Faltou a Ricardo mais a estrela que a argúcia para defender o tiro de Zidane e tornar-se lenda absoluta. O guarda-redes dos milagres, com ou sem luvas.
A selecção portuguesa perdeu a oportunidade histórica de dar a tão anunciada reforma ao velho mito dos estádios, que ficará com mais uma oportunidade para exibir a sua arte na final de Berlim, qual fénix sempre renascida.
Os treinadores de bancada terão muitos dias para digerir a (in)justiça de uma derrota decidida por um sempre discutível penalty. Assim como as faltas do adversário que ficaram por assinalar.
O senhor Scolari virá de novo à berlinda, com as suas escolhas teimosas, e haverá certamente quem questione os milhões que os bancos se preparam para desembolsar, numa espécie de prolongamento agora já sem glória ou esperança.
Com uma derrota daquelas pouco poderemos aprender. Nesta última fase do Mundial, percebia-se, era já mais lotaria que futebol.
Mas, como escrevia ontem Vicente Jorge Silva no DN, "a selecção já fez o que tinha a fazer por nós".
A selecção concretizou o sonho, quimera absoluta das gerações da democracia, de alcançar o pelotão da frente. De chegar onde parece que, como país e em tantos domínios, estamos condenados a não chegar.
No turbilhão de análises dos próximos dias, seria bom que não se esquecesse esse feito (ontem à noite, houve festa nas ruas de Lisboa e não vivem cá franceses suficientes para parar o trânsito no Marquês de Pombal...).
Seria igualmente bom que, por uma vez, não revelássemos a nossa tradicional ciclotimia, esse balancear permanente entre a exaltação e a depressão. O Portugal que hoje acorda cabisbaixo para ir trabalhar é exactamente idêntico ao país que acordaria na segunda-feira exausto da festa campeã. Os mesmos problemas, os mesmos diagnósticos, a mesma incapacidade de vencer os desafios.
Durante este Mundial, houve quem se queixasse da futebolização do nosso espaço mediático. Talvez com alguma razão. Mas, como disse ontem Eduardo Lourenço ao DN, o futebol só é alienante quando não se relativizam as coisas.
Colocadas as coisas em contexto, os portugueses têm tudo a ganhar em potenciarem as lições da passagem da selecção por este Mundial. Seja o valor do trabalho, individual ou em equipa, seja a capacidade de organização e motivação para alcançar um objectivo. Coisas de que todos os dias sentimos falta.
1 comentário:
Parabéns, Portugal
por João Morgado Fernandes, in DN, 2006.07.06
Faltou a Ricardo mais a estrela que a argúcia para defender o tiro de Zidane e tornar-se lenda absoluta. O guarda-redes dos milagres, com ou sem luvas.
A selecção portuguesa perdeu a oportunidade histórica de dar a tão anunciada reforma ao velho mito dos estádios, que ficará com mais uma oportunidade para exibir a sua arte na final de Berlim, qual fénix sempre renascida.
Os treinadores de bancada terão muitos dias para digerir a (in)justiça de uma derrota decidida por um sempre discutível penalty. Assim como as faltas do adversário que ficaram por assinalar.
O senhor Scolari virá de novo à berlinda, com as suas escolhas teimosas, e haverá certamente quem questione os milhões que os bancos se preparam para desembolsar, numa espécie de prolongamento agora já sem glória ou esperança.
Com uma derrota daquelas pouco poderemos aprender. Nesta última fase do Mundial, percebia-se, era já mais lotaria que futebol.
Mas, como escrevia ontem Vicente Jorge Silva no DN, "a selecção já fez o que tinha a fazer por nós".
A selecção concretizou o sonho, quimera absoluta das gerações da democracia, de alcançar o pelotão da frente. De chegar onde parece que, como país e em tantos domínios, estamos condenados a não chegar.
No turbilhão de análises dos próximos dias, seria bom que não se esquecesse esse feito (ontem à noite, houve festa nas ruas de Lisboa e não vivem cá franceses suficientes para parar o trânsito no Marquês de Pombal...).
Seria igualmente bom que, por uma vez, não revelássemos a nossa tradicional ciclotimia, esse balancear permanente entre a exaltação e a depressão. O Portugal que hoje acorda cabisbaixo para ir trabalhar é exactamente idêntico ao país que acordaria na segunda-feira exausto da festa campeã. Os mesmos problemas, os mesmos diagnósticos, a mesma incapacidade de vencer os desafios.
Durante este Mundial, houve quem se queixasse da futebolização do nosso espaço mediático. Talvez com alguma razão. Mas, como disse ontem Eduardo Lourenço ao DN, o futebol só é alienante quando não se relativizam as coisas.
Colocadas as coisas em contexto, os portugueses têm tudo a ganhar em potenciarem as lições da passagem da selecção por este Mundial. Seja o valor do trabalho, individual ou em equipa, seja a capacidade de organização e motivação para alcançar um objectivo. Coisas de que todos os dias sentimos falta.
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