por João Marcelino, in Diário de Notícias, 2008.04.26
1 Os passos de Luís Filipe Menezes depois da renúncia à liderança do PSD não deixam dúvidas: ele gostaria que Santana Lopes não viesse a suceder-lhe no cargo - e isto é significativo q.b. em relação aos bastidores do passado recente do partido. No mínimo, é a confissão de um erro; mas o mais certo é que seja também uma acusação.
Seja como for, esse dado alterou o problema eleitoral.
A luta entre o PSD (de Manuela Ferreira Leite) e o PPD (que Santana Lopes quer personificar pela enésima vez) tornou-se menos evidente e abriu espaço a Pedro Passos Coelho, que procura um caminho ao meio. Entre a elite do eixo Lisboa-Porto e o basismo mais frenético às vezes abre-se um tempo de coexistência como aconteceu com Durão Barroso.
Repare-se: nem Manuela Ferreira Leite terá o apoio do presidente da distrital de Lisboa nem o seu apoiante número um, Rui Rio, lhe trará o do Porto. Esses dois sindicatos de voto - valha o que ainda valerem num sistema de "directas" - estiveram com Menezes, apoiariam Jardim e devem quedar-se em Passos Coelho, o misterioso joker destas eleições.
2 Santana Lopes corre imensos riscos nesta aventura apenas ditada pelas suas necessidades pessoais. Ele sabe que com Manuela Ferreira Leite será sempre remetido a curto prazo para simples militante de base, mas no seu afã de voltar a ser número 1 arrisca-se a uma posição muito incómoda, apenas à frente dos dois "candidatos do queijo da serra", Patinha Antão e Neto da Silva.
Para quem está de fora, a candidatura de Santana Lopes tem um toque de extraterrestre: como é possível, depois daquilo que aconteceu há apenas três anos (a exoneração por Jorge Sampaio, seguida da primeira maioria absoluta do PS!), ele voltar a estar na corrida pelo regresso? É um mistério que Menezes tornou possível e no qual o PSD vai ter de reflectir.
3 Há coisas simples que devem ser ditas e Rui Rio fê-lo na entrevista à RTP: o grande objectivo desta eleição no PSD é escolher um candidato a primeiro-ministro.
Todos sabemos que Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa e Paulo Portas não são candidatos a chefiar o Governo. Se o PSD eleger um líder que não apareça como alternativa credível a nível nacional, o actual quadro partidário ficará diminuído. E nem José Sócrates ou o PS, que seriam no imediato os beneficiários desta situação, se poderiam dar por satisfeitos a prazo. Um Governo sem alternativa é sempre um governo sem estímulo. E esse mal- estar seria compartilhado pela sociedade portuguesa.
Por tudo isso, a missão dos militantes do PSD parece-se muito com uma causa nacional. Eles têm nas mãos a responsabilidade de escolher uma personalidade que apareça ao País com um perfil, pessoal e político, merecedor de confiança.
O alerta de Rui Rio, mesmo que feito na óptica de um apoio a Manuela Ferreira Leite, é, pois, absolutamente necessário. Será que o PSD o vai ouvir?
Ainda não é desta que poderemos ver Alberto João Jardim na pele de presidente do PSD nacional e candidato a primeiro-ministro. Mas, pelo andar da carruagem, ainda um dia teremos um líder populista forte a caminho de São Bento. Provavelmente, é só deixar a tal "rapaziada" entreter-se mais um pouco
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A SITUAÇÃO ELEITORAL DO PSD
por João Marcelino, in Diário de Notícias, 2008.04.26
1 Os passos de Luís Filipe Menezes depois da renúncia à liderança do PSD não deixam dúvidas: ele gostaria que Santana Lopes não viesse a suceder-lhe no cargo - e isto é significativo q.b. em relação aos bastidores do passado recente do partido. No mínimo, é a confissão de um erro; mas o mais certo é que seja também uma acusação.
Seja como for, esse dado alterou o problema eleitoral.
A luta entre o PSD (de Manuela Ferreira Leite) e o PPD (que Santana Lopes quer personificar pela enésima vez) tornou-se menos evidente e abriu espaço a Pedro Passos Coelho, que procura um caminho ao meio. Entre a elite do eixo Lisboa-Porto e o basismo mais frenético às vezes abre-se um tempo de coexistência como aconteceu com Durão Barroso.
Repare-se: nem Manuela Ferreira Leite terá o apoio do presidente da distrital de Lisboa nem o seu apoiante número um, Rui Rio, lhe trará o do Porto. Esses dois sindicatos de voto - valha o que ainda valerem num sistema de "directas" - estiveram com Menezes, apoiariam Jardim e devem quedar-se em Passos Coelho, o misterioso joker destas eleições.
2 Santana Lopes corre imensos riscos nesta aventura apenas ditada pelas suas necessidades pessoais. Ele sabe que com Manuela Ferreira Leite será sempre remetido a curto prazo para simples militante de base, mas no seu afã de voltar a ser número 1 arrisca-se a uma posição muito incómoda, apenas à frente dos dois "candidatos do queijo da serra", Patinha Antão e Neto da Silva.
Para quem está de fora, a candidatura de Santana Lopes tem um toque de extraterrestre: como é possível, depois daquilo que aconteceu há apenas três anos (a exoneração por Jorge Sampaio, seguida da primeira maioria absoluta do PS!), ele voltar a estar na corrida pelo regresso? É um mistério que Menezes tornou possível e no qual o PSD vai ter de reflectir.
3 Há coisas simples que devem ser ditas e Rui Rio fê-lo na entrevista à RTP: o grande objectivo desta eleição no PSD é escolher um candidato a primeiro-ministro.
Todos sabemos que Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa e Paulo Portas não são candidatos a chefiar o Governo. Se o PSD eleger um líder que não apareça como alternativa credível a nível nacional, o actual quadro partidário ficará diminuído. E nem José Sócrates ou o PS, que seriam no imediato os beneficiários desta situação, se poderiam dar por satisfeitos a prazo. Um Governo sem alternativa é sempre um governo sem estímulo. E esse mal- estar seria compartilhado pela sociedade portuguesa.
Por tudo isso, a missão dos militantes do PSD parece-se muito com uma causa nacional. Eles têm nas mãos a responsabilidade de escolher uma personalidade que apareça ao País com um perfil, pessoal e político, merecedor de confiança.
O alerta de Rui Rio, mesmo que feito na óptica de um apoio a Manuela Ferreira Leite, é, pois, absolutamente necessário. Será que o PSD o vai ouvir?
Ainda não é desta que poderemos ver Alberto João Jardim na pele de presidente do PSD nacional e candidato a primeiro-ministro. Mas, pelo andar da carruagem, ainda um dia teremos um líder populista forte a caminho de São Bento. Provavelmente, é só deixar a tal "rapaziada" entreter-se mais um pouco
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