quinta-feira, março 15, 2007

Na ordem do dia (II)


(Publicado na edição de 15 de Março de 2007 do jornal POSTAL do ALGARVE)

Na edição anterior, efectuámos uma abordagem sobre a evolução das forças e serviços de segurança durante o século passado, faltando-nos apenas apontar uma das vertentes do sistema de segurança interna.

A grande revolução é concretizada com a 4ª revisão da Constituição da República Portuguesa, em 1997, permitindo a criação de serviços de polícia municipal, os quais cooperam com as forças de segurança na manutenção da tranquilidade pública e na protecção das comunidades locais, para além do normal desenvolvimento das funções de polícia administrativa, complementando e reforçando essa vertente da actividade das autarquias locais.

Nos anos seguintes, foi aprovado o respectivo regime jurídico e a regulamentação de enquadramento, bem como o programa de formação e o quadro de candidaturas e de participação financeira do Estado no esforço das autarquias para promoverem a criação em concreto dos serviços de polícia municipal.

Porém, devido às limitações financeiras do Estado, este esforço inicial foi suspenso a partir do Orçamento de Estado Rectificativo de 2002, limitando o desenvolvimento dos 34 serviços já criados, inibindo potenciais projectos de criação noutros municípios e desmotivando eventuais candidatos aos programas de formação.

As experiências mais recentes provam que é possível às polícias controlarem quase todos os tipos de crime em quase todos os ambientes. Nenhum lugar é impossível de policiar e nenhum crime está para além da vontade de impor a Lei. Os cidadãos sabem que há uma nova geração de estratégias assente na proactividade e que podem confiar nas suas polícias, seja nas grandes metrópoles urbanas ou nas comunidades mais pequenas.

No nosso entender, importava prosseguir este esforço reformista com determinação, renovando o empenhamento do Estado, clarificando o papel de cada força e serviço de segurança, alargando a aplicação dos princípios da subsidiariedade, da gestão por objectivos e da participação pública, harmonizando procedimentos e rentabilizando os investimentos públicos.

Cada vez mais é necessário interagir de forma proactiva com a sociedade e criar uma cultura de segurança perene e sustentável, fazendo com que cada cidadão seja um agente da segurança da sua comunidade local, antecipando problemas com as autoridades locais, enquadrando socialmente as comunidades desfavorecidas e responsabilizando educadores pela utilização saudável dos tempos livres dos jovens.

Para além das verdadeiras parcerias para o desenvolvimento comunitário, protagonizadas através dos programas de policiamento de proximidade, as tendências mais modernas apontam para uma intervenção crescente das forças de segurança nos domínios da qualidade de vida, com a crescente regulamentação das questões relacionadas com a qualidade do ar, tratamento de resíduos e emissões de ruído, da preservação da natureza e do meio ambiente – a criação do SEPNA no seio da GNR foi um bom exemplo.

Por outro lado, existe também uma apetência generalizada para rentabilizar a utilização dos meios tecnológicos disponíveis, quer para assegurar uma base de suporte das suas actividades logísticas, quer no exercício das suas funções de polícia de segurança.

Neste contexto, é frequente o recurso à utilização de sistemas de vigilância com câmaras de vídeo em locais públicos de utilização comum, com particular acuidade na gestão do tráfego rodoviário, controle de circulação de pessoas e preservação de monumentos públicos e centros históricos, prevenindo-se a ocorrência da prática de crimes em locais onde exista razoável risco da sua ocorrência.

Acreditamos que o caminho desejável para estabelecer uma sociedade mais tranquila seria a discussão e criação de uma estratégia nacional de segurança pública que não dependesse de visões conjunturais ou dos oportunismos ideológicos de cada governo, que não dependesse da componente meramente policial mas não a descurasse, que não fosse abstractamente social e descesse ao terreno dos problemas concretos.

Por tudo isto, entendemos que optou-se pelo melhor caminho, embora se pudesse ter ido mais longe, esperando-se que nos próximos meses o Governo seja mais concreto nas propostas e arrojado nas medidas!

Voltaremos ao assunto…

1 comentário:

Anónimo disse...

A reforma que se pretende para as Forças de Segurança

por Jovita Ladeira *, in Jornal do Algarve, 2007-03-15

Sem dúvida as reformas do Governo continuam bem vivas. Agora é a vez da reforma do Sistema de Segurança Interna e das Forças de Segurança, cuja lei será apresentada até ao próximo mês de Junho. A sociedade portuguesa conta hoje com um conjunto de novos ameaças e riscos quanto à sua segurança interna. Esta realidade resulta de uma nova conjuntura internacional e nacional. (...)