(Publicado na edição de 31 de janeiro do Algarve Informativo)
Ao fim de trinta anos, o Algarve vai
perder a sua representação no Palácio de Belém, calhando-nos no último domingo
um Presidente da República que, por vontade dos algarvios, teria que
submeter-se a uma segunda volta eleitoral…
Apesar da sua paixão pela terrinha da
avó Joaquina, é certo que o Presidente eleito não morre de amores pelo
denominado País real, preferindo claramente o contacto com o povo através da
sua cátedra universitária, das sabatinas matinais na TSF com avaliações
demolidoras ou das conversas em família no recato da TVI nos últimos anos,
sempre sem contraditório e com muita intriga pelo meio. Recordamos estes
pormenores, porque depois de secar o seu campo político, deixou os adversários a
falar entre eles e atravessou o território beijocando velhinhas, servindo
pastelinhos e penteando cabeleireiras. Foi a campanha que merecemos e será o
Presidente que entendermos!
Sim, esqueçam o comentador e o político
que conheciam, chegado a Belém vai mostrar-nos como dominou as audiências televisivas
na última década, adaptando-se camaleonicamente às necessidades do mercado e às
expetativas do público eleitor. Adversário feroz da regionalização, poderá ser
o primeiro defensor das medidas de simplificação administrativa e de
descentralização política anunciadas esta semana por António Costa, que
jurou-lhe lealdade institucional e amor (quase) eterno, pois sabe que o seu
papel poderá ser determinante no atual contexto parlamentar…
Foi a campanha que merecemos, com
debates para prazer da maioria e desgosto de Cândido Ferreira e de Luís
Montenegro, o primeiro porque queria mais e o segundo porque achou muito,
alegando até que não tinham servido para esclarecer o eleitorado, preferindo
talvez que não houvesse nenhum ou apenas entre este ou aquele dos dez
candidatos. Estiveram bem a rádio e a televisão públicas que reuniram todos e
proporcionaram verdadeiras sessões de esclarecimento, embora deixasse que a
atualidade política se sobrepusesse às funções presidenciais e às propostas de
cada qual.
No caso do Algarve, mais uma vez venceu
a abstenção, indo às urnas apenas 166.669 dos 371.330 eleitores inscritos,
sendo que o Presidente eleito obteve 76.560 votos (47,62%) vencendo em quase
todas as freguesias dos dezasseis concelhos. Perdão, a nossa aldeia gaulesa
fica em Vila do Bispo e chama-se Barão de São Miguel, onde dois votos fizeram a
diferença. Poderá tratar-se de um caso de estudo da Ciência Política e, se
fosse eu, seria uma missão prioritária do próximo Chefe da Casa Civil da
Presidência!
Fora de brincadeiras, tratemos deste
assunto com a seriedade que merece. Cabe ao Governo aproveitar este período de
acalmia eleitoral e, até às Autárquicas de 2017, promover uma atualização dos
cadernos eleitorais, erradicar os eleitores fantasmas e redefinir a
distribuição dos mandatos, que respeite a distribuição da população e garanta a
representatividade territorial. A promoção da educação cívica nas escolas e da
participação política dos cidadãos são fundamentais, mas não há Democracia que
resista por muito tempo com níveis de abstenção inflacionados por listagens com
9.725.321 inscritos.
Com os partidos alheados destas
eleições, uns dispensados e outros divididos, a campanha correu morna ao sabor
de alguns bitáites mais ou menos
engraçaditos, com alguma demagogia e muito populismo sobre certos temas,
demonstrando à saciedade um desconhecimento generalizado sobre o nossa história
política recente, cada vez mais marcada pelo imediatismo das redes sociais e
pela ausência de escrúpulos de muitos intervenientes no espaço público.
Depois de prometer afeto e proximidade,
esperamos que o novo Presidente possa dar um contributo sério para a
higienização e simplificação da atividade política, fazendo esquecer divisões
velhas de décadas e seja o primeiro a garantir a independência nacional, a
unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas, ou
seja, que cumpra e faça cumprir a Constituição!
NOTAS: Os resultados freguesia a freguesia!
NOTAS: Os resultados freguesia a freguesia!
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