terça-feira, abril 25, 2006

Quiosque do Mundo - 76


O diário espanhol El País anunciou o lançamento do "primeiro diário do mundo actualizado ao momento", que terá cinco versões distintas: uma, sem qualquer publicidade, para os assinantes do El País, uma edição geral e três temáticas (Espanha, Internacional e Economia)...

Chama-se
24 Horas, é gratuito e pode ser descarregado a qualquer momento da Internet em formato .pdf para ser impresso pelos utilizadores. Segundo o jornal, o novo 24 Horas alimentar-se-á das notícias do próprio El País e de agências noticiosas e deverá ter entre oito e 16 páginas. Alguém sabe o que é inovação?!

2 comentários:

Anónimo disse...

Gratuito quer ser um "jornal vivo" feito sem "intervenção humana"

in DN, 2006.04.25

por Marina Almeida

Junta a actualidade da edição online do diário El País à paginação tradicional de um jornal, está sempre pronto a ser impresso e é grátis. O 24 Horas espanhol nasceu ontem e pretende ser um "jornal vivo", que oferece as notícias de última hora organizadas em formato A4, em pdf.

Ruth Blanch, subdirectora de conteúdos da Prisacom, explicou ao DN que este "é um jornal fruto de um processo totalmente automático, sem intervenção humana". A máquina está programada para, mal recebe a ordem para descarregar a edição, colocar nas páginas iniciais do 24 Horas as "notícias mais recentes do ponto de vista informativo", seguidas pelas "mais consultadas pelos leitores em elpais.es". A última das 14 páginas exibe informação bolsista, o tempo e o cartoon diário exclusivo de Ramón Rodriguez.

O target deste novo projecto do grupo Prisa é "o público da imprensa tradicional que não gosta de ler no ecrã mas quer saber as últimas notícias e tem pouco tempo, exige agilidade", refere Ruth Blanch. A responsável rejeita a competição do 24 Horas com o El País, sublinhando que o novo projecto é um jornal para imprimir e ler as notícias mais importantes das últimas horas.

Manuel Pinto, investigador e professor da Universidade do Minho, acredita que este projecto pode ser uma preparação do El País para a fase "pós-papel" - que não perspectiva para breve. Trata-se da "transição entre o impresso e o online", numa experiência semelhante à que o belga De Tijd encetou no início do mês. O investigador considera que "há uma clara aproximação a um novo suporte que pode evoluir para o papel digital".
No caso do 24 Horas, destaca a "vantagem da paginação que permite criar uma réplica de um jornal, definindo o que é o destaque, a manchete" e assegurando as referências dos títulos tradicionais em papel. Manuel Pinto vai ficar atento às próximas "edições" deste 24 Horas. Numa primeira leitura, considera que o jornal mantém uma relação "convencional" com o leitor. "Ainda não é o daily-me", o "meu jornal" caminho por onde deverá passar, na sua análise, o futuro da imprensa.

Assistimos à "rentabilização das empresas de papel", analisa João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (API). "Antes os jornais comentavam o que passava nas rádios e nas televisões, agora mostram que também podem dar notícias na hora, no momento e com uma mais-valia: permitem guardar a informação", aponta.

Palmeiro não tem dúvidas de que "a satisfação das necessidades de informação das pessoas está a mudar", mas não perspectiva o fim do papel. Antes sublinha que os "estatutos editoriais dos jornais vão ser valorizados", porque numa sociedade cheia de estímulos informativos "as pessoas precisam de se orientar".

No 24 Horas o presidente da API não vê grande novidade. Trata-se "do regresso de um projecto dos anos 90, em que havia uma forte concorrência entre o El País impresso e na Net, "em moldes mais adequados aos tempos modernos".

Anónimo disse...

24 Horas do El País assume-se como uma resposta aos jornais gratuitos

Ana Machado, in Público, 2006-05-01

José Luis Orihuela, investigador espanhol, comenta o aparecimento do primeiro diário online actualizado ao minuto e defende que o futuro dos jornais não passa pelo papel

E se de repente o seu jornal preferido fosse um programa informático? Passada a primeira semana de vida do novo projecto 24 Horas do diário espanhol El País, o primeiro diário online actualizado ao minuto que pode ser imprimido numa lógica gráfica de jornal, um dos responsáveis do projecto conta como tudo está a correr e como este formato inovador nasceu para fazer frente ao grande fenómeno actual da imprensa: os jornais gratuitos.
"Queria falar com alguém da redacção do 24 Horas". Do lado de lá a resposta parece vir do futuro: "O 24 Horas não tem redacção. É um programa informático", responde um dos jornalistas do El País.es, o serviço online do diário espanhol, que alimenta as 15 páginas, actualizadas minuto a minuto, do novo projecto do grupo Prisa.
No fundo, tal como bem descreve uma pormenorizada infografia multimédia disponível na página de Internet do El País, o 24 Horas é um diário para ler quando se acorda, à mesa do pequeno almoço, no trabalho, à hora de almoço, enquanto se espera pelos transportes ou depois de um jogo de futebol. Sempre com notícias frescas, como se de uma nova edição se tratasse. E sempre de papel na mão.

Jorge Martín, da Prisa.com, um dos responsáveis do projecto, explica como nasceu a ideia de fazer um jornal na Internet, actualizado minuto a minuto, e que parece ao mesmo tempo, em termos gráficos, um jornal tradicional: "É, sem dúvida, uma resposta ao sucesso dos gratuitos. Na realidade queríamos um jornal, com formato de jornal, que se distribuísse pela net gratuitamente. Uma forma de chegar a mais gente. E queríamos que o leitor pudesse sentir que aquele também podia ser um jornal de papel, bastando para isso que se imprima o 24 Horas". No primeiro dia, faz hoje uma semana, o 24 Horas teve 50 mil leitores.

Isto significa que as pessoas querem ler menos e que querem escolher quando e onde ler? "Não creio que no futuro se vá ler menos, pelo contrário. Tudo parece indicar que cada vez dedicamos mais tempo a informarmo-nos, apesar de não estarmos hoje melhor informados", defende José Luis Orihuela, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra e autor do blog eCuaderno.com , estudioso das novas tendências dos media.

Orihuela acrescenta que o leitor do futuro quer, isso sim, "níveis crescentes de personalização tanto dos conteúdos como dos dispositivos e das circunstâncias de leitura", defende, aludindo também a uma das particularidades do 24 Horas, onde o leitor pode personalizar o conteúdo conforme lhe interesse mais ler sobre economia, desporto ou notícias nacionais, sobre Espanha. E onde ainda pode, se for assinante, recusar-se a receber o jornal com publicidade.

O fim do papel?

"É um jornal", afirma Jorge Martín. Mas sobre o facto de alguns teóricos já anunciarem que esta é a forma do prestigiado diário espanhol El País, preparar, prudentemente o fim do papel, Jorge Martín discorda: "Não creio que isto signifique que estejamos a preparar o fim do papel. Os jornais em papel terão sim de fazer algumas alterações para o futuro".

A mesma opinião é partilhada por Orihuela. "O que coloca em perigo os jornais é a perda de leitores. Mas o papel nunca morrerá. O que se passa é que o futuro dos diários não passa pelo papel". E acrescenta: "Os passos mais importantes do jornalismo online ainda não foram dados e são difíceis. Não se trata de adaptar tecnologias mas sim de mudar a cultura das redacções e das empresas".

Sobre se o conceito agora inventado pelo El País, é um ponto de encontro entre o conceito clássico de jornal em papel e o jornalismo digital e se é este o caminho para cativar as novas gerações de leitores, Orihuela é céptico: "O ponto de encontro entre os diários em papel e os cibermedia não é um documento portátil mas sim um dispositivo portátil, que permitirá actualizar o jornal em tempo real. Será um ecrã flexível ligado à Internet", lembra sobre algo que, apesar de parecer futurista, é um projecto há anos estudado no MediaLab do Massachusetts Institute of Technology,nos Estados Unidos, e que até já está a ser experimentado na Bélgica, onde o jornal belga deTijdse baseou numa tecnologia chamada eInk e colocou um inovador formato electrónico de edição - um ecrã manipulável como uma folha e que se actualiza como um computador - à experiência de 200 dos seus leitores.