quinta-feira, junho 09, 2005

Finalmente…


(Publicado na edição de 9 de Junho de 2005 do jornal POSTAL DO ALGARVE)

O Conselho de Ministros Extraordinário do último domingo, realizado na vila de Sagres, vai ficar na memória pela aprovação do Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) do Sotavento Algarvio.

Abrangendo o litoral de seis concelhos, entre Vilamoura e Vila Real de Santo António, com esta resolução procede-se à aprovação do último dos POOC’s previstos para a zona costeira do continente, encerrando-se assim um processo iniciado na segunda metade da década de noventa e da maior importância para a defesa do litoral.

O POOC do Sotavento Algarvio estabelece regimes de salvaguarda de recursos e valores naturais e fixa os usos e o regime de gestão, com vista a assegurar a permanência dos sistemas indispensáveis à utilização sustentável da sua área de intervenção.

O POOC visa, em especial, o ordenamento dos diferentes usos e actividades específicas da orla costeira, a classificação das praias e a regulamentação do uso balnear; a valorização e qualificação das praias consideradas estratégicas por motivos ambientais ou turísticos e a orientação do desenvolvimento de actividades específicas da orla costeira e a defesa e valorização dos recursos naturais e do património histórico e cultural.

Ninguém desconhece o valor deste património para a economia regional, cujo dinamismo depende quase exclusivamente do sector turístico e da qualidade do litoral, muitas vezes desprezado e continuamente agredido…

Felizmente, nos últimos anos, observou-se uma inversão na política de investimentos na preservação das zonas adjacentes e no tratamento das águas residuais. Decisões assumidas por José Sócrates, enquanto ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território, no início desta década!

Assim, foram investidos largos milhões de euros na protecção do cordão dunar da Ria Formosa e na requalificação das zonas balneares, conforme pode ser observado nas praias das Cabanas, da Terra Estreita e do Barril. Convinha não perder o rumo e garantir a conservação e o alargamento dos quilómetros de barreiras e de passadiços ali colocados!

Da mesma forma, perante a incapacidade dos municípios para concretizarem tais investimentos, está a assistir-se a uma revolução silenciosa no tratamento das águas residuais. É exemplo disso a construção do sistema de recolha e tratamento dos esgotos no litoral do concelho de Tavira, a cargo da empresa pública Águas do Algarve, que incluem a construção de colectores, estações elevatórias e de estações de tratamento, bem como a sua exploração no futuro. Só assim será possível garantir a qualidade das águas balneares e a continuidade da Ria Formosa como símbolo de excelência ambiental!

Finalmente, para o melhor e para o pior, temos Governo. É bom que se perceba qual o destino dos nossos esforços e que alguns sacrifícios são justificados pelo bem comum. Neste caso concreto, as próximas gerações serão as principais beneficiárias da nossa herança!

1 comentário:

Anónimo disse...

Senhor Leitor,

Adapte-se ao País em que vive!

Quer uma casa junto à praia, com vista magnífica, num ambiente excepcional, e que lhe pode dar rendimentos chorudos no futuro? Não hesite! Ao longo dos 800km do litoral português escolha o local que mais lhe agrada. Entre as zonas mais apetecíveis ressalta a Ria Formosa. Compre uns tijolos e umas sacas de cimento, convide uns amigos e construa a casa que lhe agrada. Não convém ser, logo de início, muito grande. As ampliações sucessivas virão depois!

Construa-a rapidamente, se possível para que, numa única noite, fique com telhado: assim, poderá ainda aproveitar este verão, além de que lhe poderá evitar algumas inconveniências, como a de lhe tentarem embargar a obra! Se a embargarem, não ligue e continue a construção: ninguém fará nada de significativo e, como sabe, mesmo que o caso vá para tribunal, se arranjar um bom advogado, acabará por terminar a sua longa vida sem o caso ficar resolvido, isto se o caso não prescrever antes!

Pelo sim, pelo não, transforme oficialmente essa casa na sua habitação principal, e se tiver uma vivenda legalizada com todas as comodidades diga que é a sua habitação secundária. No verão, como por certo só passará na sua casa de praia (habitação teoricamente principal) um mês de férias, alugue-a o resto do tempo. Sabe quanto poderá lucrar? Com isso poderá passar o resto das férias no Brasil, ou na Tailândia, ou noutro qualquer destino turístico mítico.

Não se preocupe com a titularidade do terreno: é nosso!

Não se preocupe com projectos e licenças: é uma trabalheira a evitar além de que é um gasto de dinheiro escusado!

Não se preocupe se inicialmente não tem luz eléctrica e água canalizada: mais tarde ou mais cedo a Câmara tratará disso (e cobrará as taxas correspondentes)!

Não se preocupe se, no inverno, o mar lhe vier ameaçar ou mesmo destruir parte da casa: o Estado acorrerá a protegê-la!

Não se preocupe se o Estado ameaçar demolir a sua casa clandestina: o próprio Estado se oporá à demolição, além de que não há dinheiro para isso!

Não se preocupe se vir os turistas que interessam deixarem de vir para esta região, escolhendo outros destinos turísticos, no estrangeiro, e aí deixando o seu dinheiro: o governo arranjará alguma forma de "sacar" dinheiro à União Europeia!

Não se preocupe se vir as dunas desaparecerem, a maré avançar até quase à sua porta, o ambiente circundante ficar completamente degradado: será muito azar que alguma coisa realmente nefasta ocorra durante a sua vida, e depois disso, eles (os nossos filhos e netos) que se amanhem!

Não se preocupe com problemas de consciência ambiental, com o desenvolvimento sustentável, e com outras "tretas" do género: em Roma sê romano . e nesta "Roma" que é o nosso País, os "romanos" são assim!

Dizia Eça nos Maias: "Nunca houve uma choldra assim no Universo".

E como dizia Ruy Belo no poema Portugal Sacro-Profano Lugar Onde: "Neste país sem olhos e sem boca" é fartar vilanagem.

Por João Alveirinho Dias (Professor Associado da Universidade do Algarve e coordenador científico do Centro de Investigação os Ambientes Marinhos e Costeiros, natural de Castelo Branco, com 55 anos, licenciou-se e doutorou-se em geologia pela Universidade de Lisboa onde, desde 1992, é professor convidado para as áreas de geologia marinha e geologia costeira.)