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sexta-feira, abril 25, 2008
25 de Abril sempre... apesar do óbvio!
A geração que viveu o 25 de Abril e controlou os destinos do País desde 1974 ainda não conseguiu convencer aqueles que chegaram depois das vantagens da Revolução...
Na sua intervenção perante o Parlamento, o Presidente da República manifestou-se surpreendido com o facto de "muitos jovens não saibam sequer o que foi o 25 de Abril, nem o que significou para Portugal."
Citando um trabalho de Pedro Magalhães e Jesus Sanz Moral para o Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade Católica Portuguesa, Cavaco Silva sublinhou que "os mais novos, sobretudo, quando interrogados sobre o que sucedeu em 25 de Abril de 1974 produzem afirmações que surpreendem pela ignorância de quem foram os principais protagonistas, pelo total alheamento relativamente ao que era viver num regime autoritário."
Cavaco Silva afirma ser um homem do presente e perante os desafios do futuro, diz que "seria melhor que nos concentrássemos sobre o que poderemos trazer ao presente."
Na sua opinião, "o futuro será o que dele fizermos hoje, nas nossas vidas profissionais e pessoais, nos nossos comportamentos cívicos, nas nossas atitudes perante os outros."
Sobre as questões da juventude, lembre-se que já Mário Soares convocara a Lisboa milhares de jovens nascidos em 1974 para participarem activamente nas comemorações do 20.º Aniversário do Revolução dos Cravos. Hoje, a "geração rasca" anda pelos 33/34 anos e a vida não lhe corre de feição. Provavelmente, muitos ainda continuam "enrascados" e a participação cívica não será uma das suas preocupações prioritárias...
Contudo, Cavaco Silva tem razão. A República não pode ficar indiferente. Compete aos actores políticos da actualidade cativar os jovens e rejuvenescer a prática política, promover a discussão dos princípios e dos valores através do seu comportamento ético exemplar, contribuir para a consolidação da democracia e alimentar permanentemente o sonho que fez a madrugada mais bela!
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3 comentários:
Cavaco impressionado com ignorância política dos jovens
por SUSETE FRANCISCO, in Diário de Notícias, 2008.04.26
PR apresentou estudo: 50% dos mais novos ignoram realidade nacional
Metade dos jovens entre os 15 e os 17 anos e um terço dos jovens adultos entre os 18 e os 29 não sabem que a União Europeia tem 27 Estados- -membros, que Ramalho Eanes foi o primeiro Presidente da República eleito após o 25 de Abril e que o PS governa com maioria absoluta.
Foi um impressionado Cavaco Silva que ontem, na sessão comemorativa do 34.º aniversário do 25 de Abril, apresentou ao Parlamento os resultados de um estudo pedido pelo próprio à Universidade Católica, sobre o comportamento político da juventude portuguesa. Conclusão: os mais jovens não sabem e pouco querem saber da vida política nacional.
De acordo com o estudo, 48,5% dos jovens entre os 15 e os 17 anos não acertaram no número de Estados da UE (entre os 18 e os 29 a percentagem sobe para os 52,1%). No caso do primeiro presidente eleito em democracia, e ainda entre os mais novos, 21,6% falham a resposta, enquanto 68,7% respondem que não sabe. E é também o desconhecimento (53,2%) que vence na pergunta sobre o PS.
Mas as restantes faixas etárias também exibem um baixo nível de informação. A maioria dos inquiridos entre os 30 e os 64 anos não acerta no número de Estados da UE; e os maiores de 65 falham o nome de Ramalho Eanes. Na maioria absoluta do PS a diferença é notória - acima dos 30 anos quase 70% respondem correctamente. Um resultado que será explicado em parte por um outro dado: 68,5% dos inquiridos dizem interessar-se "pouco ou nada" pela política. E são os jovens quem mais contribui para aquele valor: entre os 15 e os 17 anos, 56,7 interessam-se pouco e 25,3% nada - 82% no total.
A revolta silenciosa dos jovens cidadãos
EDITORIAL, in Diário de Notícias, 2008.04.26
Cavaco acertou na mouche ao dedicar ao alheamento dos jovens portugueses da coisa política o seu discurso comemorativo de mais um aniversário do 25 de Abril.
A Revolução dos Cravos tinha como ponto nuclear do seu programa a instauração da democracia em Portugal - ou seja dar aos cidadãos a última palavra na decisão sobre o destino.
Neste sentido, não deixa de ser a um tempo irónico e preocupante que, 34 anos depois, os filhos do 25 de Abril não se revejam no sistema político que os seus pais ajudaram a construir.
O estudo encomendado à Universidade Católica pela Presidência da República confirma o que já se suspeitava: os jovens dos 15 aos 29 anos são a camada etária mais insatisfeita com a qualidade da nossa democracia.
Nunca desde o 25 de Abril os partidos políticos estiveram tão distantes dos cidadãos. A esta fria distância não é estranho o facto de a primeira geração de políticos profissionais ter chegado ao poder nos principais partidos. Os dois primeiros-ministros mais recentes, Santana Lopes e José Sócrates, formaram-se na escola das Jotas.
São cada vez mais os eleitores que olham para os partidos centrais do nosso sistema político como meras máquinas de conquista do poder desprovidas de uma pinga sequer de paixão e ideologia.
Os partidos devem, por isso, reflectir seriamente neste aviso do PR, que com a sua palavra deu um peso institucional suplementar a uma revolta silenciosa dos eleitores que se exprimia através de crescentes taxas de abstenção.
Ter uma casa tornou-se o sonho de qualquer família portuguesa. E por isso a percentagem de proprietários de casa própria é superior ao da média europeia, em especial dos países do Norte, onde existe uma forte tradição de arrendamento.
Foi a Revolução de 1974 que abriu a possibilidade da concretização deste sonho. Milhares de famílias que viviam em condições precárias, muitas vezes em barracas, mudaram-se pela primeira vez para uma casa a sério: paredes, tecto, água e luz. Nasceram bairros com nomes revolucionários, como 25 de Abril, Grito do Povo ou Sonho de Abril. O fenómeno da construção social impôs-se durante algumas décadas, ao mesmo tempo que as cooperativas de habitação alastravam pelo País.
Hoje, a casa própria é uma realidade (motivos legais e económicos prejudicaram sempre o arrendamento), mas também o é o endividamento. Só com recurso a crédito, e por prazos longos de mais, o sonho se pode concretizar agora para a esmagadora maioria. Mas a subida da taxa de juro ameaça criar situações dramáticas. Esperemos que não renasça um problema da habitação em Portugal.
Cavaco Silva pede o fim da venda de ilusões na política
in PÚBLICO, 26.04.2008, por Leonete Botelho
Preocupado com o alheamento dos jovens, o Presidente da República deixou recado aos agentes políticos e renovou apelo à não resignação
Imperaram as gravatas vermelhas, talvez mais do que os cravos na lapela, e não faltaram referências à democracia e às suas dificuldades. Mas as comemorações oficiais do 25 de Abril na Assembleia da República foram marcadas por um facto inédito, um estudo científico mandado fazer pelo Presidente da República sobre os jovens e a política. E cuja primeira conclusão não surpreende: é notória a insatisfação dos portugueses em geral com o funcionamento da democracia (ver páginas 4 e 5).
No sempre tão esperado discurso anual no Parlamento, Cavaco Silva regressou aos jovens. Um ano depois de ter deixado o apelo aos mais novos para que "não se resignem" - que, aliás, renovou -, o chefe de Estado quis conhecer cientificamente uma realidade que o preocupa: as atitudes e comportamentos políticos dos jovens, com um estudo que permite ter uma visão global sobre as percepções de toda a sociedade, já que permite a comparação com outros grupos etários.
Por isso, a primeira conclusão é longitudinal e afirma não só a insatisfação com a democracia, como a existência de atitudes favoráveis a reformas profundas na sociedade portuguesa. Mas Cavaco frisou ainda outro dado: é que essa insatisfação e o pessimismo "cresceram de forma sensível" desde 2004, altura em que os portugueses já estavam entre os europeus "com uma pior avaliação do funcionamento da democracia".
"Ignorância" dos jovens
Do estudo feito pela Universidade Católica, o que mais impressiona o chefe de Estado é "ignorância" dos jovens, pois muitos não sabem sequer o que foi o 25 de Abril, nem o que significou para Portugal. Cavaco Silva destacou um aspecto. Foram colocadas três perguntas aos inquiridos: qual o número de Estados da União Europeia, quem foi o primeiro Presidente eleito após o 25 de Abril e se o PS dispunha ou não de maioria absoluta no Parlamento. "Pois, senhores deputados, metade dos jovens entre os 15 e os 19 anos e um terço entre os 18 e os 29 anos não foi sequer capaz de responder correctamente a uma única das três perguntas", disse e repetiu.
"Num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar", exclamou Cavaco Silva, explicando em quê. Na "ambição de uma sociedade mais justa", na exigência de "um maior empenhamento cívico dos cidadãos", na necessidade de "uma nova atitude da classe política, há ainda um longo percurso a percorrer", considerou.
Atrofia democrática, portanto, que Cavaco Silva levou aos deputados em versão científica, "na convicção de que os agentes políticos não podem alhear-se do pulsar da sociedade e daquilo que os cidadãos pensam daqueles que os governam". E se foi duro no diagnóstico, foi claro na terapêutica: "Os centros de decisão têm de procurar uma política de proximidade face aos portugueses". Os partidos políticos - responsáveis porque não fizeram "o necessário reforço para a credibilização da vida política" - devem "ouvir o povo e falar-lhes com verdade".
"Vender ilusões não é seguramente a melhor forma de fortalecer o imprescindível clima de confiança que deve existir entre os cidadãos e a classe política", frisou o Presidente da República. E num mesmo patamar defendeu tanto o fim de "um certo autismo de alguma classe política", a quem recomendou conhecer melhor a realidade do país, como a necessidade de "pôr cobro ao pessimismo que muitos dizem ser uma característica singular do povo português".
Uma mensagem que já não é só para a classe política, mas um regresso ao repetido apelo presidencial para que os cidadãos tomem o futuro nas suas mãos e participem nas soluções. "Ao invés de imaginar o dia de amanhã, em lugar de procurarmos sinais nas estrelas de um futuro incerto, construamos hoje mesmo o que queremos para um Portugal melhor", incentivou.
Gama e as ideias políticas
Por sua vez, o presidente da Assembleia da República também salientou a responsabilidade que recai sobre os partidos e os responsáveis públicos. Para Jaime Gama, os partidos têm "a grande responsabilidade de agir mais como intermediários inteligentes da sociedade que nasce, se afirma e renova, do que como depositários letárgicos de opiniões feitas ou de posições instaladas". "Não há democracia sem política e não há política sem ideias políticas", sublinhou.
Antes, Gama disse que os "tempos difíceis" exigem, "a par da qualificação, transparência e seriedade da administração e dos titulares dos órgãos de soberania", "sentido de missão dos responsáveis públicos" para "enfrentar sem tréguas áreas de tão elevada complexidade como o combate à criminalidade económica e financeira e à corrupção".
Quem não viu "nenhuma crítica" aos partidos no discurso do chefe de Estado foi o porta-voz do PS, Vitalino Canas. "Nós sabemos que essa é uma questão nos Estados ocidentais democráticos, onde há um debate grande em relação à qualidade da democracia", afirmou à Lusa, preferindo destacar a "grande preocupação" de Cavaco Silva com a necessidade de um maior envolvimento dos jovens nas questões políticas.
"Sobre a qualidade da democracia retive um aspecto importante, que é a necessidade de encontrar novas formas de participação política e, eventualmente, criar laços mais directos entre os representantes políticos e os cidadãos em geral", sublinhou. Vitalino Canas disse que "essa também é uma das convicções no PS", recordando que nesta legislatura aprovou uma lei paritária das mulheres na política e que o PS está a trabalhar no sentido de haver uma maior aproximação entre os cidadãos e os seus representantes.
O primeiro-ministro fez ontem o primeiro alerta claro para as "dificuldades e incertezas nos tempos que aí vêm devido à conjuntura internacional". À saída das comemorações oficiais do 25 de Abril no Parlamento, José Sócrates afirmou "não poder estar mais de acordo com as preocupações do senhor Presidente da República", mas também deixou claras quais as suas principais apreensões. "Teremos certamente dificuldade e incertezas", afirmou, deixando um recado com destinatário preenchido - "àqueles que querem atribuir ao Governo essa responsabilidade": "Toda a gente sabe que as dificuldades vêm de fora, mas vamos enfrentá-las como as enfrentámos em 2005, 2006 e 2007 e que as vencemos com sucesso, sucesso para o crescimento económico, para o equilíbrio das contas públicas e para assegurar o futuro dos portugueses." As declarações do primeiro-ministro podem estar a preparar caminho para uma próxima revisão em baixa do crescimento económico para 2008. L.B.
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