quarta-feira, novembro 05, 2008

Change has come to... World!


Uma afluência recorde às urnas de 66 por cento traduzindo uma insuperável vontade de mudança só podia dar num resultado histórico...


Como José Sócrates expressou na mensagem dirigida a Barack Obama, a sua candidatura e a extraordinária vitória «representa também a possibilidade de um novo ciclo de relacionamento entre os Estados Unidos e a Europa ao serviço da paz, da cooperação entre os povos e de uma globalização mais justa e regulada».

Barack Obama entrou hoje para a história ao vencer as eleições e tornar-se no primeiro negro a alcançar o cargo de Presidente dos Estados Unidos da América. Os democratas alargaram ainda as suas maiorias no Senado e na Câmara dos Representantes. O senador do Illinois toma posse a 20 de Janeiro de 2009. Agora, é tempo de reconstruir a Grande Aliança da Democracia, da Liberdade e da Paz!

PS - Apesar de estar longe, não posso deixar de partilhar convosco a última mensagem que recebi do futuro Presidente dos Estados Unidos da América. Em 2008, voltei a repetir a experiência de 2000, aproveitando as novas tecnologias e participando activamente no processo eleitoral. Desta vez, a coisa correu melhor, muito melhor. Barack, nós é que agradecemos por nos devolveres a esperança num mundo melhor!

"Jose,

I'm about to head to Grant Park to talk to everyone gathered there, but I wanted to write to you first.

We just made history.

And I don't want you to forget how we did it.

You made history every single day during this campaign -- every day you knocked on doors, made a donation, or talked to your family, friends, and neighbors about why you believe it's time for change.

I want to thank all of you who gave your time, talent, and passion to this campaign.

We have a lot of work to do to get our country back on track, and I'll be in touch soon about what comes next.

But I want to be very clear about one thing...

All of this happened because of you.

Thank you,

Barack"

5 comentários:

Anónimo disse...

Para informações e análises mais detalhadas, pode consultar o Observatório do Instituto Transatlântico Democrático sobre as eleições Presidenciais Norte-Americanas de 2008!

Anónimo disse...

Onde vais tu, Obama?

por Mário Lino, in OBSERVATÓRIO DO ALGARVE, 06-11-2008

Que é um marco histórico, sem dúvida. Que juntou um apoio mundial sem precedentes, sim senhor. Mas o que trará de verdadeiramente bom a eleição de um semi-negro (que é também semi-branco) ao mundo, o que o distinguirá de tantos outros presidentes que o precederam, aos comandos dos Estados Unidos da América? E quem são verdadeiramente os americanos que representa?

Há um provérbio antigo que diz “Não se pode agradar a gregos e a troianos”. Parece que Barack Obama se empenhou em mostrar o contrário. O problema é que, para agradar a uns e outros, vamos parar a outra pérola da sabedoria ancestral, o provérbio “Nem é carne, nem é peixe”.

Na verdade, ninguém sabe bem ainda qual o rumo que a “nova” América vai seguir, com a energia entusiástica de Obama, e essa deve ser a nossa principal preocupação.

A América é como um grande navio a vapor, e o capitão Obama acaba de dar ordens às caldeiras para que lhe dêem a potência máxima.

Quando o vapor se formar, o grande e pesado motor americano entrará em velocidade de cruzeiro, mas é preciso definir um rumo mais certo do que o “Vamos combater aqueles que não querem a Paz no mundo”.

É que para defensores da Paz, são mais os candidatos do que ao prémio Nobel, o problema é que para chegar à Paz, é claro, muitas vezes é preciso a guerra.

Para já, apenas sabemos que Obama continuará a declarar guerra aos terroristas. Nada mais. E isso já Bush tinha feito. Será que vai substituir o “eixo do mal” (Afeganistão, Síria, Irão, Coreia do Norte) por outros protagonistas? É que, ao bom estilo de Hollywood, também a política norte-americana precisa sempre de um bom argumento, não político, mas de cinema. É preciso um “mau da fita”, um herói e uma missão. Ora, neste caso o herói já foi escolhido e a missão (“Yes, we can”) também. Mas depois de George W. Bush ter acabado com o mau do Saddam, por causa das tais armas que depois ninguém encontrou, e sobretudo depois da desagregação da ex-URSS, restam-lhe os terroristas afegãos que foram treinados pelos americanos para combater os russos, o que, convenhamos não preenche bem o papel do vilão.

Talvez se juntarmos aos eternos candidatos a China ou o “ditador do povo” da Venezuela, a coisa se venha a compor. Ou talvez Obama não vá por aí.

Estas coisas da política, são precisamente como Barack Obama: não são nem pretas, nem brancas.

Ah, já me ia esquecendo! Adeus, George! Portaste-te muito bem, e como compensação decidi oferecer-te umas férias numa ilha paradisíaca, em Cuba. Quando lá chegares pergunta por Guantánamo, onde terás serviço VIP. Abracinhos.

Anónimo disse...

A CASA BRANCA

por Adriano Moreira (Professor universitário), in DN, 2008.11.11

Conta-se que Lincoln, encontrando a autora de A Cabana do Pai Tomás, Harriet Beecher Stowe, a interpelou como sendo a responsável pela guerra civil que enfrentara. Esta guerra não foi suficiente para que os mitos raciais desaparecessem, como se a imprudente conclusão de Aristóteles, no sentido de que alguns seres humanos nascem para obedecer e servir, e outros para mandar, permanecesse como premissa inviolável. O trajecto de Luther King e a sua consagração pelo martírio não deixaram ainda ver a Casa Branca. Quando Philip Roth, ao lado da sua luta pela igualdade dos judeus, escreveu A Mancha Humana, descrevia, já próximo da viragem do milénio, a persistência do passing: tratava-se de os mestiços claros entrarem para a sociedade branca, escondendo a ascendência e mantendo secreta a ligação com parentes. Textos da obra de Sinclair Lewis lidam com esta situação. E, todavia, também da América vieram intervenções luminosas no sentido de finalmente inscrever, no ideário mundial, a convicção de "Um só mundo - uma só espécie humana", linha em que se inscreveu Wendell Willkie (1892-1944), o republicano vencido por Franklin D. Roosevelt, em 1940, mas que, como embaixador itinerante do vencedor, foi ao encontro das civilizações diferentes, para reconhecer em Um só Mundo (1943), a urgência de organizar a governança do globalismo, segundo pregação dos que Maritain chamou os heróis da vida moral. A persistência, na vida internacional, do conceito que tratava os povos submetidos como a cera mole que o colonizador moldaria, demorou a eliminação das barreiras que ainda haviam de levar a identificar, no século XX, os povos tratados como mudos, os povos tratados como dispensáveis. Nesta viragem do milénio, em que o desastre do globalismo atinge em cadeia o mundo único de que falou Willkie, o regresso a uma restaurada autenticidade, a reimplantação da confiança quer na sociedade civil quer na relação desta com o poder político, certamente não dispensa instituições: mas também transfere a esperança para lideranças de novos inspiradores da luta contra a decadência ocidental, de americanos e europeus, progressivamente alarmante. Por muito que alguma arrogância, também descabida, faça com que a fundada crítica às derivas unilateralistas dos republicanos seja acompanhada pela displicência em relação aos EUA, parece de primeira evidência que a reorganização da ordem mundial, o regresso aos princípios e às solidariedades, a recuperação do poder e da autoridade em que uma nova governança possa repousar, não são objectivos viáveis sem que o povo americano corrija os desvios, e retome a participação confiável e participada na gestão do sistema global restaurado. Foi esta a leitura, cheia de esperança, da mensagem de Barack Obama, a caminho da Presidência dos EUA, superando as barreiras étnicas, discursando para os americanos, e não para as minorias, dirigindo-se ao mundo único do republicano Wendell Willkie, falando do futuro da humanidade e não apenas de nação indispensável dos unilateralistas, pondo o diálogo antes da intimação, e a paz antes da guerra. Fazendo entender ao mundo que sabe que a guerra consome diariamente recursos, vidas, vontades e esperanças, um acervo de recursos que permitiria enfrentar com êxito todos os Objectivos do Milénio. A experiência ensina que esta luz, que os carismáticos acendem, vai moderando o clarão ao mesmo tempo que dão passos para o interior das sedes em que o poder medita e decide. O discurso da Casa Branca vai obrigar a medir a distância entre o sonho e o possível. O realismo aconselha a preservar íntegra a esperança, com apoio na experiência que espera pela diferença. O interesse ocidental, e também global, é ajudar na mudança com a mesma autenticidade com que sustentou a crítica.

Anónimo disse...

A GRANDE VITÓRIA

por Mário Soares, in DN, 2008.11.11

Como se esperava, a vitória de Barack Hussein Obama provocou uma explosão de alegria na América e foi recebida com evidente satisfação em todo o mundo. Foi um fenómeno de mobilização da juventude, nunca visto nas eleições presidenciais americanas. E das minorias que o apoiaram militantemente: negras, hispânicas, asiáticas, árabes, homossexuais - mas também com larga participação de mulheres e de homens brancos, velhos e novos, pobres e ricos, intelectuais, cientistas, artistas, universitários, técnicos, desempregados e sem-abrigo -, mobilizados pelo carisma de um homem de 47 anos, negro, com uma formação superior e com duas ideias-chave, que repetiu à saciedade: mudança e esperança num mundo melhor.

Todos perceberam que era o homem certo no momento certo.

Foi também um colossal voto de protesto, contra oito anos de uma política externa agressiva, responsável por duas cruentas guerras, excepcionalmente violentas, alimentadas por mentiras e por inconfessáveis interesses, pela arrogância do poder e pelo desrespeito pelos direitos humanos.

Por políticas internas desastrosas, descuidadas das questões sociais e ambientais e dos valores do pioneirismo americano, tendo como única preocupação aumentar o poder do dinheiro nas mãos dos mais poderosos.

Políticas que conduziram os Estados Unidos - e o mundo - à pior crise financeira e económica que se conhece, desacreditando para sempre, esperemos, a ideologia que as orientou: o neoconservadorismo ou o neoliberalismo financeiro-especulativo (não confundir com o capitalismo assente em economias reais e não num sistema financeiro virtual).

Foi ainda a vitória da democracia americana, que, desta vez, funcionou sem fraudes administrativas ou outras.

Aliás, o candidato derrotado, John McCain, teve a dignidade e a coragem, em tempo recorde, de reconhecer a derrota - ele, que se bateu como um leão, diga--se -, felicitando o seu adversário e pedindo à multidão inconformada que o ouvia para aceitar, democraticamente, a derrota e considerar o Presidente eleito, Barack Obama, como "o Presidente de todos os americanos".

Tudo mudou.

Agora a mudança radical vai tornar-se possível, bem como o renascer da esperança e da confiança.

Embora o futuro seja incerto, dado as múltiplas crises actuais - financeira, económica, energética, alimentar, ambiental e político-moral - serem difíceis de vencer. Como o próprio Presidente eleito preveniu logo, no seu primeiro discurso: "Levam, seguramente, bastante tempo a vencer." Mas nós - americanos - "Sim, podemos", insistiu... E citou três dos mais terríveis desafios: "As guerras, um planeta em perigo, a crise", por esta ordem.

A verdade é que a vitória de Obama abre a porta a um mundo novo e não só à América do Norte. O pessoal político americano foi profundamente renovado. Obama elegeu 364 grandes eleitores, contra 163 de McCain (mas faltam escrutinar os mandatos do Missuri). Para a Câmara dos Representantes, os democratas elegeram 255 representantes e os republicanos, 174 e, para o Senado, os democratas elegeram 57 senadores, enquanto os republicanos, 40. Uma vitória histórica e em toda a linha - que dividiu o eleitorado republicano e os seus representantes eleitos, que levarão bastante tempo a recompor-se...

Alguém disse que a implosão pacífica e eleitoral dos Estados Unidos - que contagiou o mundo - lembra a implosão da União Soviética, no tempo de Gorbachev, e das chamadas democracias populares, igualmente pacífica, em 1989-1991, com o milagre da queda do Muro de Berlim e da Cortina de Ferro, que mudou o sentido da História e destruiu a ideologia do comunismo totalitário.

A grande viragem eleitoral americana desacreditou igualmente a ideologia neoliberal e a chamada "democracia liberal", que Bush procurou impor ao mundo.

Entramos agora numa nova fase. O mundo tornou-se multilateral e o hegemonismo americano arrogante vai desaparecer. É preciso ter isso em conta. Como o multiculturalismo e o multirracismo.

O mundo é cada vez mais um só. O que implica uma atenção especial à reestruturação das Nações Unidas, como o grande fautor de paz e de concertação e deve avançar para um esboço de governança mundial. Não um "directório dos grandes Estados", mas onde os Estados pequenos, democraticamente, possam também sentir-se representados.

A crise revelou a ineficácia das organizações financeiras internacionais submetidas à vontade da hegemonia imperial americana. Há hoje um coro unânime para condenar essas organizações internacionais - o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a própria Organização Mundial de Comércio -, que não previram nada, não fiscalizaram as gravíssimas imoralidades e ilegalidades dos bancos e seguradoras, não avisaram os governos, não aconselharam quaisquer medidas para tentar evitar uma crise global, que estava anunciada há seguramente mais de um ano.

É preciso remodelá-las, reestruturá-las, democratizá-las e integrá-las no sistema das Nações Unidas.

E julgar e punir os responsáveis e coniventes da grande incúria, não só no plano internacional, mas a nível dos Estados nacionais, bancos centrais, organismos de fiscalização e controlo, bancos, seguradoras, especuladores imobiliários e mesmo alguns governos.

Diga-se que a União Europeia tem imensas responsabilidades: deixou-se contaminar - para não dizer "colonizar" - pelo "pensamento único" americano, quando não foram cúmplices activos do sistema: como Blair, Aznar, Berlusconi e Durão Barroso. Não devemos esquecer - nesta hora - a Cimeira dos Açores, que dividiu a Europa, deu luz verde a Bush para atacar o Iraque, sem o aval das Nações Unidas, o que está na origem de todos os abusos que se lhe seguiram.

Deixemos, contudo, esse passado recente, à história e à justiça, e voltemo-nos, resolutamente, para o futuro: para o que aí vem e que não muda com uma eleição, por mais importante que seja. É preciso atacar a crise que gravemente nos afecta e continuará a afectar durante todo o ano de 2009. Pelo menos.

Sejamos realistas. Não é Barack Obama que vai resolver uma crise tão complexa. Não tem uma varinha mágica para mudar as coisas.

Os remédios que até agora foram postos em marcha para sossegar os mercados não resolvem o problema. Podem tranquilizar, de momento, os especuladores e branquear os principais culpados dela. Para a resolver são necessárias medias estruturais - e grandes mudanças, mesmo de mentalidades - que levam o seu tempo.

Obama não perdeu um segundo. Dois dias depois das eleições deu uma conferência de imprensa e pôs os pontos nos is.

Até 20 de Janeiro, praticamente dois meses, incluindo o Natal, o Presidente em funções é ainda George W. Bush. Obama será obviamente informado, mas não vai comprometer-se com nada.

Foi convidado para essa estranha e inoportuna Conferência dos 20 - iniciativa de Sarkozy, amigo de Bush, para dar relevo à sua presidência europeia, que termina no fim de Dezembro - mas creio bem que Obama não vai cair na armadilha que lhe estendem.

Vai ouvir - o que poderá ser útil -, mas não falar ou, muito menos, comprometer- -se. Espero...

Anónimo disse...

A resposta europeia ao regresso da boa América
in Público, 07.11.2008, por Teresa de Sousa

1. Os observadores mais cínicos ou mais pessimistas já escreveram ontem que, enquanto os europeus rejubilavam com a eleição de Barack Obama, as chancelarias europeias agitavam-se para saber quem será o primeiro líder da União a ser convidado a visitar a Casa Branca. A questão não é nova. Seja qual for o Presidente dos EUA, é sempre agradável ser o primeiro a ser recebido. Com Obama, que os europeus adoram, a honra é ainda mais apetecível.

Desta vez, todavia, pode haver mais qualquer coisa por detrás desta observação pessimista. Ontem, o Monde dava conta dos comentários do Eliseu sobre o significado desta eleição. "O Ocidente reencontra a sua sedução" Há aqui uma ideia de "família ocidental" de novo reunida que não deixa de expressar um sentimento forte de oportunidade.

Muitos observadores têm dito que o regresso de uma Rússia ressentida e o desafio que representa a ascensão da China são, talvez, os dois maiores factores para uma reaproximação transatlântica. A crise financeira e as suas consequências geopolíticas, assinalando o fim de uma era em que o Ocidente podia ditar as regras do jogo económico mundial, podem funcionar no mesmo sentido.

No seu célebre discurso de Berlim, que foi uma das raras oportunidades de ouvi-lo falar sobre a Europa, Barack Obama tocou todas as cordas da velha relação transatlântica. Até na escolha do sítio. Referiu a necessidade de uma relação mais exigente. Mas a Europa, além de saudar o regresso da América de que gosta, ainda sabe pouco sobre as intenções do novo Presidente eleito.

Ontem, o governo de Praga anunciava a sua intenção de convocar uma cimeira informal em Abril, aproveitando a presença de Barack Obama na cimeira da NATO que marcará o 60º aniversário da aliança. A República Checa deterá nessa altura a presidência da União. Mas ontem também, David Ignatius, o colunista do Washington Post, dizia que os conselheiros de Obama ainda estavam a decidir qual seria a melhor utilização a dar ao seu apelo mundial, se reservar a sua primeira grande deslocação à cimeira da NATO ou se fazê-la preceder por uma viagem à Ásia.

2. A Europa tentou, pelo menos, fazer algum trabalho de casa. O chefe da diplomacia francesa Bernard Kouchner parte na terça-feira para Washington, portador de uma carta de seis páginas para entregar à equipa do novo Presidente com as prioridades europeias para renovar a aliança transatlântica. Os europeus querem uma "parceria entre iguais" e querem sobretudo uma relação mais ampla, que seja entre a UE e os EUA e não com cada um dos seus países e através da NATO. O seu colega Luís Amado já lembrou, por várias vezes, que é "a primeira vez que a UE assume a relação transatlântica como um todo." Isso é possível graças às mudanças em Paris e em Londres. A reaproximação da França à NATO e a nova reflexão britânica sobre os seus interesses europeus.

O documento preparado pelos chefes da diplomacia europeia defende as vantagens de um "multilateralismo efectivo", acreditando que é uma linguagem que será mais facilmente entendida em Washington a partir de agora. A Europa espera que os EUA valorizem, de novo, a unidade europeia e as suas instituições e que percebam que isso é fulcral para o reforço do pólo transatlântico.

Os dossiers "quentes", do Afeganistão à Rússia, passando pelo Irão, serão a prova dos nove.

3. Dmitri Medvedev já prestou um inestimável serviço a esta reflexão europeia. Enquanto, nos quatro cantos do mundo, se festejava a eleição de Obama, o Presidente russo anunciava a instalação de mísseis com ogivas nucleares em Kaliningrado, na fronteira com a NATO, e fazia o mais violento discurso antiamericano de sempre. Washington e as capitais europeias "lamentaram" a sua decisão. No mesmo dia, a Comissão Europeia insistia junto dos Estados membros para se decidirem rapidamente a retomar com Moscovo as negociações da pareceria estratégica, suspensas desde a invasão da Geórgia.

O problema é que, como escrevia Simon Tisdall no Guardian, o Ocidente "continua a coçar a cabeça sobre o que fazer." Washington ainda não tem uma estratégia para Rússia. A Europa continua profundamente dividida. A questão passa necessariamente por um entendimento sobre o alargamento da NATO, sobre a questão da defesa antimíssil americana e pela definição de uma nova arquitectura de segurança europeia que leve em conta também os interesses da Rússia. A única coisa que é certa, dizem fontes diplomáticas europeias, é que Moscovo "vai ter de perceber rapidamente que, com Obama, dividir os dois lados do Atlântico será bastante mais difícil".

Seja como for, a Rússia vai ser fulcral para testar o futuro da relação transatlântica.

O Afeganistão será, provavelmente, o primeiro teste. A Europa pôde contemplar de longe o "surge" americano no Iraque. O que farão os europeus quando Obama lhes pedir que contribuam para o "surge" no Afeganistão?