Paranóias securitárias por Conceição Branco, in OBSERVATÓRIO DO ALGARVE, 07-01-2008
Cancelar o raly Lisboa/Dakar, não traria, apesar de tudo, um grande mal ao mundo, já que provas desportivas deste tipo estão dependentes de uma séria de factores, desde logo as condições climatéricas.
O que torna a decisão chocante é ela inserir-se na paranóia securitária que leva a medidas preventivas lesivas das liberdades e garantias dos cidadãos.
Nada aconteceu, mas por via das dúvidas e tendo em conta relatórios das diversas secretas mundiais, não se faz o rali, proíbe-se o champô e o creme de barbear nos aviões, e até se invade o Iraque, iniciando-se um conflito que incendiou o Médio Oriente.
Veio depois a saber-se que as armas de destruição maciça não existiam, que o programa nuclear era uma miragem da CIA e do FBI, e que os “danos colaterais” se traduzem na morte de milhares de pessoas.
No caso do Dakar, o Governo francês impôs à organização a sua teoria da conspiração, alegando possuir informações que estariam a ser preparadas acções da Al-Qaeda o que tornaria inseguras as etapas da prova na Mauritânia.
Vai certamente saber-se, daqui a um tempo, que tais informações seriam tão seguras como as que tinham a CIA quanto ao uso do antrax e outros mitos.
Curiosamente, esta posição do governo francês não abrange as férias do seu presidente. Mr Sarkozy anda a passear-se com a sua nova namorada, muito mediática, pelo Egipto e outros lugares mal frequentados pelos ditos fundamentalistas islâmicos. Em segurança, suponho eu
Por mim, a melhor arma para combater o terrorismo é não ceder nem um milímetro nas liberdades e garantias dos cidadãos e recusar liminarmente leis e medidas que coarctem a livre circulação.
Erguer muros para separar povos, manter prisioneiros sem advogado ou acusação em Guantanamo, polícias a abater passageiros no metro por transportarem uma mochila, desrespeitar leis internacionais, provocar conflitos preventivos não é defender a democracia e a liberdade.
É ceder perante o terror e, de caminho, e para benefício de alguns, criar um sistema onde todas as arbitrariedades são aceites, em nome da segurança.
Estaremos seguros na exacta medida do que formos capazes de resistir aos totalitarismos.
O cancelamento do Lisboa-Dakar provocou fortes prejuízos e grande desmoralização nas ‘Espadas da Sombra’, a al-Qaeda do Magrebe. Concentrados no objectivo, desde o Verão, para nada. Meses de ‘trabalho’ perdidos. Tudo pronto no terreno e a ‘armada’ de câmaras de televisão, micros e jornalistas não apareceu. Grave revés. E ainda vão ter de desmontar tudo e até de ir buscar as minas que já tinham enterrado na areia se as quiserem voltar a usar noutro lado. (...)
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Paranóias securitárias
por Conceição Branco, in OBSERVATÓRIO DO ALGARVE, 07-01-2008
Cancelar o raly Lisboa/Dakar, não traria, apesar de tudo, um grande mal ao mundo, já que provas desportivas deste tipo estão dependentes de uma séria de factores, desde logo as condições climatéricas.
O que torna a decisão chocante é ela inserir-se na paranóia securitária que leva a medidas preventivas lesivas das liberdades e garantias dos cidadãos.
Nada aconteceu, mas por via das dúvidas e tendo em conta relatórios das diversas secretas mundiais, não se faz o rali, proíbe-se o champô e o creme de barbear nos aviões, e até se invade o Iraque, iniciando-se um conflito que incendiou o Médio Oriente.
Veio depois a saber-se que as armas de destruição maciça não existiam, que o programa nuclear era uma miragem da CIA e do FBI, e que os “danos colaterais” se traduzem na morte de milhares de pessoas.
No caso do Dakar, o Governo francês impôs à organização a sua teoria da conspiração, alegando possuir informações que estariam a ser preparadas acções da Al-Qaeda o que tornaria inseguras as etapas da prova na Mauritânia.
Vai certamente saber-se, daqui a um tempo, que tais informações seriam tão seguras como as que tinham a CIA quanto ao uso do antrax e outros mitos.
Curiosamente, esta posição do governo francês não abrange as férias do seu presidente. Mr Sarkozy anda a passear-se com a sua nova namorada, muito mediática, pelo Egipto e outros lugares mal frequentados pelos ditos fundamentalistas islâmicos. Em segurança, suponho eu
Por mim, a melhor arma para combater o terrorismo é não ceder nem um milímetro nas liberdades e garantias dos cidadãos e recusar liminarmente leis e medidas que coarctem a livre circulação.
Erguer muros para separar povos, manter prisioneiros sem advogado ou acusação em Guantanamo, polícias a abater passageiros no metro por transportarem uma mochila, desrespeitar leis internacionais, provocar conflitos preventivos não é defender a democracia e a liberdade.
É ceder perante o terror e, de caminho, e para benefício de alguns, criar um sistema onde todas as arbitrariedades são aceites, em nome da segurança.
Estaremos seguros na exacta medida do que formos capazes de resistir aos totalitarismos.
O cancelamento do Lisboa-Dakar provocou fortes prejuízos e grande desmoralização nas ‘Espadas da Sombra’, a al-Qaeda do Magrebe. Concentrados no objectivo, desde o Verão, para nada. Meses de ‘trabalho’ perdidos. Tudo pronto no terreno e a ‘armada’ de câmaras de televisão, micros e jornalistas não apareceu. Grave revés. E ainda vão ter de desmontar tudo e até de ir buscar as minas que já tinham enterrado na areia se as quiserem voltar a usar noutro lado. (...)
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