sexta-feira, julho 28, 2006

Não há oposição que resista...


Entre o Mundial de futebol e o início das férias, o Governo parece gozar de um súbito estado de graça: quase todos os ministros subiram de cotação em Julho. Esta é uma das principais conclusões do Barómetro DN/TSF/Marktest...

Segundo o
Diário de Notícias, nem a micro-remodelação relâmpago que afastou Diogo Freitas do Amaral e recuperou Nuno Severiano Teixeira, nem o anúncio do encerramento da fábrica da Opel na Azambuja parecem afectar um Governo que está de pedra e cal...

Mal acompanhada e com algumas medidas por explicar convenientemente, apenas a ministra da Educação prejudica a performance do Governo, como sublinha a
TSF, que destaca ainda a aproximação do PSD ao PS nos dados resultantes das entrevistas de Julho, onde os "seguidores" de Marques Mendes conseguem 32 por cento das intenções de voto, reduzindo para 11 pontos a distância que o separa do PS que continua a recolher a maioria das intenções de voto dos portugueses, com 43 por cento.

Agora, preparemo-nos para mais algumas medidas impopulares, porque ainda é tempo de apertar o cinto... e a subida do petróleo não ajuda nada!

2 comentários:

Anónimo disse...

Férias e popularidade

por João Cândido da Silva, in Público, 2006.07.29

Há um ano atrás, a coincidência de dois factos manchou a popularidade de José Sócrates. As férias do primeiro-ministro no Quénia enquanto as florestas do país eram consumidas pelo fogo foram recebidas como um sinal de indiferença do principal responsável do Governo em relação aos problemas do país. A não ser que ele próprio pegasse numa mangueira e se embrenhasse no interior de algum bosque com o objectivo de dar combate às chamas com as próprias mãos, não se percebeu bem por que motivo houve quem acreditasse que a situação não teria sido tão grave caso Sócrates tivesse permanecido em território nacional durante o período de descanso a que tem direito.

A demagogia dos acusadores aliou-se à má consciência de quem teve de assumir a posição defensiva enquanto Portugal, teimosamente, continuava a arder. De verdadeiramente notável ficou apenas o momento de humor protagonizado por António Costa quando, em plena crise, asseverou ter falado por "mais de duas vezes" com o líder do Executivo sobre a possibilidade de interrupção do safari e de um regresso antecipado. O mistério nunca foi esclarecido e, por isso, ficou a dúvida sobre a que quantidade de telefonemas corresponderia a expressão utilizada pelo ministro da Administração Interna, algo que certamente interessaria ao ministro das Finanças saber, conhecendo-se o seu objectivo de reduzir a despesa pública e eliminar os gastos inúteis.

Pelo sim, pelo não, e também porque o país pode pegar fogo em qualquer altura já que esta probabilidade é tão elevada como a de fazer calor durante o Verão, este ano José Sócrates decidiu passar as férias em terras lusitanas. Apesar de o Governo ter garantido repetidamente que tudo estaria mais bem organizado e apetrechado no que se refere à prevenção e luta contra o fogo, nunca se sabe quando será necessário recorrer a uma mãozinha do primeiro-ministro, não para fazer de bombeiro em sentido literal, mas para desempenhar o papel em termos de marketing político, no caso de os pirómanos optarem por ajudar, uma vez mais, os noticiários televisivos a preencherem a época baixa com trepidantes reportagens no terreno.

Se for este o caso, a hábil divisão de propaganda do Governo estará a raciocinar bem. É certo que, se as coisas derem para o torto, há o risco de Sócrates sair chamuscado com a indignação das populações pela eventual persistente escassez de meios para apagar os incêndios. Mas, por outro lado, os "spin-doctors" dispõem, nesta altura, de uma apreciável margem de manobra. O primeiro-ministro parte para férias com níveis de popularidade assinaláveis, e mais relevante do que esta circunstância é o facto de partir em tendência de alta nas sondagens que medem a aprovação dos portugueses em relação à sua prestação. Melhor, mesmo, só Cavaco Silva, também em subida, numa conjugação de apreciações que parecem ter como mensagem central um aval à co-habitação que, ainda em Janeiro passado, era antevista nas hostes socialistas como uma espécie de catástrofe que os eleitores deviam impedir.

Aparentemente, o país teria boas razões para ir a banhos sem se deixar perturbar pelas preocupações. Mas não é bem assim. A imagem de dinamismo e determinação cultivada pelo Governo e que tem suporte real no anúncio de diversas medidas em áreas fulcrais ainda terá de passar o teste dos resultados práticos. O contraste entre os números de redução de funcionários públicos adiantados pelo ministro das Finanças, pouco mais de quatro mil durante o primeiro semestre deste ano, e a meta de diminuição de 75 mil pessoas trabalhadores no sector até ao final da legislatura são um exemplo. Em menos de três anos, o Governo terá de fazer o que resta se quiser cumprir a promessa. Daí que se deva perguntar: será um bom sinal o facto de a popularidade do primeiro-ministro estar em alta? Ou é um reflexo de que as medidas mais difíceis e dolorosas, mas essenciais, estão ainda longe de produzir efeitos?

(...)

Anónimo disse...

PS cerra fileiras à volta da ministra da Educação

por Francisco Almeida Leite, in DN, 2006-08-03

Mais depressa cai o secretário de Estado Valter Lemos do que a ministra da Educação", diz ao DN uma fonte socialista, tida como muito próxima do primeiro-ministro José Sócrates. "Apesar de o secretário de Estado ser amigo pessoal do primeiro-ministro e de Castelo Branco", conclui esta fonte.

Mesmo depois de o ofício do provedor de Justiça ter considerado ilegal o despacho de repetição dos exames de Física e Química emitido pelo Ministério da Educação - e assinado por Valter Lemos -, a tese geral em vários sectores socialistas, incluindo o grupo parlamentar, é a de que a crise não foi bem gerida, mas a polémica vai assentar e a ministra está segura no Executivo.

Ao DN, Osvaldo Castro, presidente da comissão de Assuntos Constitucionais, diz que "o problema podia ter sido mais bem explicado, admito até que pudesse haver outra solução". E afirma: "Será provavelmente um problema de equipa ou de ministério, porque da ministra tenho a melhor opinião."

Pedro Nuno Santos, deputado e líder da Juventude Socialista, também classifica o episódio dos exames "como uma situação que não foi a mais agradável para ninguém. Nem para os alunos nem para o Governo ou o PS". Mesmo assim, o líder dos jovens socialistas considera que a JS faz "uma avaliação muito positiva da actuação da ministra até aqui".

João Cravinho, antigo ministro dos governos de António Guterres, reconhece não ter "a ideia de que estejam a ser feitas reformas na Educação daquelas que mudam o mundo. Mas é um ministério que tem cumprido o que se lhe pediu". Este deputado lembra até o que disse a uma rádio que lhe pediu para eleger o "homem do ano" de 2005: "Disse-lhes [à Rádio Renascença] que não era um homem, que era a Maria de Lurdes Rodrigues. Ainda penso o mesmo."

A mesma opinião tem José Vera Jardim, antigo ministro da Justiça, que considera a ministra da Educação como "bastante boa no seu lugar. Tem uma imagem muito positiva" - isto apesar de Maria de Lurdes Rodrigues ocupar agora o último posto no barómetro DN/TSF/Marktest, tendo caído 20 pontos em 30 dias desde que estalou a crise dos exames do ensino secundário, com um saldo de 23 pontos negativos, em contraste com a posição de Mariano Gago (ver gráfico acima). Vítor Ramalho, deputado da chamada "ala soarista" do PS, comenta assim a impopularidade da ministra: "Isso não quer dizer nada."

Segundo fontes socialistas, Maria de Lurdes Rodrigues "não foi uma escolha pessoal" de José Sócrates, mas de Mariano Gago, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. O que não invalida que tenha sido "escolhida a dedo". Estas fontes avançam que o perfil pretendido pelo primeiro-ministro era o de alguém que "fizesse uma legislatura" e não interessava a Sócrates a falta ou não de currículo político. Um perfil que, afirma agora o deputado Osvaldo Castro, "é certamente do conhecimento do Presidente da República e do seu assessor na matéria [David Justino]. Sabem do bom-nome de que goza no meio universitário, do ponto de vista técnico e não propriamente político."

Conselheiro do PR elogia

David Justino, ex-ministro social-democrata da Educação e actual conselheiro de Cavaco Silva, elogiou a actuação da ministra no caso dos exames num artigo recentemente publicado numa revista: "No plano político, fez-se o que se deveria fazer: tratar como excepção o que parece ter sido excepcional e tentar atenuar os prejuízos que essa excepção provocou."