terça-feira, agosto 03, 2004

Soneto já antigo

Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás-de
dizer aos meus amigos aí de Londres,
embora não sintas, que tu escondes
a grande dor da minha morte. Irás de

Londres p´ra Iorque, onde nasceste (dizes...
que eu nada que tu digas acredito),
contar àquele pobre rapazito
que me deu tantas horas tão felizes,

Embora não o saibas, que morri...
mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
nada se importará... Depois vai dar

a notícia a essa estranha Cecely
que acreditava que seria grande...
Raios partam a vida e quem lá sabe!

Poema do heterónimo tavirense de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, in 366 poemas que falam de amor, antologia organizada por Vasco Graça Moura (Quetzal Editores, 2003). A família paterna de Pessoa era de origens tavirenses e o poeta veraneava com frequência em Tavira...

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