(Publicado em 20 de Setembro de 2001)
Apesar dos motores ainda estarem no primeiro aquecimento, todos já se aperceberam que as eleições para as autarquias locais estão muito próximas, desdobrando-se os seus responsáveis, principalmente aqueles que pouco ou nada fizeram ao longo dos últimos quatro anos, em aparições e declarações públicas, em festarolas e inaugurações, em compromissos e promessas para acenar e deitar fora...
Outros, mudam como da noite para o dia, desmultiplicando-se em beijinhos, cumprimentos e sorrisos de ocasião, mostrando-se a tudo e a todos atentos e compreensivos, empenhados e madrugadores, capazes de tanto dar o braço aos empresários mais poderosos, como a mão aos excluídos da sociedade. Quem segue a novela “Porto dos Milagres”, na televisão SIC, sabe do que estou a falar!
São atitudes como estas que têm levado os cidadãos a afastarem-se de forma progressiva da participação cívica ou os militantes mais desavergonhados a procurarem distância dos partidos políticos lançando sobre estes sombras e suspeitas. São atitudes que ficam para quem as pratica, mas cuja generalização é fácil e recorrente...
Sempre, ao longo das minhas intervenções, quer nas páginas deste jornal, quer noutros locais, tenho procurado defender e realçar os valores da participação cívica, contrariar estas práticas com apelos sucessivos à integração no tecido associativo, pela criação de novos interesses nos domínios da cultura e do desporto ou pela ocupação salutar dos tempos livres desde a mais tenra idade. Mesmo dando o exemplo, com adversários poderosos como a atracção dos écrans das televisões ou o facilitismo insinuado nas campanhas publicitárias, compreendo que é uma tarefa árdua e difícil, com potenciais aliados nem sempre muito compenetrados da validade do seu papel.
Num mundo globalizado como o nosso, onde urge “evitar um confronto cada vez mais catastrófico entre um poder absoluto e os desenraizados sem esperança” (Alain Touraine), estou cada vez mais convencido que compete a cada um de nós dar o primeiro passo sem esperar pelo vizinho, a agir localmente pensando globalmente integrando sempre mais alguém e a enfrentar com confiança todos os problemas do quotidiano, sem olhar a fronteiras, mas começando naqueles que estão mais próximos e cuja solução também pode passar pela nossa iniciativa.
Para mim, para qualquer um de nós, tal poderá passar por uma participação activa e empenhada no próximo processo eleitoral, quer como candidato, quer como eleitor nas nossas áreas de residência.
Para esses, duas informações que julgo serem úteis neste período. O registo nos cadernos eleitorais é obrigatório sendo que, com a nova legislação, estes podem ser alterados até sessenta dias antes de cada acto (17 de Outubro), permitindo a inclusão de novos eleitores, a actualização da residência ou outras correcções por um período mais dilatado, graças ao forte investimento efectuado pelo Ministério da Administração Interna na informatização das 4.240 freguesias de Portugal.
Por outro lado, nestas eleições autárquicas, também podem votar e ser eleitos os cidadãos dos quinze Estados da União Europeia, Brasil, Cabo Verde, Peru e Uruguai, enquanto que cidadãos de 25 países podem votar para as autarquias portuguesas (para além daqueles, os cidadãos da Argentina, Chile, Estónia, Israel, Noruega e Venezuela).
Nesta altura do texto, certamente, muitos dos leitores já me apelidaram de utópico, mas fico feliz ao pensar que talvez tenha influenciado alguns a pensar seriamente em tomar uma atitude!
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