terça-feira, maio 30, 2006

Evocação a Silves


Saúda, por mim, Abû Bakr,
os queridos lugares de Silves
e diz-me se deles a saudade
é tão grande como a minha.
Saúda o Palácio dos Balcões,
da parte de quem nunca o esqueceu,
morada de leões e de gazelas
salas e sombras onde eu
doce refúgio encontrava
entre ancas opulentas
e tão estreitas cinturas.
Moças níveas e morenas
atravessam-me a alma
como brancas espadas
como lanças escuras.
Ai quantas noites fiquei,
lá no remanso do rio,
preso nos jogos do amor
com a da pulseira curva,
igual aos meandros da água,
enquanto o tempo passava...
ela me servia vinho:
o vinho do seu olhar,
às vezes o do seu copo,
e outras vezes o da boca.
Tangia-me o alaúde
e eis que eu estremecia
como se estivesse ouvindo
tendões de colos cortados.
Mas se retirava as vestes
grácil detalhe mostrando,
era ramo de salgueiro
que me abria o seu botão
para ostentar a flor.



Poema de Al-Mutamid (Nasceu em Beja, em 1040, no seio de uma família de poetas. Foi governador de Silves e, mais tarde, em 1069, subiu ao trono do reino taifa de Sevilha, sendo o sucessor do pai, Al-Mutadid. Em 1091, pediu ajuda aos Almorávidas do Norte de África para enfrentar Afonso VI de Castela, mas quem o vem socorrer, acaba por ir contra ele, conquistando os reinos taifa, inclusive, o de Sevilha. Após esta dura batalha é enviado para as masmorras de Aghmat, Marrocos, onde morreu saudoso do Al-Gharb.


Tendo como única ocupação a actividade da escrita, passou para o papel todo o seu drama pessoal, através de uma poesia de grande sensibilidade. Ainda hoje se mantém viva a sua memória, especialmente no mundo árabe, indo muitos muçulmanos, em romaria, visitar o seu túmulo. Uma das suas poesias consta das "Mil e Uma Noites".

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