terça-feira, dezembro 06, 2005

Faça-se justiça!


Passado mais de um ano sobre a comemoração do seu 80.º aniversário, António Ramos Rosa regressa à cidade onde nasceu para receber uma merecida homenagem e presidir à apresentação da sua própria biografia...

Depois do indesculpável "esquecimento" do anterior executivo municipal, a Câmara Municipal de Faro e a Faro - Capital Nacional da Cultura'2005 homenageiam o maior poeta vivo da língua portuguesa na Biblioteca da qual é patrono. Ali decorrerá o lançamento da obra “António Ramos Rosa - imagens do caminho das palavras e dos afectos”, de Ana Paula Coutinho Mendes, com apresentação de Fátima Freitas Morna, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Recentemente galardoado com o Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen, instituído pela Câmara Municipal de S. João da Madeira em colaboração com a Associação Portuguesa de Escritores, pela obra "O Poeta na Rua", publicou em 2001 o livro “As Palavras”, do qual seleccionamos o poema seguinte como aperitivo para leituras futuras:


"A palavra poderá ser alguma vez sobre uma concha de lábios anelantes
a luxuriante ramagem em que fulge o ouro
entre fios azuis e ao doce molusco do umbigo ascende?
Poderá ela igualar-se às cintilantes surpresas
de uma rosa a que se adere no mais ardente contacto?
As palavras amam o seu corpo musical
as suas varandas verdes as suas torres brancas
Às vezes não são mais do que pétalas de cinza ou cal
ou rosas de fumo evolando-se de uma parede cinzenta
Mas quando cavalos do desejo quando se empinam para uma árvore solar
é porque o esplendor do corpo as deslumbra e as dilata
e querem ser a reverência inebriada de um delicado ardor
E então como as aranhas de mercúrio ou de prata tecem as frágeis constelações
em que os nomes circulam com o sangue dos arbustos do desejo"


Uma homenagem merecida!

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