sexta-feira, dezembro 09, 2005

Take 3 - Acusações e amuos...


Francamente, apesar de ter imposto este tipo pouco estimulante de debates, Cavaco Silva demonstrou hoje à saciedade que preferia mesmo que não houvessem debates nenhuns...

Com um "fair-play" que já é conhecido,
Cavaco amuou quando Francisco Louçã responsabilizou os seus governos pela crise actual do país e acusou os seus apoiantes de defenderem a liberalização dos despedimentos. E ele não sabe tudo...

Aborrecido com a acutilância dos moderadores e com um discurso demagógico, Cavaco continua a procurar aliciar os votos dos eleitores mais jovens, colocando em causa as reformas e os investimentos públicos e fugindo às respostas mais difíceis.

Pela sua parte, Francisco Louçã continuar a utilizar esta campanha para consolidar o eleitorado do Bloco e percebeu-se que tentou abalar a credibilidade económica de Cavaco, embora este fugisse às questões como o Diabo da cruz...

1 comentário:

Anónimo disse...

O CAPITÃO JUROU

por Vasco Pulido Valente

Quinta-feira, em Faro, Cavaco voltou à sua encarnação de "exímio demagogo", como antigamente lhe chamava o prof. Marcelo. Lembrando que Portugal "já foi um país de sucesso" e que nessa altura o comparavam à "Califórnia da Europa", Cavaco prometeu o próximo advento de um novo reino de leite e mel. De facto, nunca ninguém nos comparou à "Califórnia da Europa". Existia, sim, em 87, um bando de palermas que dissertava, muito a sério, sobre o futuro "modelo português": devia Portugal ser a Florida ou a Califórnia da Europa? Ser a Florida era ser um asilo para reformados ricos, pelo menos no Sul, à conta do golfe, do sol e do peixe fresco. Ser a Califórnia era explorar o privilegiado cérebro do indígena, de maneira a que aparecesse a cada canto um Silicon Valley. Nada disto, como se calculará, faz qualquer sentido. Mas ficou na cabeça do dr. Cavaco, que hoje nos torna a servir tranquilamente essa grotesca propaganda. Por falta de seriedade ou de informação?
Em Faro, o dr. Cavaco também retoricamente perguntou se há "alguma razão para que em Portugal o crescimento económico seja zero" e "em Espanha mais de 3 por cento", quando a "envolvente internacional" é a mesma e tanto Portugal como a Espanha "suportam a mesma conjuntura". O primeiro economista não inteiramente iletrado poderia explicar ao dr. Cavaco as mil e uma razões dessa diferença. Falando só da Espanha e só a título de exemplo: a dimensão do território e do mercado, a população, a industrialização da Catalunha e do País Basco no século XIX, a presença no Mediterrâneo e na América Latina, o peso na "Europa", o policentrismo, a vitalidade das regiões (até durante a Ditadura), a política do franquismo a partir de 1960, a natureza do actual Estado democrático e a política do PSOE e do PP que durante anos preferiram o desemprego (e um desemprego altíssimo) a tentar salvar o que já estava morto. O dr. Cavaco ignora ou não ignora esta evidência? Falta de seriedade ou de informação?
Uma coisa é certa: a megalomania manda. Para Cavaco, Portugal precisa urgentemente de Cavaco. Em Belém, Cavaco acabará com a instabilidade (que instabilidade?) e ajudará a fixar "um rumo". "Um rumo certo", claro: nem ele jamais fixaria um rumo errado. E daí em diante, basta que toda a gente se ponha a remar como lhe compete. Terras de Espanha e a areia de ouro da Califórnia esperam por nós. O capitão jurou.

(in Público, 2005.12.10)