terça-feira, março 21, 2006

No Dia Mundial da Poesia...


Terá a palavra o poder de abolir e de inaugurar?

Será ela a corrente viva do mundo elementar?

e na sua violência verde será pacífica como uma caligrafia de água?

Será o acaso que a gera ou a implacável lógica

dos silogismos mentais ou será o espaço inesperado

que transforma o arbitrário em necessidade livre?

Nós não conhecemos o rumo das palavras mas o seu rumo

é o do pensamento ainda que entre sombras oscile

e no seu movimento circula o fogo que vai além das palavras

e ilumina o breve espaço do instante

em que vogam sortilégios talismãs minúcias preciosas

E é essa insignificância que na verdura se conjuga

com o vazio do ser que o poema habita

António Ramos Rosa, in Deambulações Oblíquas (2001)

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