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terça-feira, dezembro 06, 2005
Take 1 - Um aborrecimento...
O primeiro debate das Presidenciais foi uma seca, os candidatos entenderam jogar à defesa e os moderadores não tiveram arte para fazê-los sair do casulo...
Dois monólogos murchos, chochos e insonsos, um debate que nem chegou a ganhar fervura, com estranhas unanimidades em voltas dos temas do costume.
Como já sabemos, mesmo "ganhando" com a titude passiva do seu oponente, Cavaco Silva apesar de congratular-se com os debates preferia estar calado até à tomada de posse.
Inofensivo, Manuel Alegre amuou porque não lhe fizeram a vontade e presentearam-no com uma oportunidade única que... desperdiçou!!!
Venham Soares e Louçã, porque já sabemos que o Jerónimo vai ficar afónico novamente. Ou será que consegue dizer alguma coisa de jeito?!
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3 comentários:
ALEGRE CAVAQUEIRA
Por Conceição Branco *
in Observatório do Algarve (06-12-2005,19:32:00)
"Alegre Cavaqueira" foi o título que o matutino 24 horas escolheu para a sua peça de análise ao primeiro debate dos candidatos às presidenciais, glosando o nome dos intervenientes: Cavaco Silva e Manuel Alegre.
Embora de forma menos irreverente, as análises feitas na restante imprensa são unânimes quanto ao facto de o debate ter sido "defensivo", morno e pouco motivador.
Também não houve novidades na sondagem relâmpago efectuada na hora seguinte, relativamente ao ranking dos candidatos nas preferências dos portugueses.
Depois de muita tinta correr sobre a forma dos debates, as regras em que se iriam realizar, e quem defrontaria quem, tudo indica que este ainda não é o modelo capaz de atrair os eleitores.
Afinal em que é que ficamos? Se há debates com todos, é uma confusão. Se o ecrã mostra apenas dois interlocutores, é a modorra.
Dizem os consultores de imagem que as eleições se ganham (ou se perdem) devido à prestação televisiva, mas pelos vistos, esta análise não se reflectiu no share televisivo deste debate.
À frente continuam as telenovelas, os realty shows, ou as stand up comedy. Neste quadro, o problema de fundo estará, provavelmente, no divórcio entre políticos e eleitores.
E também no tipo de mensagem em que os candidatos apostam. Desfiam lugares comuns, ideias vagas, ou grandes princípios que os analistas irão esmiuçar até à vírgula e ao ponto final, mas que passam ao ladodas reais preocupações do comum dos mortais.
Este debate só terá satisfeito os directores de campanha. “Passou” sem mossa que se visse para a imagem dos dois interlocutores, foi “civilizado”, e permitiu realçar “as ideias fulcrais” que diferenciam o social democrata Cavaco Silva do socialista Manuel Alegre.
Só não atraiu o povo. E o povo é quem mais ordena, pelo menos quando se trata de votar .
* Jornalista
No debate da SIC com Manuel Alegre -- um debate tão civilizado quanto morno --, Cavaco Silva não conseguiu esconder as suas duas principais fragilidades.
Por um lado, um problema de falta de convicção: o seu discurso é tão preparado, tão "certinho", tão "artificial" e tão calculista, que deixa muito a desejar em matéria de sinceridade (por exemplo, quando afirmou que, se for eleito, a direita não o vai ver como "seu" presidente...).
Por outro lado, a sua vocação governamentalista, ou seja, a incapacidade para se elevar acima das questões do governo: todo o seu discurso gira à volta da agenda própria do Governo (crise financeira, investimento, emprego, ensino, segurança, etc.), sem desenhar um sentido próprio para a missão presidencial. Daí se compreende a sua ideia de ajudar a "resolver os problemas", de sugerir legislação, de ajudar a concretizar investimentos (sic!).
Tal activismo presidencial seria, seguramente, uma receita para uma permanente ingerência nas competências governamentais, com o potencial de conflito político e institucional que isso inevitavelmente gera. A sua solução para a crise da justiça -- uma espécie de grande convenção dos sectores interessados sob a égide do PR -- é verdadeiramente inquietante, deixando escapar o seu verdadeiro entendimento do função presidencial, de apropriação de "dossiers" governativos.
[Reproduzido do Super Mário]
Talvez Cavaco e Alegre se safassem na Estónia
por Vasco Pulido Valente
Cavaco e Alegre concordaram muito e trocaram muita vénia e salamaleque. Não admira: tudo é bom, se for contra Soares. Odeiam o homem, lá isso odeiam. De resto, são estadistas. Desisti de contar as vezes que disseram "estratégia", "visão", "valores", "consenso", "pacto", "confiança". Um estadista tem de dizer estas coisas. Cavaco e Alegre não falharam um lugar-comum. Deviam tirar um livro daquela conversa: "Frases para candidatos sem nada na cabeça". Reparem. O dr. Cavaco oferece "cooperação estratégica" (soa bem "estratégica") em matérias "consensuais" (o "consenso" ajuda sempre) onde exactamente a "cooperação" é implícita ou desnecessária. Alegre jura que alberga um "pensamento estratégico" (ele pensa!) e uma "visão (ele vê!) humanística". Pra não ficar atrás, Cavaco "atribui um grande valor ("valor", vão notando) à dignidade da pessoa humana". E nós que pensávamos que ele não atribuía...'
'Mas não esqueçam o lírico em Alegre: ele propõe um "Laboratório da Língua Portuguesa". Só que também Cavaco, nunca desatento, jura que será, ele próprio, "O Incentivador da Língua Portuguesa". Praça da Canção 1 - Economia 1. Arrumada a poesia, Cavaco e Alegre pedem "formação", "qualificação" e até "requalificação". E justiça, claro, faltava a justiça. Tanta originalidade dói. Cavaco até chegou a explicar: para ele, o desenvolvimento é "desenvolvimento económico, social, cultural e ambiental". Extraordinário. Um cidadão acaba convencido e esmagado.
in Público, 06.12.2005
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