Esquecido pela sua cidade natal, o poeta António Ramos Rosa completa hoje 80 anos de idade. Certamente, a beleza dos seus poemas e a serenidade distante não se enquadram no ritmo eleitoraleiro e populista da oligarquia reinante...
Outro algarvio e farense, Gastão Cruz, lança-lhe uma saudação pública, no mesmo jornal que inclui um poema inédito que não resistimos a inserir por aqui...
"O espaço do olhar é tão claro e aberto
que nós estamos no mundo antes de o pensarmos
e nada nele indica que exista um outro lado
de sombras incertas de silêncios abismais
Vivemos no seio da luz onde o inteiro vibra
com a sua evidência de claro planeta
e ainda que divididos vivemos no seu espaço uno
porque é o único em que podemos respirar
As nossas sombras não nos acolhem como folhas
envolvendo o fruto o nosso desamparo vem de mais fundo
e nele não podemos manter-nos temos de ascender
ao móvel girassol do nosso olhar
ainda que seja só para ver a fulva monotonia do deserto
A vocação da pupila é o imediato universal
quer caminhemos numa rua quer viajemos pelo mundo
quer ainda diante de uma página em branco
A palavra pode anteceder a visão mas também ela é atraída
para o luminoso espaço em que desenha os seus contornos
Como poderia a palavra fingir o que lhe foge
sem a superfície de um solo iluminado?"
Parabéns, António Ramos Rosa!
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