Os pré-candidatos...
Acabaram-se as autárquicas, venham as eleições para a Presidência da República. Se o Mário Soares já tem um blogue de apoio, há outros "pré-candidatos" que já têm páginas na internet. A saber, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa, João Vieira, Manuel Alegre e Manuela Magno, por enquanto...
PS - Preparem-se, amanhã deve aparecer por aí toda a parafernália propangandística daquele que é conhecido como "O Pai do Monstro!"
2 comentários:
A corrida presidencial só ontem começou verdadeiramente, com a oficialização da candidatura de Cavaco Silva. Com ela arranca um debate político que tem todos os ingredientes para ser dos mais profundos – e, espera-se, elevados – da última década. Cavaco e Soares estão ombro-a-ombro no protagonismo que tiveram na vida política do país democrático.
Um, verdadeiro animal político, foi determinante a dar forma ao regime institucional e partidário que temos hoje. Foi Soares quem normalizou o país no seu tempo e no seu espaço europeu.
Outro, de perfil mais tecnocrático, deu o impulso de modernização que se impunha depois da estabilização política. Cavaco fez reformas económicas e políticas determinantes para o salto de desenvolvimento da década de 90.
Dificilmente dois curriculuns podiam ser mais complementares. Tão diferentes no conteúdo mas tão próximos na importância.
A diversidade dos dois perfis é um bom ponto de partida para um debate que terá que ser feito: os limites da função presidencial e a forma como cada candidato a interpreta.
A discussão tem hoje um enquadramento que não tinha há 10 anos, quando Cavaco e Sampaio protagonizaram o último verdadeiro duelo presidencial.
Hoje o país está mergulhado numa crise de modelo de desenvolvimento e tem assistido ao falhanço de sucessivos governos. Não estando em causa a estabilidade governativa, estão ameaçados a estabilidade social e económica e o bem-estar colectivo a médio prazo.
Este é um cenário novo, que coloca ao futuro inquilino de Belém, como já colocou a Sampaio, um novo patamar de acção, pouco compatível com um papel tipo «rainha da Inglaterra»: pode e deve um Presidente ser um acelerador de reformas? E de que forma pode o Presidente fazê-lo sem entrar no campo de acção de Governo?
O tema já começa a ser aflorado na sua forma mais prática: qual é a melhor coabitação para o Governo de José Sócrates, que tem mostrado vontade de fazer? Um político nato do mesmo partido? Ou um reformista convicto do outro partido?
Esta é a verdadeira chave do «jackpot» destas eleições presidenciais.
Os sinais dos últimos dias são tudo menos claros. Têm saído da área política do PSD os apoios mais genuínos ao Orçamento do Estado, que não só elogiam o caminho que é seguido como pedem mais profundidade nas reformas mais duras.
E não será difícil adivinhar que a opinião de Cavaco andará muito próxima da que têm expressado economistas como Miguel Beleza, João César das Neves ou Eduardo Catroga.
Já em Mário Soares é-lhe conhecida a fraca inspiração para números, compensada com um sentido político ímpar e por uma defesa dos valores sociais e humanistas da esquerda socialista.
São estas duas influências distintas sobre a governação que vão estar em jogo nestas eleições. Delas podem sair sinais importantes sobre a forma como os portugueses olham para possíveis mudanças no modelo social. A discussão que está em curso é essa e mais nenhuma.
Ambos mudaram nos últimos 10 anos. Mas a diferença está na forma como se interioriza o desafio e se prepara o combate. Para Mário Soares o regresso aconteceu pelas circunstâncias, embora a vontade tenha sido construída; em Cavaco Silva o processo foi-se solidificando.
Viu-se ontem, por contraponto com o longo monólogo do seu adversário. A primeira impressão confirma o que está assimilado pela generalidade da opinião pública: falta saber se Cavaco ganha à primeira ou se será obrigado a um esforço suplementar. É óbvio que Soares partiu em desvantagem. Por razões conhecidas e justificáveis – algumas das quais poderiam ter sido contrariadas pelas características inatas do candidato. Mário Soares sempre se mostrou aos portugueses como um político sem medo da adversidade, capaz de inverter o resultado antes do fim do jogo. Tem feito o contrário. Dois exemplos: já disse que os responsáveis pelas sondagens que lhe são desfavoráveis terão que ser responsabilizados pelo seu trabalho; já acusou a comunicação social de estar a levar o adversário «ao colo». Vimos estes erros em Santana Lopes. Cavaco privilegiou os jornalistas na sua primeira intervenção. Aprendeu com Soares.
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