quinta-feira, outubro 04, 2007

E podia ser noutro lugar?


(Publicado na edição de 4 de Outubro de 2007 do jornal BARLAVENTO - Frente & Verso)

A promoção da saúde sexual e reprodutiva dos indivíduos é um importante contributo para a sua formação pessoal e social e tem ganho um protagonismo crescente nos domínios da educação e da saúde, embora enfrentando resistências dos sectores mais conservadores e retrógrados da nossa sociedade.

Depois do espaço familiar, a escola é o principal responsável pela formação cívica e pessoal das crianças e jovens e, numa sociedade onde as temáticas da saúde – anorexia, bulimia, doenças sexualmente transmissíveis, obesidade, etc, etc, - e da pedofilia ganham importância diariamente, é fundamental que todos sejam preparados para enfrentar esse tipo de situações e de riscos.

E é nas escolas que devemos assegurar a formação dos agentes educativos, garantir a abordagem pedagógica de temas da sexualidade humana, fornecer o apoio às famílias na educação sexual e estabelecer os mecanismos de apoio individualizado e específico às crianças e jovens que manifestem tal necessidade. Haverá melhor lugar? Creio que não…

Aos docentes exige-se que sejam capazes de agir de forma adequada e coerente face às dúvidas e manifestações das crianças e jovens relativas à sua sexualidade e que efectuem a abordagem da temática numa lógica interdisciplinar, privilegiando o espaço da turma e respeitando as diferenças, e preventiva, antecipando comportamentos de risco e proporcionando aos alunos os necessários instrumentos de defesa.

Para tal, é igualmente fundamental envolver as famílias no processo de ensino e de aprendizagem, através de actividades específicas de formação dirigidas aos pais e encarregados de educação, ou dinamizadas por eles, valorizando as suas formações e experiências pessoais e profissionais.

No domínio individual, mostra-se crucial dar resposta às necessidades, levando os serviços de saúde para o interior da escola, em parceria com as autoridades sanitárias locais, e promovendo o adequado funcionamento dos Serviços de Psicologia e Orientação, dotando-os de recursos humanos capacitados.

Contudo, sabendo-se que a aprendizagem decorre essencialmente ao longo da observação do comportamento dos pais, professores e adultos em geral, face a inúmeras situações, e passa pelo grau de coerência entre as normas verbalizadas e as práticas realizadas, é fundamental que proporcionem condições às famílias para participarem no processo, em articulação com os professores, consolidando em casa os conhecimentos adquiridos na escola.

Questiono-me se a sociedade está preparada para este desafio? Hoje, com a atenção que os meios de comunicação social proporcionam a estas temáticas, não é fácil docentes e familiares exercerem as suas funções de forma preventiva.

Assim, sabendo-se que atitudes e comportamentos incorrectos entram permanentemente no quotidiano das crianças e jovens, será mais fácil e urgente prepará-los para enfrentar estes riscos. Mais uma vez, esta tarefa caberá às escolas que, muitas vezes sem meios nem recursos, vão mostrando como se podem fazer omoletas sem ovos!

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