quinta-feira, dezembro 08, 2005

Agora, pela mesma razão de sempre

(Publicado na edição de 8 de Dezembro de 2005 do jornal POSTAL DO ALGARVE)

No próximo dia 22 de Janeiro, os portugueses são chamados a eleger o próximo Presidente da República, concluindo um ciclo eleitoral iniciado há dez meses com a eleição do Parlamento e que há dois meses incluiu as autarquias locais.

Ao longo deste ano, os portugueses deram provas de estar conscientes das dificuldades do País e demonstraram que acreditam em Portugal, confiando nas propostas de José Sócrates e concedendo uma maioria inédita ao Partido Socialista.

Passados oito meses, deram uma vitória folgada ao Partido Social Democrata nas eleições locais, optando por manter a maioria dos presidentes de câmara e afastando do poder aqueles que manifestamente não demonstraram a sua competência para gerir os destinos dos seus municípios. Salvo raras excepções que merecem uma análise mais aprofundada, os portugueses evidenciaram a sua maturidade política…

Graças a um acordo histórico entre as três estações televisivas, os principais candidatos vão ter oportunidade de debater os grandes temas nacionais, confrontar propostas e contribuir para esclarecer a opinião pública. O futuro de Portugal não pode ficar dependente de tabus encavacados nem pode iludir-se com silêncios premeditados!

O próximo Presidente da República deve ser capaz de escutar e unir os portugueses, de dinamizar a sua capacidade empreendedora e de partilhar com eles a sua confiança no futuro. Mais, nesta sociedade cada vez mais aberta, deve ser capaz de partilhar connosco as suas ideias de forma franca e frontal!

Mais do que ser uma contínua força de bloqueio, deve cumprir e fazer cumprir a Constituição, respeitando os princípios da separação dos poderes e zelando pelo regular funcionamento das instituições democráticas.

Na Europa e no Mundo, para enfrentar a crise económica e evitar uma crise social, Portugal precisa de um Presidente da República que defenda a estabilidade governativa, promova a solidariedade social e ajude a desenvolver o modelo social europeu sem prejudicar a nossa competitividade externa.

O Presidente da República deve ser uma referência nacional, isento e dialogante, e uma força mobilizadora das energias positivas de cada português, capaz de participar no combate ao pessimismo e à descrença!

Portugal de precisa de continuar a acreditar, de manter um rumo que permita recuperar terreno em relação aos seus parceiros da União Europeia e de consolidar o seu papel no mundo de forma aberta, humanista e generosa.

Portugal precisa de um Presidente da República que apoie o Governo nas grandes reformas em curso e que esteja atento aos mais desfavorecidos da sociedade, que vá ao encontro das necessidades e das expectativas dos portugueses sem ser demagógico.

Agora, pela mesma razão de sempre, vou votar em
Mário Soares e convido-vos a reflectirem profundamente sobre as implicações do vosso voto, nas suas consequências no futuro de Portugal!

1 comentário:

Anónimo disse...

O POETA E O CANDIDATO MANUEL ALEGRE

por Luís Ganhão *

Talvez sejamos injustos na apreciação que fazemos da candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, mas, ainda que se pretenda apresentar como um candidato genuíno, naquilo que a expressão comportará de alguém que, de facto, sente que pode e deve dar algo ao país no exercício da Chefia do Estado, não conseguimos, todavia, deixar de ver nele um candidato que só o é, apenas porque magoado com o partido a que há muito pertence, decide, despeitado, «acertar contas» com o mesmo…

Na verdade, não tendo sido Manuel Alegre, ao longo dos anos, um simples militante de base, mas um destacado dirigente do PS, orgulhando-se, como sempre gostou de evocar, das lutas pela democracia que com ele terá travado e onde se respiraria ampla liberdade, foi preciso chegar a candidato a secretário-geral do mesmo para, aparentemente, só então perceber que, afinal, essa liberdade não seria assim tão ampla, passando a queixar-se dum «aparelho» que controlaria e asfixiaria o partido em que militava, favorecendo um candidato (no caso, José Sócrates) em detrimento de outros ao cargo de secretário-geral…

Depois, quando (na sua versão dos factos) terá sido sondado por José Sócrates para, inicialmente, ser candidato à Presidência da República, não sentiu, conforme palavras suas recentes numa entrevista dada a uma rádio, grande entusiasmo nisso, para, agora, já o ter passado a sentir.

Ou seja, o sentir genuíno (e entusiasmado) de que pode e deve dar algo ao país, num período, sobretudo, de crise vivida, só agora se revelará, que não há meia dúzia de meses atrás, como se a crise só agora no país se tivesse instalado.

Ora, se estas «paixões», assim, repentinamente, surgidas, podem motivar boa poesia, na política, por vezes, fazem desconfiar…

Mas há mais:

Por muitos críticos que nos possamos mostrar em relação a uma certa decadência ética que se tem registado na vida político-partidária do nosso país, nunca poderemos, contudo, perder de vista que os partidos políticos continuam a ser o paradigma dum estado democrático.

Ora, que Cavaco Silva, populista (quem haveria de dizer!), se demarque dos partidos políticos como se estes tivessem «sarna», ao ponto de não querer ter por companhia na sua campanha eleitoral qualquer líder daqueles que se apressaram a apoiá-lo, não se estranhará (embora preocupe), ou um antigo seu ministro das finanças não o comparasse a um «eucalipto que tudo secará à sua volta…».

Agora, que o Manuel Alegre, militante partidário de grandes causas, procure afirmar a sua candidatura num exercício de «exorcismo» dos partidos políticos, quando dá um especial relevo à sua independência deles, ainda que diga que contra eles não se candidata, mas, apenas, em «oposição à lógica aparelhística que os afunilará e empobrece a democracia», é que já nos causa alguma perplexidade.

Que nos perdoe, pois, o Manuel Alegre que se admira enquanto poeta, se somos injustos na apreciação que dele fazemos enquanto candidato presidencial.

* Jurista

(in Região Sul, 2005.12.07)