segunda-feira, fevereiro 23, 2004

Contra a abstenção, votar, votar...

(Publicado na edição de 6 de Dezembro de 2001 do jornal POSTAL DO ALGARVE)


Os últimos actos eleitorais têm sido marcados por uma abstenção eleitoral crescente e preocupante. A diminuição da participação dos eleitores nos actos mais marcantes da vida democrática tem sido evidente e requer novos políticos e novas políticas, ou seja, novas práticas e ideias inovadoras que aliciem os eleitores e estejam voltadas para as necessidades das comunidades locais.

Hoje, mais do que nunca, os candidatos não devem fugir dos cidadãos e devem mesmo procurar contribuir para a participação dos sectores menos empenhados na vida pública, demonstrar-lhe que a sua opinião é escutada atentamente e considerada nos actos decisórios. O refúgio dos gabinetes, a muralha dos assessores e o exército dos técnicos e do marketing podem ser óptimos para os grandes centros urbanos, mas pode traduzir-se na consolidação dos números de abstencionistas ou, mesmo, no seu aumento. Há que ser coerente e ser verdadeiro!

Por outro lado, as eleições locais impedindo que sejam desprezados os movimentos de opinião que enfrentam decisões mais ou menos arbitrárias, obrigam à necessária valorização dos projectos locais apresentados a sufrágio pelos candidatos. Nos dias que correm, e apesar destas eleições serem claramente para eleger os responsáveis autárquicos de cada município e freguesia, há que peça cartões vermelhos ao Governo (“mesmo que tal seja injusto para alguns bons autarcas socialistas” acrescentou Cavaco Silva). Outros, incapazes de golpes de asa mais profundos e temendo uma queda da cadeira, exigem eleições antecipadas quando o País necessita de estabilidade como de pão para a boca...

Durante longas décadas, só alguns podiam votar, nem todas as mulheres o podiam fazer. Hoje, pratica-se o sufrágio universal, elas dominam as universidades e podem ser candidatas. Para tal, basta completar dezoito anos de idade, inscrever-ser no recenseamento eleitoral e... informar-se sobre as propostas de cada candidatura!

No capítulo da propaganda, imperam as novas tecnologias da sociedade digital, as páginas na internet ou os endereços electrónicos, dominam os papéis reciclados e quase desapareceram as pinturas de parede ou os tradicionais cartazes, multiplicam-se as publicações autárquicas anunciando todas as obras dos futuros mandatos, deixando pouca margem de manobra para qualquer alternativa dos próximos titulares do Poder.

Quando a participação no debate democrático deveria ser ponto de honra de qualquer candidato digno dessa condição, alguns recusam-se a colaborar na avaliação pública da sua prestação e na discussão das alternativas existentes com desculpas esfarrapadas. É assim que se fomenta a insatisfação e despretigia-se a classe política, é desta forma que se contribui para o aumento da abstenção!

Como num passe de mágica, alguns ilusionistas multiplicam ideias e projectos, confundem os eleitores com os milhões de investimento em listagem de obras que dariam para dois ou três mandatos, mesmo que não estas sejam da sua competência nem possuam meios para tal, mesmo que enfrentem um eleitorado já desiludido com o incumprimento das promessas anteriormente assumidas. Apenas mais cinco anos de fundos comunitários exigem coerência, capacidade de decisão e finanças autárquicas sólidas e tranquilas...

No próximo dia 16 de Dezembro, vai estar em jogo o futuro da sua terra, da nossa terra. Sobre a mesa vai estar a decisão sobre o rumo a tomar no seu município em matéria de ordenamento do território e de qualidade de vida, sobre a cultura, a educação, o desporto, o desenvolvimento económico e as políticas de coesão social.

Nas suas mãos vai estar o poder de dar mais gás à participação dos cidadãos nas principais deliberações que afectam a sua comunidade ou deixar que seja algum iluminado a decidir sobre aquilo que diz respeito a todos. No interesse de todos, não deixe que sejam outros a decidir por si!

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