Por José Graça *
(Publicado na edição de 18 de Dezembro de 2003 do jornal POSTAL DO ALGARVE)
O Ministério da Administração Interna tem sido fértil ao longo das últimas semanas em episódios caricatos e pouco edificantes que colocam em causa um dos principais pilares da autoridade do Estado democrático.
Como se não bastassem a tragédia dos fogos florestais (que confirmou o fracasso da fusão apressada dos serviços dos bombeiros e da protecção civil), a evolução preocupante dos dados sobre a criminalidade e a sinistralidade rodoviária ou as lamúrias justificadas dos representantes das forças e serviços de segurança pela ausência de investimentos e de renovação dos recursos disponíveis, multiplicam-se as notícias de divergências internas entre o titular da pasta e os seus ajudantes.
É por demais evidente que os últimos capítulos em torna da Brigada de Trânsito da GNR comprovam a incapacidade de liderança de Figueiredo Lopes, a falta de confiança e de coesão na sua equipa e a ausência de um projecto reformista da coligação PSD/PP nesta área concreta.
Com excepção dos titulares governamentais, tenho o gosto de conhecer quase todos os intervenientes no processo, tendo partilhado com muitos deles longas horas de reflexão e trabalho sobre os temas da segurança pública e as questões internas dos respectivos serviços. Nem nos dias que antecederam a demissão de Fernando Gomes, no final do Verão de 2000, o ambiente esteve tão pesado no MAI...
Quando a GNR precisava de mais apoio para enfrentar as inevitáveis consequências dos processos em tribunal e para suportar as dificuldades da missão no Iraque, é opinião unânime que foi no foro exclusivo da decisão política que tudo andou mal...
Seja pela falta de decisão repetida, pelas inacreditáveis contradições ou pelas trapalhadas infindáveis...
A título de exemplo, em resposta a um requerimento apresentado ao Governo sobre a continuidade da GNR em Tavira, o MAI veio agora dizer o Governo que não pode “prestar uma informação precisa sobre o dispositivo da GNR no Algarve, designadamente em Tavira”. Não pode, não quer ou não sabe?!
Anteriormente, o Governo reconhecera estar em curso um estudo de ajustamento das freguesias partilhadas pela GNR e PSP, remetendo para uma análise interna e um debate com os autarcas uma opção futura sobre a continuidade da PSP e da GNR em diversas localidades, nomeadamente em Tavira e Vila Real de Santo António.
Na resposta mais recente, o Governo considera que “quaisquer alterações do dispositivo das Forças de Segurança terão sempre como objectivo assegurar a segurança e a tranquilidade públicas”. Em que ficamos?!
Em suma, não obstante ter homologado (?!) a abertura do concurso para o novo Quartel da GNR em Tavira, sucessivamente adiado devido aos corte no investimento público, o Governo não clarifica preto no branco qual o dispositivo de forças de segurança que pretende para o Algarve.
Atitudes deste género não tranquilizam ninguém quando faltam apenas seis meses para o Euro’2004 e os efeitos sociais da crise económica são imprevisíveis...
Pela nossa parte, vamos fazer todos os esforços para garantir mais e melhor segurança para as famílias algarvias e para todos aqueles que escolhem a nossa terra para descansar alguns dias!
* Presidente da Comissão Política Concelhia de Tavira do PS (Jose_graca@sapo.pt)
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