quinta-feira, julho 08, 2004

A sorte grande

(Publicado na edição de 8 de Julho de 2004 do jornal POSTAL DO ALGARVE)

1. A sorte grande saiu a José Manuel Barroso. De uma assentada, livra-se dos inconvenientes de um partido que não dominava, de um Governo a precisar de recauchutagem e de um País que não conseguia melhorar...

Castigado pela enorme derrota de 13 de Junho, a fuga para a presidência da Comissão Europeia gera uma instabilidade política inesperada e permite-lhe deixar o partido nas mãos de Santana Lopes e do lóbi autárquico, abandonar um Governo paralisado e sem soluções de futuro e livrar-se do balanço inevitavelmente negativo da sua liderança, marcada pela incapacidade de cumprir as promessas eleitorais e pela submissão às vontades e aos votos do CDS/PP, que lhe garantiram em São Bento uma maioria absoluta que não obteve nas urnas!

Para aqueles que têm a memória menos fresca, recorde-se que Durão Barroso ganhou o partido negando a possibilidade de coligação com o CDS/PP, defendida então por Marcelo Rebelo de Sousa. Recorde-se que Durão Barroso acabou enredado na teia montada por Santana Lopes em relação às Presidenciais, quando a maioria dos seus militantes preferiria Cavaco Silva...

Numa sociedade em que os eleitores tendem a votar em líderes, cujas ideias e programas passam despercebidos, percebem-se as reticências de muita gente relativamente à continuação de um Governo com outro Primeiro-Ministro e sustentado pela actual “maioria” parlamentar...

2. Pode ser que a sorte grande também saía aos portugueses. Depois deste reforço de ânimo garantido pela excepcional prestação da selecção nacional e pela notável organização do Campeonato da Europa, pode ser que Jorge Sampaio decida convocar eleições antecipadas para a Assembleia da República...

Na última crónica, escrevi aqui que o Partido Socialista tinha percebido a mensagem dos portugueses e que aceitava a responsabilidade de apresentar oportunamente uma alternativa credível de governo. Confesso-vos que não esperava que a oportunidade surgisse tão cedo!

Felizmente, o PS encarou essa possibilidade desde a primeira hora. Sob a coordenação de António José Seguro e de Luís Nazaré, desde a eleição do primeiro para a liderança do Grupo Parlamentar, o Gabinete de Estudos do PS tem vindo a desenvolver um trabalho exaustivo e rigoroso, sector a sector, promovendo a análise da actividade governativa e a elaboração de propostas a incluir no seu programa de Governo, numa missão que envolve cerca de quatro mil cidadãs e cidadãos de todo País.

Percebendo-se que a antecipação das eleições não causará danos de maior à retoma económica, essencial para consolidação desta onda de optimismo que atravessa Portugal, importa agora garantir que o próximo Governo assuma as suas funções com inteira responsabilidade e assente num programa de Legislatura que corresponda às necessidades do País e às expectativas dos portugueses!

Porém, estamos nas mãos de Jorge Sampaio. Sabendo que qualquer decisão que tome é legítima do ponto de vista constitucional, não podemos deixar de apelar ao respeito pelas suas convicções políticas, com base nas quais a maioria de todos nós confiou-lhe o cargo. O povo da esquerda não aceita o golpe palaciano que gerou esta crise política e, em conjunto com muitas personalidades do centro-direita, está unido na defesa da convocação de eleições antecipadas!

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