sexta-feira, março 16, 2007

Teimosa que nem uma...


(Publicado na edição de 15 de Março de 2007 do jornal BARLAVENTO - Frente & Verso)

Com o aumento da taxa de juro do Banco Central Europeu (BCE), preocupado com as pressões dos mercados sobre a inflação, o principal indexante do crédito atribuído pelos bancos atingiu esta semana o valor mais alto dos últimos seis anos.

Pela primeira vez desde Setembro de 2001, a Euribor a seis meses ultrapassou a barreira dos quatro por cento. Pelo contrário, para este ano, as previsões do BCE apontam para uma taxa de inflação de 1,8 por cento e uma previsão de crescimento económico em torno dos 2,5 por cento. Justificar-se-á outro aumento da taxa directora até ao final do ano?!

As opiniões dos especialistas dividem-se. Uns são adeptos da manutenção desta almofada de segurança para reagir a eventuais tendências inflacionistas, motivadas pelas crescentes exigências salariais dos sindicatos alemães e pela bolha imobiliária que parece afectar a Espanha e a França. Sustentam ainda que o nível das taxas de juro é baixo, em termos históricos, e que estas medidas se justificam para manter os preços a prazo, acautelando um sobreaquecimento da economia no futuro.

Outros, pelo contrário, acham que as preocupações de Jean-Claude Tricher e seus pares são excessivas e deveriam ter em consideração as diferenças de andamento das várias economias da zona Euro. Na sua opinião, esta atitude do BCE até pode colocar em causa o ritmo de crescimento da economia europeia, defendendo políticas mais moderadas na gestão das taxas de juros.

Paradoxalmente, apesar do aumento das taxas de juros, o recurso ao crédito por parte das empresas e das famílias europeias está a crescer e a um dos ritmos mais elevados de sempre, sustentando a recuperação económica e criando condições para um aumento do PIB no médio prazo.

Porém, ainda há um diferencial de juros entre a Zona Euro e os Estados Unidos que não pode ser subestimado, limitando os efeitos negativos nas exportações do Euro forte face a um Dólar enfraquecido e em perda nos mercados internacionais. As expectativas centram-se na redução deste diferencial, pois a Reserva Federal já estabilizou as taxas nos 5,25 por cento e a tendência é para reduzir.

Nos tempos actuais, os ciclos da economia já não têm a tradicional variação das décadas, mas podem ocorrer de um momento para o outro, graças ao crescente dinamismo e desregulação da economia global.

É na gestão das expectativas dos agentes económicos que os bancos centrais apostam para manter a economia estável no médio prazo, admitindo muitos analistas outra subida até ao Verão e seguindo-se alguns meses de estabilização. Depois, estamos certos que a tendência americana pode fazer escola nos gabinetes de Frankfurt…

Neste cenário, a divergência entre Portugal e os restantes países da Zona Euro começa a ser preocupante, pois os custos do dinheiro não vão deixar de afectar o esforço nacional para cumprir as metas negociadas com Bruxelas.

Há reformas inadiáveis, na estrutura da Administração Pública e na gestão financeira das famílias. Para não ultrapassar os valores acordados para o défice ou escapar aos pesadelos do sobreendividamento, por exemplo!

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