"Se escrevo é porque nunca vejo mesmo quando vejo
e porque o que sinto mesmo quando me deslumbro é sempre indefinido
mas não escrevo para chegar a uma conclusão
nem para determinar o que é inexprimível
Embora não veja eu vejo sempre um pouco
e com esse pouco através da palavra posso chegar a ver
as qualidades que nos sugerem um mundo outro
que é a sua identidade que nós mal conhecemos
O que me deslumbra de súbito é um frémito um fulgor
que numa coisa só pode ser uma chama do universo
e nesse vislumbre vejo a possibilidade de ser outro
ou de ser aquele que sou como possibilidade pura
Quando uma qualidade do mundo resplandece
é o aquém de nós que se levanta
e é dele que parto é para ele que vou"
António Ramos Rosa, Poeta, Algarvio, in Deambulações Oblíquas, 2001
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