Estados de alma, intervenções e sinais de Tavira, do Algarve e de todo este mundo... e alguns raios de Sol!
sábado, setembro 16, 2006
Esgotados, atrasados e...
Segundo o Público, as edições de hoje dos semanários "Expresso" e "Sol", este último publicado pela primeira vez, esgotaram poucas horas depois de chegarem às bancas...
O "Sol", dirigido por antigos directores e responsáveis editoriais do "Expresso", imprimiu 128 mil exemplares para a primeira edição e esgotou "cerca de duas horas após ter chegado às bancas", afirmou o subdirector Mário Ramires à Agência Lusa, embora não tenha apresentado justificações para os atrasos nas entregas em todo o Algarve...
Para enfrentar a procura crescentes dos brindes promocionais, o "Expresso" aumentou a tiragem para 200 mil exemplares, mas parece que não foi suficiente!
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3 comentários:
Fome na fartura
por Joaquim Fidalgo, in Público, 2006.09.20
Isto ao fim-de-semana é um fartote de jornais. E dentro de cada jornal é um fartote de subjornais: cadernos disto, suplementos daquilo, revistas grandes, revistas pequenas, encartes, promoções, enfim, um saco cheio. Ou dois, ou três sacos cheios. A gente começa logo na sexta à noite, no sábado tem que ver e ler para o dia todo e o domingo também não é nada dia de descanso. Só para estar a par do que se vai dizendo por aí, há que folhear umas boas dezenas de páginas. Dezenas, digo eu? Qual quê!... Centenas, centenas é que é.
Por mim, não me importo. Bem pelo contrário. Tratando-se de jornais (ou de estações de rádio e canais de televisão), acho sempre que é melhor de mais do que de menos. Para dar hipótese de escolher, claro. Sabe bem poder escolher e ter por onde. Fossem todas as canseiras como esta (a necessidade de escolher) e estávamos nós bem. O problema é que nem sempre a quantidade, pelo menos nesta matéria, é sinónimo de diversidade. Vamos ao exemplo mais fácil e mais óbvio da televisão: quantos canais temos, de facto, para escolher? Não estou a falar do cabo, estou a falar das emissões de sinal aberto. Imagina-se o que seriam as nossas noites se só pudéssemos optar por dois canais, tipo SIC e TVI? Que escolha real é uma escolha entre telenovela e... telenovela? E que escolha é, a seguir a esta, uma nova escolha entre telenovela e... telenovela? A única coisinha por que optar é por ouvir português de Portugal ou português do Brasil...
Ora, como ninguém pode nem deve proibir que os senhores nos massacrem os serões só com aquilo, e sempre só com aquilo, e sempre sempre só com aquilo, a solução é deixar abrir mais canais, para ver se no meio da abundância acaba por espreitar alguma diferença.
E com os jornais também a coisa não muda demasiado. Tenho, de há anos, a sensação de que eles vêm ficando cada vez mais parecidos uns com os outros: nos temas em que apostam, no grafismo com que se "refrescam", nos colunistas que fazem rodar entre si, no género de títulos, nas primeiras páginas até. Muitas vezes já me apeteceu fazer uma espécie de jogo às cegas: pegar em páginas ou bocados de jornais, misturá-los todos e pedir depois às pessoas que adivinhassem a que título pertencia cada bocado. Cá para mim, o jogo ia dar muitas confusões bem engraçadas e, nalguns casos, descobertas verdadeiramente surpreendentes...
E, no entanto, temos a ideia de que um jornal (uma estação de rádio, um canal de televisão), sem prejuízo das naturais semelhanças de quem se dedica a uma mesma matéria - a informação da actualidade -, é uma "marca", um projecto específico, com o que isso significa de estilo próprio, de escolhas, de perspectivas. De diferença, portanto. Mas esta nossa mania de copiar a fórmula do vizinho quando ele tem sucesso, em vez de apostar (como antes fez o vizinho...) numa fórmula nova também capaz de construir o seu sucesso (mesmo que demore um bocadinho...), acaba por nos pôr a todos cada vez mais iguais. E lá nos resignamos, então, à palpitante escolha entre Floribella e Morangos...
* Jornalista
Expresso
por Eduardo Prado Coelho* (o fio do horizonte), in Público, 2006.09.21
Creio que o Expresso surgiu nas vésperas da minha ida a Angola. Ainda eu levava a minha bengala resultante do acidente de automóvel de que tinha sido vítima e que me levou a ter três parafusos na perna esquerda. Ainda lá estão. Mas em terras africanas a bengala foi à vida. E tudo isto ficou associado à saída do Expresso. Como eu era nessa altura muito mais ortodoxo do que sou hoje, pensei a partir do primeiro número que se tratava de um jornal bem feito, mas claramente à direita. Duas semanas depois, voltei e comecei a comprá-lo. Nunca mais parei.
Donde, o Expresso faz parte de uma parte considerável da história da minha vida. Sou um compulsivo leitor de jornais. Mas o Expresso é o sábado, a energia que me move nas manhãs de sábado para sair mais cedo e ir para o café lê-lo (que é onde eu gosto mais de ler revistas e jornais). E habituei-me mesmo a partilhá-lo. Se eu começo pelo primeiro caderno (um pouco desguarnecido com a actual mudança gráfica), a minha mulher lê o Actual ou a Única, e os amigos que chegam vão-se agarrando a certos suplementos. Mas a verdade é que o jornal tem suplementos a mais e é preciso hoje fazer uma impiedosa razia (o Emprego e os Transportes, por exemplo, vão directamente para o depósito de lixo mais próximo).
Vamos fazendo comentários sobre as diversas notícias que vamos lendo (e acreditando em todas elas, apesar de depois algumas serem desmentidas). E vamos tecendo observações sobre os cronistas.
E há uma coisa que devemos esclarecer: se excluirmos o PÚBLICO que mantém um excelente Mil Folhas quanto mais não seja por prestígio, o Expresso é o único jornal que tem um magnífico suplemento cultural, onde o espaço dedicado ao livros é significativo (e não se trata de duas páginas enfezadas sem o menor sentido).
Por tudo isto, o Expresso é uma referência importante e uma presença semanal indispensável. A sua equipa editorial e o seu naipe de jornalistas honraria qualquer publicação. E Henrique Monteiro vem trazer um pouco de ar fresco a um jornal que começava a anquilosar-se.
Quando estava em Paris, ia lê-lo para casa do Luís Filipe Castro Mendes. Um de nós ia ao quiosque da Avenida Wagram, que era dos poucos locais em que o jornal se podia comprar. Chegados a casa, sentávamo-nos no chão e cada um pegava na sua folha. Era uma excelente noite de leitura e convívio, a que por vezes se juntava o Melo Antunes (ele só pensava andando de um lado para o outro, o que provocava protestos do vizinho de baixo - nas casa francesas a madeira do chão range com facilidade e os franceses são extremamente sensíveis aos ruídos).
Daí a minha fidelidade em relação ao Expresso, que está associado aos grandes momentos da minha vida. E a essa forma discreta que é a sedução do nosso quotidiano.
* Professor universitário
Sol e Expresso
por Luís Costa* (PANO PARA MANGAS), in Público, 2006.09.21
Para quem conhece a história e, sobretudo, também a protagonizou, há algumas semelhanças entre os nascimentos do novo semanário Sol, na passada semana, e do jornal PÚBLICO, em Março de 1990, já lá vão mais de 16 anos. Em ambos os casos, os novos projectos resultaram de uma cisão no Expresso, entre outras coisas (e outras coisas haverá, certamente), porque Francisco Pinto Balsemão não acompanhou a vontade reformadora arrojada, e até algo radical, de alguns dos seus responsáveis editoriais. E, no caso da debandada motivada pelo aparecimento do PÚBLICO, também de muitos jornalistas, copydesks, secretárias, telefonistas e, inclusive, estafetas!
Nesses anos já longínquos, chegou a passar pela cabeça dos dissidentes do Expresso - nos quais me vim a incluir - transformar o então jornal da Duque da Palmela em diário, embora mantendo as características de semanário na tradicional edição de sábado. Percebendo que Pinto Balsemão não estava para aí virado, o núcleo fundador do PÚBLICO começou desde logo a trabalhar, mais ou menos clandestinamente, na hipótese de fundar um novo jornal, que se pretendia diário por suposta incompatibilidade dos tempos modernos - vislumbrados na tecnológica década de 90 que estava para começar - com um ritmo semanal e pachorrento da informação. Havia recursos humanos, sabia-se perfeitamente o que se queria fazer, mas faltava o dinheiro. Identificou-se o investidor adequado, propôs-se-lhe o negócio, e Belmiro de Azevedo alinhou.
Pelos vistos, o Sol de José António Saraiva também resultou, pelo menos em parte, da indisponibilidade de Pinto Balsemão para criar um novo título no seu grupo empresarial, com a agravante de que este novo jornal seria também um semanário, além do mais pensado no seio da própria família para ocupar o espaço de um potencial futuro concorrente do Expresso.
Percebendo que Pinto Balsemão não estava para aí virado, o núcleo fundador do Sol começou desde logo a trabalhar (supõe-se que mais ou menos clandestinamente) na hipótese de fundar um novo jornal. Tinham recursos humanos, sabiam perfeitamente o que queriam fazer, mas faltava-lhes o dinheiro. Então identificaram o investidor adequado, propuseram-lhe o negócio, e Paulo Teixeira Pinto resolveu alinhar.
As similitudes entre as duas géneses ficam-se por aqui, para além do pormenor curioso (mas a vida é mesmo assim...) de os actuais dissidentes do Expresso terem sido os aliados de Balsemão há década e meia, quando o Expresso foi literalmente esvaziado de alguns dos seus melhores quadros em apenas meia dúzia de meses.
A história que se seguiu após a saída do PÚBLICO para as bancas é conhecida: este título acabou por afirmar-se como uma marca de prestígio, revolucionando o panorama da então amorfa imprensa diária portuguesa, e o Expresso não só aguentou o embate, como até consolidou o seu crescimento sustentado.
Mas os tempos eram outros e a concorrência do PÚBLICO era apenas indirecta, não beliscando o único jornal do mundo inteiro - pelo menos daqueles que conheço - que conseguia vender-se no interior escondido de um saco de plástico completamente opaco. Sim, porque agora o saco já é transparente...
Acresce que o Sol custa menos 80 cêntimos do que o concorrente directo, já se percebeu que está numa guerra frontal e declarada pelo seu posicionamento, e os DVD grátis que o Expresso anda a oferecer não substituem as notícias e o bom jornalismo por muito mais tempo.
Quanto ao mais, é como escreve Marcelo Rebelo de Sousa na sua coluna do novo semanário: "Se der, dá; senão, logo se verá!"
* Jornalista
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