendo até que a vossa aflição seja maior porque toda a gente já depreendeu que este Governo não quer nada com o Poder Local, encaminhando-se para centralizar aquilo que puder, limitar as fontes de receita e não vos facilitar a vidinha!
Através de vários contratos de financiamento, o anterior Governo assegurou um conjunto de apoios superior a 2,35 milhões de contos (quase 12 milhões de euros...), contribuindo para a edificação do Estádio Desportivo e das suas acessibilidades, concorrendo para a recuperação paisagística e ambiental do antigo aterro sanitário que durante muitos anos recebeu os lixos de Faro, Loulé e Olhão (e nos últimos tempos de todo o Sotavento Algarvio!). Para aquele espaço, também está previsto um Pavilhão Multiusos e uma unidade hospitalar, rodeadas por 160 hectares de zonas verdes. Ocupando um espaço com 225 hectares estrategicamente localizado entre a Via do Infante e a EN 125, junto à linha ferroviária do Sul, a menos de meia hora das principais unidades hoteleiras da região e no centro da principal mancha urbana do Algarve, o Parque das Cidades é de interesse regional e nacional!
Em vez de recomeçar com estudos e mais análises, está na hora de cada município ceder um pouco do seu quinhão dos fundos comunitários, começando pelos principais interessados, é o momento de abdicar um pouco das vaidades pessoais e encontrar as explicações plausíveis para que todos os algarvios compreendam a justiça desta decisão. Se tal for necessário, pondere-se a alteração do modelo de gestão e de financiamento acordado inicialmente, envolvendo os organismos que representam o todo regional na sua complexidade – Associação de Municípios, Região de Turismo, etc, etc. – e combine-se desde já um plano de animação onde os empresários e os agentes culturais e desportivos assumam responsabilidades concretas para que o Parque das Cidades não venha a ser uma qualquer espécie mal amada de paquiderme.
Para concluir, permitam-me duas ou três sugestões concretas para o sucesso do empreendimento. Aliene-se por concurso público o espaço previsto para a unidade hospitalar, abrindo-o aos grupos empresariais que estejam interessados na sua edificação e exploração, garantindo desde já a sua integração posterior no Serviço Nacional de Saúde. Adapte-se o projecto do Pavilhão Multiusos para que possa receber grandes espectáculos musicais e de teatro, para além dos congressos e dos acontecimentos desportivos, concluindo de vez a triste comédia que envolve o Teatro Municipal de Faro. Concentrem-se nas instalações desportivas do Parque as actividades lectivas da Universidade do Algarve e do INUAF relacionadas com os cursos de desporto, dotando-o de zonas pedagógicas, de residências para estudantes e dos serviços necessários e dando-lhe vida ao longo de todo o ano. Assim, era possível que este fosse o Parque do Algarve!
A solidariedade interregional não pode ser apenas um jogo de palavras, tem que manifestar-se por atitudes e decisões muito concretas e definitivas! Foi para isso que os eleitores votaram nas actuais lideranças municipais, é por isso que o Poder Local ainda merece a confiança dos algarvios...
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