quinta-feira, dezembro 15, 2005

Take 7 - Passado e... futuro!


No debate entre jerónimo e Louçã, as diferenças ficaram claras e está demonstrado que a esquerda tem... futuro!

As questões europeias e as rivalidades partidárias dominaram o
frente-a-frente à esquerda, que decorreu em ambiente tenso...

Com a intenção de consolidarem os seus votos e pescarem apoiantes no eleitorado do adversário, os oponentes multiplicaram-se em tentativas de sedução, com expoente máximo na declaração final de Francisco Louçã ao "homenagear" ex-críticos do PCP já desaparecidos...

1 comentário:

Anónimo disse...

O espaço dos debates

Eduardo Prado Coelho, in Público, 2005.12.16

Uma das maiores polémicas nas últimas semanas em Portugal: a configuração dos debates entre os candidatos à Presidência. Primeiro ponto: demonstração de que o espaço e as relações de orientação, altura e distância entre as pessoas alteram o seu procedimento e mesmo a sua forma de pensar. Um professor, por exemplo, chega a uma aula e resolve que todos se vão sentar em círculo. Rapidamente se entende que ele tem uma concepção da aula diferente daquele outro professor que tem uma secretária mais elevada, suportada por um estrado, e coloca os alunos em carteiras, alinhando-os por ordem alfabética, na devida distância. São dois mundos pedagógicos completamente divergentes. E assim numa Assembleia da República, numa sala de audiências ou no plano de mesa de uma embaixada.
Se é possível considerarmos que nos chamados "frente-a-frente" houve momentos históricos, também me recordo de debates em que o engalfinhamento dos candidatos foi espectacular e tornou o confronto puramente ininteligível. Pessoalmente, prefiro estas chamadas "entrevistas lado a lado" (designação que proliferou, mas que se revela inadequada) àquelas lutas ferozes de galos acicatados. Não sei, por exemplo, se o debate entre Carmona Rodrigues e Manuel Maria Carrilho terá servido para esclarecer os eleitores. Penso que não.
Tem-se dito também que estes debates têm sido soporíferos, e que adormecemos ao vê-los, Que revelam tais afirmações? Que a televisão cada vez mais impede um discurso articulado, que exista para ser ouvido. O preço da atenção televisiva é cada vez mais caro. As pessoas estão habituadas ao escândalo, pequeno ou grande, e assim vimos como aquele fascista de Barcelos, que torpemente agrediu Mário Soares, fez as honras de todos os telejornais. Ora o episódio não tinha grande importância, provocava apenas alarido.
O actual formato de debates talvez impeça que se diga quem venceu (só Mário Soares é que pretendeu que tinha vencido Manuel Alegre). Mas permitiu já muitas coisas.
Vimos um Francisco Louçã brilhantíssimo, dominando o discurso, conseguindo tocar o adversário sem nunca parecer agressivo, usando todos os artifícios da retórica parlamentar. Sobretudo no debate com Cavaco Silva, houve momentos em que quase apetecia aplaudir. Vimos Manuel Alegre procurando reequilibrar a imagem que lhe era atribuída, aparecendo agora como uma esquerda moderada que não apaga o seu passado de luta, e voltada para o futuro (embora Alegre ainda tenha explicitado pouco o que se deve entender por uma esquerda moderna). Vimos Jerónimo de Sousa, cedendo em algumas posições mais ortodoxas, e mostrando uma simpatia e um à-vontade notáveis. É óbvio que muitas vezes defende o indefensável: a sua leitura da Constituição é de uma literalidade que raia o absurdo: é por lá vir que todos têm direito ao emprego que passa a haver emprego para todos? E vimos Soares, sem nenhuma ideia que se fixe, mas com uma presença talentosa.
Quanto a Cavaco Silva, que é certamente um grande economista, repete o que eu próprio diria: é preciso o desenvolvimento do país para que se resolvam todos os outros problemas. Mas está mais blindado do que nunca.

Professor universitário, membro da candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República