(Contributo apresentado na sessão do LIPP - Laboratório de ideias e propostas para Portugal)
Solicitam-nos
ideias e propostas para Portugal, contributos construtivos para um programa de
Governo e para outro caminho, com rumo certo ao crescimento e à prosperidade…
Apresento-vos
três ideias e propostas concretas de intervenção, alicerçadas no estudo e na
experiência, com provas dadas noutras realidades, mas que adaptam-se bem às
circunstâncias atuais e permitem-nos inverter esta tendência de empobrecimento.
Na
minha opinião, a reforma e o reforço do municipalismo, uma aposta decisiva nas
potencialidades da administração regional e a implementação de uma avaliação
das políticas públicas centrais, regionais e locais são contributos válidos e
possíveis.
1.
Reforma e o reforço do municipalismo
O
fracasso e a reprovação generalizada do processo em curso de extinção de
freguesias sustenta a necessidade da reforma autárquica iniciar-se pelo
municípios, não apenas pela sua redefinição em termos de território, mas também
no processo de eleição e composição dos seus órgãos (deliberativos e de
governação) e numa profunda reflexão sobre as suas competências.
É
necessário avaliar competências tradicionais e transferências recentes,
analisar as vantagens e os inconvenientes, redesenhar um novo quadro de áreas
de intervenção, articulados e partilhados com os restantes níveis da
administração, de forma a garantir os melhores serviços às comunidades locais
com uma utilização eficaz e eficiente dos parcos recursos públicos.
O
processo foi mal conduzido desde o início, continua a ignorar o preceituado
constitucional e vai fazer tábua raza dos contributos das assembleias
municipais e dos autarcas. Perante a dimensão do debate popular e das propostas
recebidas, a Assembleia da República deveria refletir e agir em conformidade,
seguindo os princípios sustentados no Documento Verde. Mas, como todos sabemos,
boas intenções leva-as o vento...
(NOTA - Neste contexto, o
PS-Algarve já apelou publicamente à Assembleia da República para suspender este
processo de imediato, mandatando o Governo para desenvolver um trabalho
preparatório sério sobre a reforma administrativa territorial autárquica e
promover uma verdadeira discussão nacional sobre este processo com os autarcas
eleitos em Outubro de 2013, aproveitando o espírito de abertura ao diálogo institucional
demonstrado nesta fase.)
2.
Aposta decisiva nas potencialidades da
administração regional
Mais,
devia recuar no processo de multiplicação das comunidades intermunicipais e
respeitar a Constituição da República Portuguesa, avançando para a instituição
em concreto das regiões administrativas. Estou convencido que, aproveitando a
onda de racionalização administrativa e o sentimento generalizado de contenção
da carga fiscal, esta seria a reforma da legislatura!
Porém,
ao propor a transferência de competências dos municípios para as áreas
metropolitanas ou para as comunidades intermunicipais, que não estão previstas
enquanto autarquia no texto constitucional, o Governo está criar mais
estruturas administrativas (fala-se em cerca de quarenta...), quando já existe
um consenso nacional alargado sobre a divisão do território nacional em apenas
cinco regiões administrativas, que poderiam assumir essas mesmas atribuições
numa perspetiva supramunicipal.
Para
além de não terem qualquer legitimidade política decorrente do sufrágio direto
e universal, as comunidades intermunicipais vão ser mais um elemento de confusão,
sem qualquer harmonização territorial com as demais circunscrições setoriais da
administração desconcentrada do Estado, ressalvando-se talvez a situação única
do Algarve...
Mais
do que uma decisão política absurda, esta pretensa reforma é um enorme passo
atrás que coloca em causa os resultados obtidos com o PRACE, durante os
governos de José Sócrates, ou com o PREMAC, já no consulado da maioria PPD-PSD/CDS-PP!
(NOTA – No dia 15 de
novembro, o Conselho de Ministros aprovou uma proposta de lei que estabelece o
regime jurídico das áreas regionais de turismo de Portugal continental, a sua
delimitação e características, bem como o regime jurídico da organização e
funcionamento das Entidades Regionais de Turismo, sendo consideradas apenas
cinco áreas regionais de turismo, coincidindo com a área de cada uma das
Nomenclaturas das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos de Nível II
(NUTS II), concretizando os princípios do PRACE e do PREMAC em matéria de
harmonização das circunscrições administrativas. Segundo o Governo, este novo
modelo produz uma racionalização da estrutura orgânica das entidades e reflete
um esforço de contenção financeira. Sublinha-se a redução de 16 para 5
estruturas regionais, a acentuada redução de cargos dirigentes remunerados - de
45 para 10-, a proibição da contratação de empréstimos que gerem dívida fundada
por parte das Entidades Regionais de Turismo e a introdução de rigorosos
critérios económico-financeiros que devem ser respeitados.)
3.
Implementação de uma avaliação das
políticas públicas centrais, regionais e locais
Há
quase quarenta anos que a reforma do Estado e da Administração está na ordem do
dia, sendo a discussão académica dominada por grupos que divergem na forma, no
rumo e no tamanho. Houve processos bem sucedidos e nesses a avaliação contínua
e permanente das funções do Estado e das políticas públicas foi determinante.
Não
se concretiza a “refundação do Estado” em três ou quatro meses, através de
alguns bitáites nos jornais e nas televisões ou elaborando documentos bonitos
para a troika levar…
(NOTA – Segundo o professor Oliveira
Rocha, da Universidade do Minho, “a construção do Estado social só se iniciou
verdadeiramente a seguir ao 25 de Abril de 1974 e terminou em 2004, trinta anos
de pouco crescimento económico. E fez-se sobretudo com o recurso a Fundos
Comunitários e à dívida pública, especialmente no que se respeita as
instalações (escolas, hospitais, centros de saúde, universidades e
politécnicos). E enquanto se reformava o Estado nos países europeus, em Portugal
este crescia.”)
Salvaguardando-se
as funções de soberania, as reformas traduziram-se na privatização das
atividades económicas detidas pelo setor público e na adoção progressiva de
instrumentos destinados a aumentar a eficiência, em ordem a salvar Estado
social. São outros exemplos dessas mudanças, a introdução do contrato
individual do trabalho, os processos de participação pública e de prestação de
contas, novas regras de gestão financeira ou o redimensionamento do território
com consequente alteração da administração local.
Hoje,
como nunca, é urgente e imperioso adotar uma prática de avaliação contínua e permanente
das políticas públicas e das estruturas que permitem a sua concretização,
concluindo os processos de reorganização atrás citados e eliminando estruturas
desnecessárias e redundantes, mantendo apenas aquilo que é essencial e que não
signifique sobreposição de funções, racionalizando e avaliando as funções da
administração tradicional, eliminando regimes especiais e situações de excepção
de algumas corporações.
Todavia,
este é um processo que deve ser claro e transparente, assumido na agenda
política previamente aos próximos processos eleitorais, e partilhado com os
cidadãos de forma aberta e responsável. Devemos recusar demagogia e
facilitismos, ser consequentes nos processos de avaliação e de participação dos
cidadãos, assumir as decisões e… não ter medo de errar!
(NOTA – O Município de
Tavira desenvolveu ao longo do último mês o seu processo de orçamento
participativo, partilhando com os cidadãos a sua situação económica e
financeira e apresentando propostas concretas de investimento, ao longo de
quinze sessões públicas onde participaram quase dois por cento da população do
concelho. Paralelamente na Internet, outros tantos cidadãos contribuíram
através de questionários para melhorar as políticas municipais. Estamos certos
que estes cidadãos vão partilhar com outros essas preocupações e a sua visão da
comunidade, permitindo-lhes uma participação cívica mais consciente e
responsável.)
Portimão,
1 de Dezembro de 2012
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