terça-feira, agosto 10, 2004

Garret e Joaninha

Voz outonal traz notícias. Não
a ouço, porém. O vento abafa o que diz,
quando se segue, na várzea de santarém,
onde garrett foi figaldo e aprendiz.

Da janela do paço, ao nascer do sol,
respirou o ar fresco das margens do rio;
e onde morreu afogado um rouxinol
foi só o rosto da amada que ele viu.

«Vem ter comigo, não me esqueças»,
diz-lhe; e elea, do fundo da alcova,
resiste a fazer-lhe promessas,

afunda-se no lençol, como numa cova,
e espreguiça-se num vagar de gazela,
fazendo nele subir o desejo por ela.

Poema do poeta algarvio Nuno Júdice, in 366 poemas que falam de amor, antologia organizada por Vasco Graça Moura (Quetzal Editores, 2003).

Sem comentários: