quinta-feira, outubro 27, 2005

As reformas que Portugal precisa


(Publicado na edição de 27 de Outubro de 2005 do jornal POSTAL DO ALGARVE)

O primeiro Orçamento de José Sócrates (OE’2006) oferece pouco e exige muito, parecendo ser um contributo para Portugal aprender a viver dentro das suas possibilidades. Tal como qualquer um de nós, tal como qualquer família…

Trata-se efectivamente de um orçamento credível, de consolidação e de crescimento. Mantendo os objectivos políticos determinados no programa do Governo, o cenário macroeconómico é credível, não há vestígios de sub-orçamentação ou receitas extraordinárias, as projecções do crescimento económico e da evolução do petróleo são realistas. É unanimemente considerado pelos economistas como um exercício sério e coerente, sem truques nem sinais de criatividade. Como o Presidente da República tinha exigido, define objectivos e uma calendarização para a sua implementação numa base plurianual, o que sucede pela primeira vez…

Teixeira dos Santos aposta na contenção e na redução efectiva da despesa pública e cria as bases para uma nova política de gestão dos recursos humanos, resistindo às tentações de partidarizar a máquina pública (lembram-se do “Pai do Monstro?!). Por outro lado, o OE’2006 promove as condições para a sustentabilidade da Segurança Social, acabando com privilégios injustificados, e melhora a qualidade da despesa e do investimento públicos. Melhor, define as linhas de orientação para simplificar e moralizar o sistema fiscal e reduzir o peso do Estado na economia!

Contudo, a seriedade não chega se não estiver acompanhada de visão e de vontade política de reformar. As propostas apresentadas na Assembleia da República contém as medidas para o efectivo emagrecimento do Estado, agilizando as suas estruturas e colocando-as ao serviço dos cidadãos e das empresas, e promovendo condições de maior eficiência e competitividade.

Com este Orçamento, o Estado coloca-se ao lado dos criadores de riqueza, partilhando com eles o esforço de recuperação da economia nacional, esperando-se já no próximo ano a retoma do investimento privado, muito por acção do Programa de Investimentos em Infra-estruturas Prioritárias (PIIP), apresentado em Julho.

Sobre as principais mudanças no Estado geradas pelo OE’2006 falaremos numa próxima oportunidade, mas não posso deixar de salientar o processo de revisão da Lei das Finanças Locais, agora que os novos executivos municipais e paroquiais estão empossados, reduzindo a sua dependência do sector da construção civil.

Para consolidar o processo de descentralização orçamental iniciado pelos governos de António Guterres há que melhorar os critérios de participação das autarquias no OE e a eficiência da afectação dos recursos públicos, aumentar a responsabilização dos governos locais e dinamizar a participação dos cidadãos na tomada de decisões colectivas, através da implementação progressiva do orçamento participado.

É fundamental que se verifique uma correspondência entre os custos e os benefícios políticos, ou seja o nível de administração que efectue as transferências e as despesas públicas também aplique e cobre os impostos e as taxas, revendo-se o regime legal dos poderes tributários dos municípios.

É imperioso que os níveis de endividamento sejam inferiores aos valores de investimento municipal, acabando com o recurso à banca para pagar despesas correntes, deferindo os seus custos para as gerações futuras…

2 comentários:

Miguel disse...

Vamos Ver ...

Boa Semana e Bjks da matilde

Anónimo disse...

Associações empresariais contra portagens na Via do Infante

Cinco associações empresariais do Algarve afirmam-se "atentas e mobilizadas" para voltar aos protestos públicos

As cinco principais associações empresarias do Algarve reafirmaram ontem a sua oposição à introdução de portagens na Via do Infante, por falta de uma estrada alternativa. A questão voltou a colocar-se após as recentes afirmações dos ministros das Finanças e das Obras Públicas, Teixeira dos Santos e Mário Lino, anunciando a necessidade de "fazer um estudo" para avaliar a situação das Scut (auto-estradas sem custo para o utilizador).
No Algarve, essas palavras, dizem os empresários, "foram entendidas como demonstrando uma intenção do Governo de voltar atrás com a palavra dada sobre esta matéria". Em comunicado ontem divulgado, as estruturas associativas empresariais - ACRAL, AHETA, AIHSA, CEAL e NERA - lembraram que a Estrada Nacional 125 (EN125) não é mais do que uma "rua" e que "por várias vezes" o primeiro-ministro José Sócrates reconheceu essa evidência.
A hipotética aplicação de portagens na Via do Infante, alegam, "iria sobrecarregar ainda mais a EN125 e provocar um caos inimaginável". Nos meses de Verão, principalmente, esta estrada marginal encontra-se permanentemente congestionada, sendo considerada uma das vias de maior sinistralidade do país. As associações empresariais já em Novembro do ano passado se tinham colocado à cabeça do "buzinão" que bloqueou a EN125 na zona de Albufeira.
Agora, voltam a recordar que estão "atentas e mobilizadas" para regressar ao protesto público, caso o Governo falte ao compromisso assumido no programa eleitoral do Partido Socialista. A reivindicação, afirmam, não se destina a criar uma situação de "privilégio para as empresas e os cidadãos do Algarve". O que está em causa, dizem, "são as condições para tornar competitiva a economia do turismo", sublinhando que "na Andaluzia, a região vizinha concorrente, as auto-estradas nas zonas turísticas não são pagas".
Os dirigentes empresariais dizem-se conscientes do "momento difícil" que a economia atravessa, mas entendem que o objectivo traçado pelo Governo para ganhar competitividade não se atinge com a introdução de portagens na Via do Infante. A economia do Algarve, enquanto maior destino turístico, contribui com cerca de 3500 milhões de euros de receitas externas por ano, uma receita que "cobre mais de 20 por cento do défice da balança comercial de Portugal".
(por Idálio Revez, in Público, 2005-11-01)