domingo, janeiro 11, 2009

Um "algarvio" na Casa Branca?!


No próximo dia 20 de Janeiro, a família Obama poderá fazer mais pela imagem internacional do Algarve do que muitos organismos e empresas de marketing e lobbying...

Neste domingo, a generalidade dos jornais americanos deu como garantida a "
nomeação" do First Dog of America, responsabilizando as filhas do futuro Presidente dos Estados Unidos da América pela escolha de um genuíno Cão d'Água Português para o exercício de tais funções...

Originária do Algarve, a
raça esteve quase extinta, depois de uma longa história ligada à expansão marítima. Nesses tempos, o cão d'água servia de companhia nas viagens dos navegadores portugueses e até aos anos 70 auxiliava a comunidade piscatória portuguesa a identificar cardumes de peixe e detectar tubarões e servia de estafeta entre embarcações com mensagens ou objectos.

Actualmente, é no Algarve que se encontra o maior número de exemplares de cães d'água de Portugal (existem cerca de 3.000), embora a maior comunidade esteja nos EUA, graças à actriz Deyanne Miller, que aparecia em fotografias com um cão d'água comprado a Conchita Citron, a primeira portuguesa a tourear naquele País e que popularizou a raça.

O cão d'água apresenta um porte médio de 55 centímetros, pode atingir o s 20 quilos, não tem pêlo mas sim cabelo que cresce continuamente e encaracola e possui uma membrana interdigital desenvolvida para nadar melhor, sendo considerado um óptimo cão de guarda, lutador, bom companheiro, dócil e cuidadoso com as crianças. Caso se concretize a
escolha, as nossas felicitações à família Obama!

NOTA - A prima Francisca da Ria Formosa deu dois pulos de satisfação e abanou o rabo de forma efusiva, ganindo de tal forma que me pareceu escutar "Yes, we can!"

3 comentários:

Maria Morango disse...

Também tive o prazer de receber este e-mail do Turismo do Algarve e pensei: "será isto uma partida antecipada do 1 de Abril?", "O turismo do algarve vai mesmo pagar o envio de um cão-de-água para a América e ainda por cima divulga isso como se estivesse a falar da visita do próprio Barack Obama a uma unidade hoteleira da região?"... How sad is this? Por favor, tirem-me deste filme.

Anónimo disse...

Caro(a) Bittersweet,

Deve haver qualquer engano. Não sei se reparou na data da entrada. A posição da Entidade Regional de Turismo é posterior. Será colagem à ideia da Terra do Sol?!

Recomendo-lhe a leitura do primeiro parágrafo da entrada...

Greetings!

Anónimo disse...

O cão desempregado vai para Washington?

Por Luís Francisco, in Público, P2, Págs. 4 e 5, 19.01.2009

O anúncio de que um cão de água português poderá vir a ser a mascote da Casa Branca representa uma autêntica taluda para os defensores e criadores da raça que já foi a mais rara do mundo. Não é a primeira vez que a sorte grande entra nesta história.

Corria a década de 30 do século passado. Vasco Bensaúde, um açoriano abastado que em 1934 tinha ficado curioso com a presença, na Exposição Internacional de Lisboa, de dois cães de uma raça até aí não referenciada, decidiu investigar no Algarve e tentar adquirir alguns exemplares.

Os seus enviados descobriram (provavelmente em Albufeira) um macho chamado Leão e de pronto o então secretário-geral do Clube de Caçadores propôs-se adquiri-lo. Mas por esta altura o cão de água era tanto um companheiro como um verdadeiro braço de trabalho para os pescadores. O dono recusou vendê-lo. Só se lhe saísse a lotaria, atirou. Semanas mais tarde, saiu mesmo. E o pescador cumpriu a sua palavra.

A história moderna do cão de água português começou nessa altura e, oito décadas mais tarde, podemos estar a assistir ao segundo grande golpe de sorte de uma raça que o Livro Guinness dos Recordes chegou a considerar, na década de 1970, a mais rara do mundo (existiriam na altura apenas cerca de 30 exemplares).

Quando o futuro Presidente dos EUA, Barack Obama, fez constar que a sua família tinha reduzido o seu leque de opções para a nova mascote da Casa Branca a uma escolha entre um misto de poodle e retriever ou um cão de água português, a opinião pública mundial tomou subitamente conhecimento da existência deste cão alegre, inteligente e de características muito próprias.

Uma delas é verdadeiramente desconcertante: o cão de água português tem membranas interdigitais nas patas dianteiras. Essas pregas de pele permitem-lhe nadar, e mesmo mergulhar em apneia, com uma destreza só comparável à das lontras. Mas há outra característica da raça que poderá revelar-se determinante na escolha do clã Obama: a inexistência de uma subcamada de pêlo. Isso implica que os cães de água portugueses perdem muito pouca pelagem e são praticamente hipoalergénicos (este é provavelmente o cão mais amigo de pessoas com problemas respiratórios, se não tivermos em conta as espécies carecas).

A filha mais velha de Barack e Michelle (Malia, de dez anos) é alérgica ao pêlo de cão e uma das primeiras reacções à divulgação da short list para mascote presidencial partiu do American Kennel Club, que recomendou o cão de água português. A família Obama muda-se amanhã para a Casa Branca, em Washington, e espera-se que nessa altura anuncie o novo inquilino - a escolha, segundo o próprio Obama, tem-se mostrado mais complicada do que encontrar o futuro homem forte da economia do país...

Será a família ideal?

Num golpe de antecipação, a Região de Turismo do Algarve (a zona tradicional do cão de água) já se ofereceu para oferecer um cachorro, mas há quem se mostre mais cauteloso. Carla Molinari, presidente do Clube Português de Canicultura e ela própria antiga criadora da raça, diz que "é melhor não deitar foguetes antes do tempo", embora garanta que o organismo que dirige contactará a presidência dos EUA depois da tomada de posse de Barack Obama, para oferecer os seus préstimos caso a escolha recaia sobre o cão de água português. Questionado pelo PÚBLICO por e-mail, o presidente do Portuguese Water Dog Club of America (PWDCA), Stuart Freeman, garante, por seu turno, que a sua organização "não foi contactada pelos Obama, apenas pela imprensa".

Mesmo que a família Obama escolha outra raça, a atenção mediática que a questão levantou é uma excelente notícia para os criadores do cão de água português, em Portugal e nos EUA, país onde a raça, a partir de 1968, pela mão do casal Deyanne e Herbert Miller, ganhou novo impulso. "Estamos muito contentes", resume Carla Molinari, que estima em "quatro mil a cinco mil" o número de cães de água com registo em Portugal, um total extrapolado a partir dos "cerca de 400 cachorros registados por ano". Já Stuart Freeman tem maiores dificuldades em fazer uma estimativa: "Haverá cerca de mil inscritos [no American Kennel Club], mas muitas ninhadas não são registadas."

O presidente do PWDCA não embarca em grandes entusiasmos. Salienta que "os cães de água portugueses precisam de uma família que cuide realmente deles" e receia que "a primeira-família possa estar ocupada com outras coisas". Quanto à ideia adiantada por Obama de que iriam começar a procurar em canis para ver se encontram um cão "adequado", Stuart Freeman vê poucas possibilidades de isso acontecer no caso de um cão de água português. "As equipas de resgate do PWDCA fazem um trabalho notável de recolha de todo e qualquer cão suspeito de pertencer à raça, levando-os até junto de proprietários experientes para avaliar o comportamento dos cães. Se forem considerados em condições, então serão colocados." Por isso, apesar de ser uma bonita carta de intenções, a ideia do futuro Presidente dos EUA de adoptar um cão em vez de adquirir um cachorro pode vir a revelar-se impraticável...

Como é que um antigo cão de pescadores pobres, há poucas décadas classificado com estando nas franjas da extinção, chega a este patamar de notoriedade mundial?

Grande viajante

O cão de água português é um animal de porte médio (os machos podem chegar aos 57cm de altura nas espáduas e pesar até 25kg; as fêmeas são ligeiramente mais pequenas), inteligente e trabalhador, muito dócil, que adora água. Onde é que já ouvimos isto? Provavelmente na descrição do cão mais popular nos EUA: o retriever do Labrador. Do qual o cão de água português será ascendente.

É natural que esta raça, já referenciada no tempo dos romanos como "cão leão" (por causa do corte característico, nem sempre utilizado: mantendo o pêlo no tórax para resguardar do frio das águas e rapando-o nos quartos traseiros, para facilitar os movimentos), apareça na árvore genealógica de muitas outras. Afinal, eles viajaram pelo mundo com os navegadores portugueses e a mestiçagem lusitana está longe de ser exclusiva dos humanos...

Capazes de nadar entre barcos em quaisquer condições de mar, de mergulhar para recuperar peixes ou artes de pesca e, até, de detectar a presença de tubarões (recusando-se a entrar na água), os cães de água portugueses foram durante séculos auxiliares preciosos de marinheiros e pescadores.

Mas, com o declínio da pesca tradicional, estes animais que recebiam ordenado e um quinhão do produto da faina como qualquer outro profissional a bordo perderam a sua utilidade. Ficaram, tecnicamente, desempregados. Começam agora a ser utilizados como cães-guia para cegos e em programas terapêuticos.

Nas primeiras décadas do século XX, os poucos exemplares que resistiam concentravam-se no Algarve, onde Frederico Pinto Soares os descobriu para exibir na Exposição Internacional de Lisboa, despertando o interesse de Vasco Bensaúde.

O trabalho deste foi, literalmente, herdado por uma cavaleira tauromáquica, Conchita Citron. Mas a confusão que se seguiu ao 25 de Abril de 1974 e o desinteresse da nova proprietária desbarataram todo o progresso feito anteriormente: doentes e abandonados, quase todos os animais foram abatidos no final desse Verão. Foi por esta altura que o Guinness considerou o cão de água português a espécie canina mais rara do mundo.

E foi também por essa altura que o casal Miller fez deslocar para os EUA o centro de gravidade dos criadores da raça. Hoje, o cão de água português ganhou notoriedade mundial e voltou a estabelecer-se em Portugal, como animal de companhia e de exibição.

Quanto à família Obama, se tiver dúvidas, pode sempre ligar a um grande apoiante do novo Presidente: o senador Ted Kennedy possui um cão de água português. Vinicius de Moraes tinha um, chamado Whisky; Jacques Cousteau embarcou três a bordo do Calypso. É bem provável que em breve vejamos um destes alegres guedelhudos a brincar com duas crianças nos relvados da casa mais famosa do mundo.