quarta-feira, junho 29, 2005

Uma estrela na Terra...


O Reactor Experimental Termonuclear Internacional (ITER na sigla inglesa), vai ser construído em França, anuncia-nos hoje o Observatório do Algarve. A decisão foi tomada ontem em Moscovo, entre os seis membros do consórcio que vai gerir o projecto estimado em dez mil milhões de euros e que estará construído num prazo de dez anos.

A União Europeia, a Rússia e a China, de um lado, e os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão, do outro, resolveram um impasse de um ano gerado pelas duas localizações propostas - Rokkasho-mura, no Norte do Japão, e Cadarache, no Sul de França.

Compreende-se o regojizo dos franceses, ainda a lamberem as feridas do Referendo Europeu, pela opção pelo local proposto pela União Europeia, pois o ITER é o maior investimento em contexto de cooperação científica internacional a seguir à Estação Espacial Internacional.

Metade do investimento será suportado pela União Europeia, cujo VI Programa-Quadro de Investigação (2002-2006) já prevê 750 milhões de euros para este projecto, enquanto os restantes países contribuem com dez por cento do investimento, sendo que o Japão assumirá a direcção do projecto e ocupará 20 por cento dos postos de trabalho.

O objectivo do ITER é copiar o processo de criação de energia das estrelas, como o Sol, onde se atingem temperaturas de dez milhões de graus Celsius. Muito menos poluidor do que a fissão nuclear, o processo de fusão consiste em fundir núcleos de átomos de hidrogénio, o elemento químico mais leve da natureza, sujeitando esses átomos a uma temperatura de 100 milhões de graus. Os isótopos de hidrogénio - deutério e lítio - vão originar átomos de hélio, mais pesados. O aumento de massa dá lugar a uma libertação exponencial de energia, conforme ficou demonstrado na célebre teoria da relatividade restrita, de Albert Einstein.

É este fenómeno, que já foi usado pelas piores razões na bomba de hidrogénio, que será agora utilizado, com fins pacíficos e utilitários, para construir a primeira central de produção de energia por fusão nuclear. Um quilo de combustível para produzir energia por fusão equivale a dez milhões de quilos necessários para obter a mesma energia com combustíveis fósseis. Além disso, a energia libertada por este fenómeno é considerada praticamente limpa, defendem os cientistas, uma vez que a fusão produz muito poucos resíduos, comparando com a fissão ou cisão,o processo convencional de produção energética.

Quando se começa a falar de novo na construção de uma central nuclear em Portugal, é bom que estejamos atentos às novas tecnologias e às possibilidades que elas proporcionam...

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