(Publicado em 2 de Novembro de 2001)
Ao longo dos últimos quatro anos, o município de Tavira foi governado sob o espírito da mudança. Com um ritmo de corridinho, beneficiando de alterações conjunturais únicas na história da jovem democracia portuguesa, herdeiro de um conjunto de projectos estruturantes “prontos-a-vestir” e da recente aprovação do Plano Director Municipal, que não é grande coisa, mas abria os cofres dos fundos comunitários, o actual presidente da Câmara tinha todas as condições para fazer história...
E, queira-se ou não, acabou por marcar com o seu estilo de liderança desenfreada a imagem pública da Câmara Municipal junto da população, dos seus funcionários e fornecedores e vai legar aos seus sucessores uma marca inesquecível no território do concelho de Tavira. A credibilidade da principal instituição pública do concelho pelas ruas da amargura, com pequenas e grandes empresas com facturas por receber há mais de um ano e pagando juros insuportáveis aos bancos limitando de forma gravosa a sua capacidade de investimento e colocando em risco a sua própria sobrevivência, sub-empreiteiros com ordenados em atraso mas caladinhos para não perderem este ou aquele contrato e, entre outras cenas rocambolescas, a suprema vergonha da cessação do crédito ao município nalguns dos seus principais fornecedores!
A pressa de alimentar a propaganda e de fazer crescer o orçamento levou à multiplicação das urbanizações e dos projectos sem salvaguardar uma rede bem dimensionada de infra-estruturas básicas e imprescindíveis de abastecimentos, acessibilidades e saneamento. Com tanta urgência, esqueceu-se a existência de prioridades e todos os dias surgem mais intenções de obras de fachada, sem se saber muito bem donde provém as verbas e aumentando ainda mais um passivo que já é preocupante. Este é um retrato possível e pode parecer dramático, mas leva-nos a temer pelo que ainda está por aparecer, pois o que está em jogo não é pouco. No fim, pode ser que venha o Estado para colocar alguma ordem!
Ao longo dos últimos quatro anos, na sequência deste dinamismo inegável, a coesão e a estabilidade dos órgãos autárquicos foram uma miragem, membros da câmara ou das juntas de freguesia saíram por uns dias ou para sempre, outros foram promovidos e até continuam apesar da debandada parecer geral, alguns são dispensados por aparente incompetência mas servem para a foto do lado, responsáveis de órgãos autárquicos retiraram-se temporariamente para melhor reflectirem sobre as suas possibilidades de intervenção e voltam na maior como se nada se tivesse passado...
Agora, mais do nunca, Tavira precisa de uma equipa e de uma estratégia!
Tavira precisa de uma equipa jovem e experiente, coesa e motivada, com provas dadas e elevado potencial, conhecedora da cidade e das suas instituições, consciente dos seus problemas e bem preparada para resolvê-los com dedicação e humanismo...
Tavira precisa de um rumo bem definido e sem exclusões, partilhado pela generalidade dos tavirenses e que permita recuperar a credibilidade das autarquias e promover o desenvolvimento sustentado de todo o concelho, da cidade e das vilas, da orla ribeirinha aos recantos da serra...
Agora, em cada órgão da município ou das freguesias, Tavira precisa de lideranças fortes e seguras que encarem os desafios com positivismo e nos digam claramente o que vai ser feito para melhorar o quotidiano dos tavirenses, que respeitem e saibam escutar os cidadãos, assegurando a sua participação no processo de tomada das decisões!
Agora, Tavira precisa de si e da sua serena reflexão...
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