quinta-feira, outubro 13, 2005

Apre(e)nder sempre


(Publicado na edição de 13 de Outubro de 2005 do jornal POSTAL DO ALGARVE)


Um velho mestre demonstrou-me as vantagens práticas do desenvolvimento do sentido de observação e da capacidade de aprendizagem ao longo da vida. Independentemente da idade, com humildade e persistência, há que saber aprender sempre…

Qualquer observador razoável deve aproveitar as eleições do último domingo para retirar alguns ensinamentos. Tanto no Algarve como no resto do País. Pela positiva e pela negativa. Repetir os erros deste processo eleitoral seria imperdoável. Replicar os modelos que se revelaram bem sucedidos não envergonhará ninguém!

Pela primeira vez em trinta anos de Poder Local Democrático, os dezasseis presidentes de câmara em exercício voltaram a recandidatar-se pelos seus partidos. Catorze deles foram reeleitos, dois ficaram pelo caminho. Mais, os eleitores algarvios souberam penalizar a demagogia e o populismo. Melhor ainda, souberam premiar quem deu o melhor de si, estabilizando a actividade autárquica e reforçando maiorias. Inteligentemente, também actuou em sentido contrário…

Se o desgaste do poder pode ser apontado como a causa principal da mudança em Vila Real de Santo António, que dizer da queda de omnipotente José Vitorino em Faro?!

Não podemos esquecermo-nos que António Murta governou quatro anos em minoria nos órgãos municipais, com as juntas de freguesia sob a liderança da oposição. Nem que José Vitorino se encerrou no gabinete, isolando-se de amigos e conhecidos e que se limitou a gerir os projectos e as obras herdadas de Luís Coelho, apesar de ter maioria absoluta na câmara e na assembleia municipal.

Candidato derrotado em 2001, Luís Gomes formou uma equipa de trabalho coesa e dinâmica, estendeu uma teia de cumplicidades com a CDU na oposição municipal e foi recolhendo apoios por onde passou, quer no PSD, quer nos corredores governamentais, que agora se revelaram decisivos.

Apesar de seu percurso pelos Passos Perdidos, na Europa e no Terreiro do Paço, nos últimos vinte anos José Apolinário nunca desistiu do Algarve. Sacrificando o seu bem-estar pessoal, profissional e familiar, depois da liderança da Juventude Socialista abraçou a federação regional do PS, devorando quilómetros e estabelecendo as bases que levaram às votações maioritárias nas eleições legislativas de 1995 a 2005. Com a derrota de Luís Coelho em 2001, viu a oportunidade de liderar o processo de reconquista dos órgãos autárquicos da capital da região e meteu mãos à obra…

Com método e trabalho, com honestidade e competência, desenvolveu um projecto para devolver a capitalidade perdida de Faro. Em estreita ligação com os órgãos locais do PS, sem quaisquer imposições, constituiu as equipas para os órgãos do município e das freguesias. Durante dois anos, geriu as necessidades de renovação, valorizou a intervenção dos autarcas mais experientes e motivou as novas gerações e inúmeras mulheres para a intervenção política. Com ele, se manter os princípios e os valores que sempre cultivou, acredito que Faro vai mudar!

PS – Nestas eleições, não posso deixar de realçar o acerto da maioria das sondagens que foram publicadas nos últimos dois meses. No essencial, acertaram na tendência de voto, embora com algumas lacunas nos diferenciais. Nos dias de hoje, são um instrumento essencial na condução da actividade política e não vale a pena manipulá-las ou fazer de conta que não existem…

7 comentários:

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

Um belo texto. Não há como acertar no alvo sem fazer pontaria. Como diria o Prof. Marcelo, há sobremesas que se servem sempre... frias!!!

WatchMan disse...

Ora aí está! E não são sempre as sobremesas. As análises devem ser feitas friamente, mesmo que com um cheirinho a rosas pelo meio. eheheheheheh
É preciso trabalhar muito para ganhar uma Câmara. Isso provou-se nesta campanha. Mas é incrívelmente mais difícil perdê-la, dados os meios e os talentos que se pode usar estando no poder. E isto, meus caros, sem demagogia nenhuma é a Real Politik!!! Houve quem me dissesse "Não se ganham Câmaras... perdem-se!"
Um abraço farense!

Anónimo disse...

A última questão, sobre as sondagens, é pertinente. Veja-se a reacção de Vitorino, que, em vez de assumir com dignidade a derrota, atribui as culpas às sondagens, como se pode ler no jornal «barlavento» de hoje. A culpa não é das sondagens. As sondagens, quando bem feitas - e na maioria sê-lo-ão - dão uma ideia das tendências do eleitorado. E os políticos, em vez de chamarem nomes às empresas de sondagens e aos jornais que as publicam, deviam reflectir sobre o que elas traduzem... Talvez isso tivesse servido de alguma coisa a José Vitorino, em Faro!

Anónimo disse...

Recomendo-vos vivamente a leitura do artigo de José Carlos Vasconcellos na revista VISÃO, intitulado "O PS que nunca aprende"...
Leitura especialmente recomendada para certos dirigentes regionais que venceram as eleições sem ganharem nada em termos relativos (7-1+1=7) e para certos aparelhos locais que insistiram em velhos dinossáurios e não cuidaram da devida renovação, antes pelo contrário!

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Caríssimo, depois daquilo que ouvimos esta noite, está provado que há pessoas que não toleram uma "não vitória" e que não aprendem nada com o tempo...

Gostei particularmente da tua intervenção final, conseguiste mostrar um conhecimento e uma superioridade que silenciou a sala, ultrapassando as lamúrias e lançaste um desafio que é para ser agarrado por quem tiver... unhas!

PS - O teu "amigo" de Tavira deve ter ficado com as orelhas a arder!