domingo, outubro 05, 2008

Os nossos senadores


Volta e meia, os portugueses beneficiam do contributo de alguns dos mais ilustres senadores da República, especialmente benvindos quando as horas são de aperto e incerteza...

Felizmente, Portugal pode contar com um conjunto de personalidades que, pelo seu conhecimento, experiência de vida e visão do Mundo, contribuem de forma muito positiva para a construção da nossa identidade e reforço do nosso sentimento de pertença nacional. Pessoas que, independentemente da sua postura ideológica ou posicionamento político, merecem a nossa atenção e cujas ideias e opiniões devem ser sempre consideradas!

Neste dia, em que comemoramos a implantanção da República, fomos contemplados com a entrevista de Eduardo Lourenço, o mais importante dos pensadores portugueses, que podemos ver ontem na
Dois, ouvir na Renascença ou ler hoje nas páginas do Público, que infelizmente não disponibiliza a entrevista na edição online. Para consulta imediata e memória futura!

2 comentários:

Anónimo disse...

"Não sou apologista das guerras de civilizações, mas elas existem"

In Público, 05.10.2008, Por José Manuel Fernandes e Graça Franco (RR) Fotos Daniel Rocha

Amanhã, por iniciativa do Centro Nacional de Cultura, intelectuais de vários países reúnem-se para discutir a vida e a obra de Eduardo Lourenço

Chega apressado. Tinha ainda de arguir numas provas de doutoramento sobre Montaigne e de viajar até à sua aldeia natal, São Pedro de Rio Seco, entre Vilar Formoso e Almeida. Enérgico, não fugiu às questões, antes as transformou, com frequência, em desafios. Com 85 anos de vida e 65 de produção filosófica e literária, o mais importante pensador português das últimas décadas. mantém intacta a sua heterodoxia e a capacidade de nos desafiar.

No Labirinto da Saudade escreveu que "citar um autor nacional contemporâneo, um amigo ou inimigo, é entre nós uma raridade ou uma excentricidade. A referência é estrangeira". Neste congresso teremos três dezenas de intelectuais portugueses dispostos a citá-lo e a homenageá-lo. Isso será porque, mesmo sendo português, é um estrangeirado?
Eu recuso a palavra estrangeirado, mas talvez possa usar a de expatriado. Estrangeirado é um termo que em Portugal tem uma leitura pejorativa. O estrangeirado é o antipatriota e não quero essas disputas. Sou português e basta-me.

O antipatriota ou o iluminado?
Os iluminados foram poucos na sua época e alguns também foram vistos como traidores, e até o foram mesmo quando os franceses nos invadiram. Não me quero definir dessa forma. Mas, regressando à citação do Labirinto, a verdade é que essa espécie de ofuscação que tínhamos pela referência estrangeira, sobretudo a francesa, já não é a mesma. Hoje temos mais atenção ao que se passa no nosso país e isso é, em si mesmo, um bem.

Mas não foi por causa da atracção pelas referências estrangeiras que se mudou para França?
Fui por curiosidade...

Vive lá desde 1949, não voltou ...
Aqui entra um romance. Nesse mesmo ano conheci a minha futura mulher e comecei uma nova história de vida.

Já tem dito que hoje se escuta pouco os intelectuais. Numa entrevista do PÚBLICO lamentou mesmo que se não ouvisse o que Bento XVI, como intelectual tem para dizer, mas se desse toda a atenção a uma estrela de Hollywood. Sente que não o escutam, que escutam mais depressa o George Clooney?
Também não gosto de me ver com o título de intelectual, que comparo ao de estrangeirado. É como se fosse um ser à parte com o privilégio da cultura e da inteligência, alguém que tem de funcionar como uma espécie de má consciência da sociedade na esteira do exemplo de Émile Zola no famoso "caso Dreyfus". Espera-se que seja do contra, encarnando um papel crítico permanente.

Hoje há menor abertura para os ouvir?
Não sei. O que acontece é que hoje a crítica pública já não está concentrada nessa classe particular a que chamávamos "intelectuais". O intelectual fica como uma espécie de reserva elitista da cultura, e eu recuso esse tipo de imagem.

É para tentar chegar a uma audiência maior que dá títulos pouco comuns às suas obras, como O Fascismo Nunca Existiu, ou O Labirinto da Saudade, ou o do seu último livro, As Saias de Elvira? Não se espera que aos 80 anos se fala das saias de uma mulher...
Porque não? O título até é do Eça de Queirós, que achava que existiam coisas mais importante do que as saias de Elvira. Mas ele talvez não tivesse razão, pois um dos ícones maiores do século XX são as saias de uma mulher, as saias de Marilyn.

Esses títulos têm então uma componente de provocação para abanar um país das águas mansas?
Um título é o mínimo de publicidade que um autor consegue fazer ao seu livro, sobretudo um autor que vende pouco, como eu. Por isso, quando publiquei um livrinho até um bocado complexo e lhe dei o título de O Esplendor do Caos, até fiquei surpreendido com o sucesso. Foi o título, que fazer títulos é a minha grande especialidade.

Escreveu que "nenhuma barca europeia está mais carregada de passado do que a nossa", mas que, ao mesmo tempo, a nossa elite está obcecada com o presente e muito pouco preocupada com o que já fez. Como é possível conjugar estas duas realidades?
A fixação no nosso passado é muito de tipo onírico. Mesmo as pessoas menos ilustradas têm impressa a marca do que fomos. Vejam os portugueses emigrados. Na zona onde vivo, Vence, onde os portugueses vieram quase todos da zona de Espinho, quando fazem as suas festas recorrem sempre à simbologia das caravelas. A nossa imagem de marca lá fora ainda é essa, a de gente que descobriu uma parte do mundo. Isso aprende-se na escola, transmite-se oralmente, e ser português é ser o antigo descobridor. E como não temos presente à altura desse tipo de façanhas - nem barcos temos... -, temos imaginação.

Isso significa que os portugueses perderam no presente o direito a esse passado?
Não, porque a função do presente é reciclar todos os tempos. Revisitamo-lo. E hoje até vivemos na ficção, e não só na portuguesa, um tempo de revivalismo, de regressos a tempos históricos reais ou mesmo míticos. Isto é sinal de uma certa fuga ao presente.

Quando fala em revivalismo fala no sentido da saudade ou da procura de encontrar as raízes para partir para outro futuro?
É um revivalismo futurante. Esta é uma das características da civilização europeia, que se revisita constantemente. Desde Petrarca que a Europa quer reviver o seu passado, quer estar nesse tempo mítico que é o do Império Romano. Daí nasceu o Renascimento.
Mas depois do ciclo do Renascimento, a Europa parte para o seu ciclo colonial, imperial. Contudo, no século XX, com as duas guerras, a Europa suicidou-se, como também já notou.

Agora que entrámos noutro ciclo, nomeadamente com a UE, será que a Europa se reencontrou?
A Europa ainda está a sarar as feridas, as dores das guerras mundiais. Mas o grande problema é que a Europa era e é constituída por nações, e cada uma delas se sente Europa. A Europa não existe a não ser no sentido geográfico do termo, ou então como projecto de algo que nunca existiu. É um projecto extraordinário, mas que neste momento está paralisado.

Não recomeçou a andar com a aprovação do Tratado de Lisboa?
A opinião pública dos países mais importantes não tem nenhum entusiasmo por esse projecto. Vai ser levado por diante, estou certo, até porque se isso não acontecer ficaremos como que entre duas águas.

Isso deve-se ao facto de a Europa, como também já notou, serem duas Europas, a do Norte protestante e a do Sul católico?
O maior acontecimento cultural da modernidade europeia foi a revolução protestante que dividiu a Europa em dois blocos. Essa linha continua a passar pelo interior da Europa, a dividi-la. São duas Europas, pois não devemos esquecer que as maiores divisões que há dentro das nações são do tipo religioso.

E, na Europa, já temos países de matriz cristã ortodoxa e podemos vir a ter países muçulmanos, para já não falar da importância das minorias muçulmanas em muitos países europeus...
Para mim esse problema, o das minorias muçulmanas, é o principal problema do futuro da construção europeia. Ainda não é muito visível, porque são uma minoria, mas a questão é como poderemos resolver, antes da Europa se afirmar em todas as suas dimensões, o problema de relacionamento com uma civilização com a qual, historicamente, sempre nos confrontámos. Não sou apologista das guerras de civilizações, mas elas existem.

Por causa das dificuldades de integração?
Naturalmente. As minorias muçulmanas confrontam a Europa com problemas que ela julgava ultrapassados, em especial problemas religiosos, problemas de convivência com práticas religiosas que condicionam os comportamentos e a cultura.

Isso põe em causa um futuro de integração e compreensão?
A Europa é, até pela geografia, um espaço aberto, o problema é que não sabemos se os espaços com que nos confrontamos têm uma mesma compreensão da nossa abertura. Se somos permeáveis aos outros, a verdade é que há espaços que estão fechados e que não querem abrir-se.

A sua visão é um pouco pessimista...
Não sou um escritor muito optimista.

Contudo, atravessou um século de grandes ilusões optimistas, de grandes sonhos que se pensavam ao alcance da mão. Hoje vivemos tempos onde domina o cepticismo, a sensação de crise e de desilusão. Sente-o?
Olho e observo o que se passa. Quando se atravessou épocas tão terríficas como a da II Guerra Mundial e da divisão da Europa, quando caiu o Muro de Berlim acreditou-se que se abriria um espaço de convívio entre os povos e não foi isso que aconteceu. Vivemos hoje tempos melhores do que os que conhecemos no nosso passado recente, e só quem não passou por eles pode desvalorizar esta evolução. Não podemos ser tão pessimistas, talvez tenhamos de reconhecer que os intelectuais, e eu também, sofrem por vezes de um excesso de espírito sonhador, até com uma carga utópica. Depois desiludimo-nos porque a realidade não desaparece e está onde está para nos tirar as ilusões.

Acha que o período entre a queda do Muro e o 11 de Setembro foi uma espécie de época dourada a que pelos menos nós, no mundo ocidental, dificilmente regressaremos?
Não há dúvida que há contraste com a euforia que nós, europeus, sentimos depois da queda do Muro de Berlim. O que não podíamos supor era que, nos primeiros anos deste século, iam aparecer problemas que estavam latentes, que não eram evidentes, e que provocaram uma mudança de atmosfera. Ora, o que aconteceu cria a surpresa de poder ser falsa a ideia, que nos vinha do século XVIII, de um progresso contínuo, mesmo que com intermitências. Fomos confrontados com um outro mundo que julgávamos que já não existia. Foi isso o 11 de Setembro, essa espécie de apocalipse virtual. Entrámos numa zona de tempestades onde nos confrontamos com crises como a que hoje vivemos e que há dez ou vinte anos julgaríamos impossíveis de acontecerem. A nossa surpresa também deriva de estarmos habituados a ver o mundo de acordo com os parâmetros do modelo europeu, um modelo que fomos nós, portugueses, sem o saber, que começámos a difundir, e depois vimos como universal. Já o Fernando Pessoa dizia, "a Europa está em toda a parte". Só que essa "toda a parte" não é a Europa nossa, pelo que o triunfo do nosso modelo não foi tão absoluto como imaginávamos, sobretudo no domínio dos valores e dos comportamentos. Outras culturas foram resistindo e hoje estamos confrontados com os desafios que nos colocam.

E qual é o maior dos desafios que enfrentamos?
O do mundo islâmico.

Maior do que o do mundo chinês?
Absolutamente. A China, embora seja essa nação-continente absolutamente extraordinária com os seus quatro mil anos de existência, imóvel mesmo quando evolui, a verdade é que soube ir apropriando-se dos meios que os europeus lhe levaram.

A China mantém a sua identidade incorporando o que as outras civilizações lhe levaram, o mundo islâmico parece recusar essas contribuições. Quase não se traduzem livros para árabe...
É verdade e isso resulta do que é hoje a cultura islâmica, que não foi sempre assim. Na Idade Média era uma grande cultura a que os europeus foram beber muito, pois tinham preservado o legado clássico da Antiguidade melhor do que na Europa. O problema é que depois ocorreu uma autoguetização, um corte, e não podíamos imaginar que ia ser o Islão a desafiar o processo de laicização acelerada das sociedades europeias. Recolocaram o religioso como uma dificuldade política. Não por a identidade das religiões enfrentar o Estado, mas por essa religião em concreto ser uma política. E o Islão sabe muito bem que a crença forte, integral e integrista das suas comunidades é uma força política. E até uma força estética. Algo que perdemos há muito.

Isso pode levar a Europa a repensar a laicidade tal como a tem entendido?
Já está a acontecer, mesmo que possamos considerar um pouco demagógica a fórmula da "laicidade positiva" inventada por Sarkozy. Pode ser uma maneira de recuperar uma das formas da identidade europeia, que sempre foi o religioso. Se algo caracteriza a inquietude europeia desde o tempo dos gregos é a interrogação contínua sobre o absoluto, uma preocupação de ordem filosófico-religiosa e não uma indiferença. Ora, porventura isso está a ser posto em causa pela desertificação religiosa na Europa, que não é igual em todos os países, mas que alguns já vêem como revelando o domínio de uma sociedade ateísta. Devíamos ter presente que, por regra, a primeira expressão da Humanidade em cada país é uma expressão do religioso.

Escreveu, por ocasião da Expo, que o essencial para Portugal era aceitar a sua imperfeição, "a nossa maravilhosa imperfeição". Porquê?
Porque somos um povo entre os povos, não somos o centro do mundo. Já Camões se tinha apercebido de que éramos uma espécie de milagre...

Esse milagre não nos prende ao passado?
Esse milagre é uma coisa que nos enlouqueceu. Mas todos precisamos de loucura para suportar a vida. Não temos é necessidade de querer estar sempre nas primeiras páginas do mundo.

Colóquio internacional

85 anos do pensador assinalados na Gulbenkian

Começa amanhã, na Fundação Gulbenkian, um colóquio internacional sobre Eduardo Lourenço, promovido por iniciativa do Centro Nacional de Cultura (CNC) a pretexto dos 85 anos do autor. Durante dois dias ouvir-se-ão comunicações de cerca de 40 investigadores, e ainda, a encerrar, os testemunhos pessoais de figuras como José Saramago, Bénard da Costa, Maria Helena Rocha Pereira ou Manuel Alegre. O colóquio está dividido em sete painéis temáticos, que mostram bem a diversidade de disciplinas e tópicos que a obra de Lourenço vem sondando e iluminando, da história à filosofia, da teoria política à crítica literária, não esquecendo as suas reflexões em torno da cultura portuguesa ou a sua visão da Europa. Após a sessão de abertura, com a presença do ministro da Cultura e do presidente da AR, os trabalhos iniciam-se, amanhã de manhã, com o painel Europa e História, moderado por Rui Alarcão, no qual colaborarão Dulce Martinho, João Tiago Pedroso de Lima, José Eduardo Franco e Mendo de Castro Henriques. Entre os muitos oradores que participarão nos painéis seguintes contam-se autores de livros sobre Lourenço, como Maria Manuela Baptista, Manuela Cruzeiro ou Miguel Real, a par de ensaístas portugueses e estrangeiros de diversas áreas disciplinares. Está ainda prevista a presença do romancista António Lobo Antunes, que falará no painel dedicado à crítica literária.

Anónimo disse...

NÓS E A EUROPA

in Diário de Notícias, 2008.10.08, por Vasco Graça Moura (Escritor e eurodeputado do PSD/PPD)

Foi nos idos de 1987, salvo erro no mês de Outubro. Em Genebra, no Centre Européen de la Culture, ao tempo ainda dirigido por Jacques Freymond, realizava-se um colóquio sobre Portugal, a cultura portuguesa e as nossas relações com a Europa. Fundado por Denis de Rougemont, o CEC tinha sido profundamente marcado pelo seu pensamento federalista, mas essa questão, naquela altura, ainda não se inscrevia propriamente no quadro das preocupações imediatas dos participantes portugueses no colóquio. A adesão de Portugal à CEE era muito recente e ali o que era importante era dar a conhecer algumas linhas caracterizadoras da tradição europeia do nosso país, algumas notas relevantes sobre a nossa cultura, algumas ideias sobre aquilo que Portugal esperava da Europa e sobre aquilo que poderia trazer-lhe, a pessoas que sabiam muito pouco a nosso respeito mas estavam profundamente interessadas na construção europeia.

Ao fim da tarde, durante a recepção de encerramento, Alison, a mulher de Gérard de Puymège, então secretário-geral do CEC, em conversa comigo perguntou-me se tínhamos algum ensaísta realmente importante em Portugal. Disse- -lhe que o maior ensaísta português se encontrava ali, entre nós, e apontei para o Eduardo Lourenço, que falava com outras pessoas no outro lado da sala. Na expressão da minha interlocutora perpassou um ar dubitativo, como se pensasse que isso seria coincidência a mais, ou que eu estaria a exagerar, ou apenas a tentar impressioná-la.

Felizmente, ia a passar José Blanco, que dera o imprescindível apoio da Fundação Calouste Gulbenkian à realização daquele colóquio. Chamei-o e pedi-lhe que dissesse à nossa amiga quem era o maior ensaísta português. O Zé Blanco ergueu as sobrancelhas quase até à vertical, como se eu estivesse a fazer-lhe uma pergunta perfeitamente idiota, de tão óbvia que era a resposta, e exclamou: "O maior ensaísta português? Mas ele está aqui... é o Eduardo Lourenço!..."

Foi então que Alison falou do prémio Charles Veillon, destinado a galardoar anualmente a obra de um autor europeu que representasse um contributo relevante para o aprofundamento da temática e da problemática da construção europeia. E perguntou se Eduardo tinha escrito ensaios sobre a Europa e, nesse caso, se eles estavam publicados em livro, de modo a poder concorrer ao prémio. Confirmei ser ele autor de vários ensaios importantes sobre a Europa e, quanto ao livro, arrisquei e garanti que iria sair em breve na Imprensa Nacional - Casa da Moeda, de que eu era administrador. E fiquei de lhe fazer sinal, de modo a poder-se apresentar a candidatura de Eduardo Lourenço logo que a edição estivesse pronta. Depois, e embora não tenha sido difícil persuadir o Eduardo a reunir em livro os seus textos sobre a Europa, a primeira dificuldade foi levá-lo a concretizar esse projecto, repescando e ordenando os textos e fazendo-os chegar à IN-CM. Havia coisas que não estavam dactilografadas, outras, o próprio autor teria de procurá-las nos seus papéis, outras ainda teriam de ser revistas ou reescritas. Quando, aflito por ver passar o tempo, eu lhe telefonava para Vence, Eduardo dizia que sim, claro que sim, e prometia andar o mais depressa que pudesse, mas o seu desprendimento era muito grande e ainda era maior o dispersivo labirinto dos compromissos que ele já então assumia generosamente, correspondendo às múltiplas solicitações que lhe estavam sempre a chegar. O problema seguinte, talvez ainda mais complicado do que o primeiro, foi levá-lo a corrigir e devolver as provas a tempo e horas...

Felizmente tudo se resolveu e o livro, Nós e a Europa, ficou pronto e foi enviado para Genebra dentro do prazo previsto para se assegurar a candidatura, vindo a ser distinguido com o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon em 1988.

Há portanto 20 anos que Eduardo Lourenço faz parte de uma galeria em que encontramos Edgar Morin, Roger Caillois, Leslek Kolakowsky, Norberto Bobbio, Timothy Garton-Ash e Giorgio Agamben, entre muitos outros grandes vultos do pensamento europeu contemporâneo. E poucos como ele terão sabido analisar tão a fundo essa entranhada, mas contraditória, nem sempre bem compreendida e por vezes exasperante relação que há entre... nós e a Europa.