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terça-feira, maio 27, 2008
Preserve a sua carteira!
Confrontada com os boicotes da próxima semana, a APETRO – Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas lançou a campanha de eficiência energética «Poupe Mais do que Combustível»...
Trata-se de uma iniciativa de âmbito europeu, apoiada pela Comissão Europeia, que envolve mais de 45.000 postos de abastecimento distribuídos por 19 países. Esta prevê a distribuição de milhões de folhetos sobre eficiência de combustível e comportamento de condução responsável, nos pontos de venda.
Nos folhetos são dadas dez dicas acerca do melhor modo de poupar combustível, como por exemplo «verificar a pressão dos pneus», «retirar a carga desnecessária» e «antecipar o fluxo de trânsito», entre outras.
Contudo, na Rede, encontra-se quem recomende 33 acções que prolongam a vida dos carros, conservam o ambiente e... preservam a saúde da sua carteira!
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2 comentários:
Lucros extraordinários da GALP aumentaram 228,6 % no 1º trimestre do corrente ano de 2008
por Eugénio Rosa (Economista), in Regiã Sul, 2008.05.28
A GALP acabou de apresentar publicamente as contas referentes ao 1º Trimestre de 2008. E numa altura em que são exigidos aos portugueses tanto sacrifícios, não só aos que têm de adquirir combustíveis mas a todos que sofrem também as consequências dos aumentos semanais dos preços dos combustíveis, os resultados obtidos pela GALP e, consequentemente, por todas as petrolíferas são impressionantes, para não dizer mesmo chocantes.
SÓ NO 1º TRIMESTRE DE 2008, A GALP OBTEVE UM LUCRO EXTRAORDINÁRIO DE 69 MILHÕES DE EUROS DEVIDO À ESPECULAÇÃO DO PREÇO DO PETRÓLEO NO MERCADO INTERNACIONAL E OS LUCROS TOTAIS ATINGIRAM 175 MILHÕES
Como mostra o quadro seguinte, construído com dados que estão disponíveis no “site” da GALP os resultados obtidos no 1º Trimestre de 2008, quando comparamos com os de 2007, que foi um ano “muito bom” para a GALP são muito significativos.
QUADRO I – Vendas, resultados operacionais, resultados líquidos e lucros obtidos devido ao aumento do preço do petróleo no 1º Trimestre de 2007 e no 1º Trimestre de 2008
(Quadro I)
Se se comparar o 1º Trimestre de 2007 com o de 2008, conclui-se que as vendas, em milhões de euros, no 1º Trimestre de 2008 foram superiores às do 1º Trimestre de 2008 em 27%, mas os resultados operacionais, ou seja, aquele que resulta da actividade essencial e normal da empresa aumentaram em 38%, muito mais que a subida registada nas vendas.
Se se analisar os resultados líquidos, ou seja, depois de retirar a parte para pagar impostos, conclui-se que eles subiram, entre o 1º Trimestre de 2007 e o 1º Trimestre de 2008, em 22,4%, atingindo, no 1º Trimestre de 2008, 175 milhões de euros, ou seja, mais 32 milhões de euros, que em idêntico período de 2007.
Mas o que é impressionante, e é mesmo chocante numa altura em que são pedidos tantos sacrifícios aos portugueses, é que a GALP tenha obtido um lucro extraordinário de 69 milhões de euros, ou seja, mais 228,6 % do que em 2007, devido à subida do preço do barril do petróleo, ou seja, com a especulação dos preços do petróleo no mercado internacional, o que não tem nada a ver com a actividade normal da empresa. É esse o valor do chamado “efeito stock” em 2008, ou seja, a diferença entre o preço a que a GALP adquiriu o barril de petróleo, muito mais baixo porque foi comprado cerca de 2,5 meses antes da sua utilização, e o preço a que depois foi considerado para cálculo do preço de venda de combustíveis aos portugueses.
COMO SE FORMAM OS PREÇOS COBRADOS PELAS PETROLÍFERAS EM PORTUGAL
As petrolíferas não calculam os preços de venda dos combustíveis em Portugal da mesma forma que fazem a generalidade das outras empresas, ou seja, somando os custos que suportaram e adicionando depois uma margem de lucro. As petrolíferas o que fazem é recolher os preços dos produtos refinados (gasolina, gasóleo, etc.) no mercado de Roterdão em cada semana, depois calculam a média para cada produto, e é esse preço assim determinado que aplicam aos consumidores portugueses. Como é evidente esse preço incorpora também a especulação que se verifica todos os dias no mercado internacional do petróleo, determinada pela entrada maciça dos chamados fundos de investimento, cujas aplicações multiplicaram 30 vezes nos últimos meses, com o objectivo de, controlando a oferta, como estão a conseguir, imporem preços especulativos e embolsarem, assim, gigantes lucros (como está também a suceder).
Para que se possa ficar com uma ideia como a GALP, e as outras petrolíferas estão-se a aproveitar da situação, é necessário que ter presente o seguinte. Os combustíveis que as petrolíferas vendem em cada dia foram produzidos com petróleo adquirido entre dois a três meses antes (num estudo anterior referimos 3 meses, mas uma investigação feita por nós levou à conclusão, para sermos mais rigorosos, que o período médio varia entre 2 a 2,5 meses). E o custo do petróleo adquirido 2 a 2,5 meses antes, que é utilizado para produzir os combustíveis que são vendidos diariamente, é inferior ao preço do petróleo que é utilizado pelas petrolíferas para calcular os preços de venda, sem impostos, dos combustíveis que cobram aos portugueses, como revelam os dados oficiais da Direcção Geral de Energia constante do quadro seguinte:
QUADRO II – Preço do barril de petróleo que é considerado para o cálculo do preço de venda dos combustíveis em Portugal, e preço que custou efectivamente às petrolíferas
(Quadro II)
Como mostra o quadro, o preço do petróleo utilizado pelas petrolíferas para calcular o preço de venda dos combustíveis em Abril de 2008 é superior em 14,7% em dólares (7,2% em euros) ao preço do petróleo utilizado para produzir esses combustíveis, que é o de Fevereiro, pois é o adquirido 2 a 2,5 meses antes. E isto porque o petróleo utilizado não foi o adquirido no mês de Abril, mas sim o que estava em armazém que tinha sido adquirido em Fevereiro e que tinha custado à GALP muito menos (-12,8% em dólares e – 6,7% em euros). É precisamente essa diferença de preços do barril de petróleo, que resulta da especulação, que explica aquele lucro extraordinário de 69 milhões de euros só no 1º Trimestre de 2008, a que a GALP chama “efeito stock” (a GALP utiliza o termo técnico “replacement cost” para ocultar aos olhos dos portugueses a especulação de que se aproveita para aumentar os lucros), efeito este que aumentará com o aumento da especulação no mercado internacional do petróleo. É urgente que o governo e a Autoridade da Concorrência ponham cobro ao escândalo que resulta do aproveitamento que as petrolíferas estão a fazer da especulação nos mercados mundiais, passando a funcionar os preços de Roterdão como máximos, não podendo ser ultrapassados no cálculo dos preços de venda dos combustíveis com base nos custos efectivos suportados mais uma margem de lucro decente.
EM MAIO DE 2008, OS PREÇOS DOS COMBUSTíVEIS EM PORTUGAL CONTINUAVAM A SER SUPERIORES AOS PREÇOS MÉDIOS DA UE 15
O quadro seguinte mostra que em Portugal, em Maio de 2008, os preços, sem impostos, quer do gasóleo quer da gasolina eram superiores aos preços médios da EU-15.
QUADRO III – Preços do gasóleo e da gasolina sem impostos e com impostos em Portugal e em outros países da União Europeia em Maio / 2008
(Quadro III)
Em Maio de 2008 (antes dos últimos aumentos), o preço sem impostos do gasóleo em Portugal era já superior em 2% ao preço médio do gasóleo na União Europeia, e o da gasolina também era superior ao preço médio da União Europeia em +2,4%. E com impostos, o preço do gasóleo em Portugal era inferior ao preço médio da União Europeia apenas em -0,1%, mas o da gasolina era já superior ao preço médio da União Europeia em + 5,2%.
Se a análise for mais desagregada, ou seja, por países, existe um grande numero de países com custos e rendimentos superiores aos de Portugal, mas com preços de combustíveis inferiores aos cobrados em Portugal pelas petrolíferas. São exemplos, a Áustria, a Irlanda , a França, a Suécia, a Alemanha, a Dinamarca, a Finlândia e a Inglaterra, que praticam preços de gasóleo, sem impostos, inferiores e, em alguns casos bastantes inferiores, aos cobrados pelas petrolíferas em Portugal. Em relação à gasolina, e considerando também os preços sem impostos, na Áustria, na Irlanda, na França, na Suécia, na Alemanha, na Dinamarca, na Finlândia, e na Inglaterra; repetindo em todos estes países os preços da gasolina sem impostos são inferiores aos cobrados aos portugueses pelas petrolíferas em Portugal. É um autêntico escândalo, até porque existem muitos custos suportados pelas petrolíferas em Portugal que são inferiores aos suportados pelas petrolíferas daqueles países (por ex., os salários pagos aos trabalhadores portugueses são inferiores a metade do salário médio desses países).
OS PREÇOS DOS COMBUSTIVEIS DISPARARAM COM A PRIVATIZAÇÃO DA GALP E COM A LIBERALIZAÇÃO DOS PREÇOS
Contrariamente ao que afirmava a propaganda quer do governo quer dos grandes grupos económicos portugueses, a privatização das empresas nacionalizadas e a liberalização dos preços dos combustíveis, não trouxe nem o aumento da concorrência nem descidas dos preços, como mostram os dados oficiais divulgados pela Direcção Geral de Energia constante do quadro seguinte.
QUADRO IV – Aumento dos preços dos combustíveis em Portugal depois da privatização das empresas nacionalizadas e da liberalização dos preços dos combustíveis (Jan2004 - Maio 2008)
Euros / Litro
(Quadro IV)
No dia 31.12.2003, através da Portaria 1423-F/2003 do governo do PSD/CDS (era membro desse governo Paulo Portas que agora se insurge tanto contra a subida dos preços dos combustíveis, o que revela bem a hipocrisia da direita) foram liberalizados os preços dos combustíveis em Portugal. A razão apresentada pelo então governo do PSD/CDS é que isso iria determinar o aumento da concorrência com, a consequente, descida dos preços.
Como mostram os dados oficiais do quadro IV, com a privatização da GALP pelos governos do PS e PSD, e com a liberalização dos preços dos combustíveis pelo governo PSD/CDS o que aconteceu foi precisamente o contrário. Entre 2.1.2004 e 22.5.2008 o preço da gasolina 95 aumentou +57,3% e o do gasóleo rodoviário +102,7%. Entre 2.1.2004 e 9.5.2008, o preço do gasóleo colorido subiu + 127; e do gasóleo de aquecimento + 138,1%. Durante o mesmo período as remunerações aumentaram em Portugal, em média , menos de 15%. Os comentários parecem inúteis perante esta escalada dos preços dos combustíveis que se tem acentuado nos últimos meses. É evidente, se o proprietário da empresa fosse ainda o Estado seria muito mais fácil impedir que esta se aproveitasse da especulação que domina actualmente os mercados internacionais do petróleo para cobrar pelos combustíveis preços escandalosos, e controlar os preços e impedir que eles atingissem o ritmo de aumentos galopantes verificados nas últimas semanas. Não se percebe que o governo não utilize a “golden share que tem na GALP para pôr cobro ao escândalo do cálculo dos preços de combustíveis serem determinados pela especulação.
* Economista
A ESCALADA
por António Perez Metelo (redactor principal), in DN, 2008.05.28
O secretário-geral da OPEP, o cartel de países exportadores de petróleo, confessava há dias não ter explicação racional para a contínua subida do preço do crude. Mas vale a pena enumerar a cadeia de estrangulamentos na cadeia de valor, que já vêm de trás e constituem o pano de fundo da presente febre especulativa.
A OPEP ganhou o seu poder económico e político em 1973. Os países produtores e exportadores, através das suas companhias petrolíferas de bandeira, chamaram a si uma fatia mais substancial do negócio, mas comportaram-se mais como rentistas, com rendimentos do petróleo aplicados nos mais diversos sectores e projectos, sem reinvestir em prospecção e desenvolvimento tecnológico tanto quanto as herdeiras das "Sete Irmãs" multinacionais. Na Arábia Saudita, no Iraque, no Irão, não só se produz em condições tecnológicas sofríveis, como se descurou o investimento em refinarias modernas com as mais exigentes especificações ambientais. E a busca de novas jazidas de petróleo e campos de gás natural está áquem do potencial indiciado de reservas. Ao nível de grandes petroleiros assistiu-se igualmente ao abrandamento na sua expansão.
Os focos de tensão geo-política em regiões ricas em petróleo têm vindo a agravar-se nas últimas décadas. No delta do Níger actua uma guerrilha, que vai sabotando instalações petrolíferas com regularidade; a Venezuela joga o seu poder económico para criar uma rede de alianças contra a hegemonia norte-americana; a invasão do Iraque, não só não quebrou a política de cartel da OPEP, como produz abaixo do nível de Março de 2003 e ajudou a afundar o dólar norte-americano; e o braço-de-ferro nuclear com o Irão ameaça degenerar em novo conflito armado.
As tensões transmitidas ao mercado são aproveitadas pelos especuladores, que lêem nelas a possibilidade de ganhar bom dinheiro, numa altura de debandada de outros produtos financeiros devido à crise internacional.
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