(Publicado na edição de 14 de Outubro de 2004 do jornal POSTAL DO ALGARVE)
A gestão calculista dos calendários e dos compromissos eleitorais leva a que durante muito tempo não se veja obra e trabalho dignos desses nomes e, de repente, tudo comece a brotar da terra, seja de forma concreta e real, seja no formato virtual…
Espantado com tanta fartura, o povo desconfia e suspira por eleições anuais, embora muitas vezes até suspeite que “o rei vai nu!”
É que as obras prometidas e que até fazem muita falta, continuam a ser adiadas ou embrulhadas em generosos pacotes de investimentos, não interessando nada quem seja o promotor, mas cuja dimensão e montantes acabam por justificar o seu adiamento para as calendas, se bem que a primeira pedra já esteja lançada, as imagens da praxe no jornal ou na televisão e o concurso numa fase qualquer…
Conforme ficou demonstrado nos últimos dias, a gestão das expectativas dos cidadãos começa pela promessa mil vezes repetida do aumento dos salários, dos vencimentos e das pensões, pela redução dos impostos e pela aposta no investimento público.
Se tal não for suficiente, pressiona-se e traficam-se influências, interesses e dinheiros públicos, silenciam-se os comentadores que sejam mais acutilantes e ameaçam-se os outros com uns processos em tribunal. Está na moda e parece ser remédio santo!
E se tudo isto é verdade a nível nacional ou regional, se apertarmos a quadrícula da análise, o retrato não fica melhor…
Quando o PDM foi aprovado, estavam prontos para arrancar em Tavira um conjunto de projectos que contribuíram para mudar a cidade e o concelho. O reforço do abastecimento de água, o Palácio da Galeria e as Piscinas Municipais são símbolos desse futuro concretizado. O Mercado Municipal estava na fase final de construção e a renovação do Mercado da Ribeira era uma consequência inevitável!
Porém, apesar do crescimento gradual dos orçamentos municipais, a segunda fase do Palácio, o arranjo urbanístico da Horta do Carmo, as marginais de Santa Luzia e das Cabanas, o Fórum Cultural de Tavira, o Centro Ciência Viva, a escola profissional, o pólo universitário e a reformulação da rede de saneamento básico não passam de projectos anunciados e nunca concretizados!
É incrível que, não obstante permitirem a criação de centenas de postos de trabalho, a zona industrial de Santa Margarida e o parque de feiras e exposições do Mato de Santo Espírito não tenham passado do papel.
Pela parte do Estado, as obras da Pousada da ENATUR arrastam-se e na Pousada da Juventude nem começaram. O Quartel da GNR ficou-se pela primeira pedra e os terrenos destinados ao porto de pesca permanecem abandonados.
Sem declaração de calamidade pública, os proprietários afectados pelos incêndios de Julho e Agosto desesperam pela ausência de apoios e subsídios. Para piorar a situação, os prédios situados na Conceição beneficiam de redução do imposto municipal e em Santa Maria tal não pode ser considerado!?
Parece-nos que alguém anda muito distraído com outras funções e pouco empenhado em desenvolver Tavira com qualidade e solidariedade. Esta falta de atenção e de tempo gera uma conflituosidade escusada, favorece o desperdício de meios e recursos escassos e essenciais para promover o progresso sustentado da nossa terra. Pior, faz-nos perder oportunidades na disputa inter-concelhia para atrair investimentos geradores de emprego duradouros e bem remunerados!
Tavira precisa de mais dedicação, de autarcas que saibam compreender e manter a alma da cidade, de quem tenha tempo para dar mais atenção às suas gentes, de quem saiba dialogar com o Governo e garantir soluções de futuro.
É por tudo isto que, aqui e no País, florescem os sinais de mudança!
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