(Publicado na edição de 24 de janeiro do Algarve Informativo)
Ao longo das últimas semanas, as nossas
atenções viraram-se para as autarquias, suas atribuições e competências e modo
de funcionamento, tentando dar ao caro leitor uma perspetiva simples de um
mundo complexo e fascinante…
Nos termos da Constituição da RepúblicaPortuguesa, o poder político pertence ao povo e é exercido nos termos
constitucionais, sendo que a participação direta e ativa de homens e mulheres
na vida política constitui condição e instrumento fundamental de consolidação
do sistema democrático, devendo a lei promover a igualdade no exercício dos
direitos cívicos e políticos e a não discriminação em função do sexo no acesso
a cargos políticos.
Aqui chegados, foquemo-nos na
organização do poder político, assente neste princípios e nos órgãos
representantes desta soberania popular. São órgãos de soberania o Presidente da
República, a Assembleia da República, o governo e os tribunais, sendo as
respetivas formação, composição, competência e funcionamento definidos no texto
constitucional.
Porém, como já vimos anteriormente, a
organização democrática do Estado compreende a existência de autarquias locais
(freguesias, municípios e regiões administrativas, no caso do território continental),
definidas na Constituição como pessoas coletivas territoriais dotadas de órgãos
representativos, que visam a prossecução de interesses próprios das populações
respetivas.
Se estamos conversados, em relação às
freguesias e municípios, não podemos dizer o mesmo em relação às regiões
administrativas. O paradigma da regionalização foi sempre uma das bandeiras
políticas favoritas dos principais partidos portugueses, nomeada e
principalmente na proximidade dos momentos eleitorais ou em plena campanha.
Cavaco Silva fez aprovar uma lei-quadro em 1991, momentos antes da sua segunda
maioria, e António Guterres elevou-a a causa das causas nas legislativas de
1995, embarcando depois na aventura do referendo de 1998, que ditou o
congelamento do processo…
A regionalização tornou-se uma palavra
maldita no dicionário do politicamente correto durante anos, sendo preterida
por outra palavra – descentralização - que não é outra coisa senão a
denominação do princípio enquadrador das autarquias locais. Perceberam?! É muito
simples, mas ainda hoje há quem a confunda com desconcentração, uma forma
encapotada de manter o poder decisório no Terreiro do Paço, criando capelinhas
e lugarejos aqui e acolá para que tudo continue na mesma…
Nem vale a pena falar dos tempos mais recentes,
Passos Coelho prometeu desbloquear o processo da regionalização antes das
eleições de 2011 (ver A REGIONALIZAÇÃO É POSSÍVEL) e Paulo Portas transformou a descentralização no
princípio-base da Reforma do Estado que não concretizou. Cada vez mais, é
urgente efetuar uma transformação no modelo de funcionamento do Estado.
O programa do XXI Governo, quer começar
pelas estruturas que constituem a sua base, dizem-nos que será reforçada e
aprofundada a autonomia local, apostando no incremento da legitimação das
autarquias e das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR),
abrindo portas à desejada transferência de competências do Estado para órgãos
mais próximos das pessoas.
Segundo as linhas mestras aprovadas pela
maioria de esquerda na Assembleia da República, essa descentralização será
racionalizadora, baseando-se no princípio da subsidiariedade e tendo sempre em
conta o melhor interesse dos cidadãos e das empresas que necessitam de uma
resposta ágil e adequada por parte da Administração Pública, apostando-se na
criação de uma rede generalizada de serviços públicos de proximidade.
No entanto, qualquer reforma neste
âmbito apenas poderá ser concretizada com a adequada atribuição de recursos que
permita o pleno exercício das novas competências a transferir. Nesse sentido, o
Governo promete adaptar as regras do financiamento local de acordo com a nova
realidade com que pessoas e instituições serão confrontadas.
Assim, o novo modelo territorial
assentará nas cinco regiões de planeamento e de desenvolvimento territorial, na
criação de autarquias metropolitanas, na promoção da cooperação intermunicipal
através das comunidades intermunicipais, na transferência para os municípios
das competências de gestão dos serviços públicos de caráter universal e na
afirmação do papel das freguesias como polos da democracia de proximidade e da
igualdade no acesso aos serviços públicos. Até 2017, vamos acreditar que o
processo não vai emperrar!
NOTA: Na mesma data em que tornamos públicas estas linhas, alguém recuperou um texto do magazine virtual VORTEX relembrando-nos que a coroa portuguesa encerrava todo um mundo até 1919!!!
NOTA: Na mesma data em que tornamos públicas estas linhas, alguém recuperou um texto do magazine virtual VORTEX relembrando-nos que a coroa portuguesa encerrava todo um mundo até 1919!!!
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