segunda-feira, janeiro 01, 2007

A coragem espanhola


A resposta da sociedade espanhola ao desafio de alguns "etarras" desalinhados confirmou a vontade de mudança demonstrada nas urnas em 2004...

O atentado no parque de estacionamento do Terminal 4 do Aeroporto de Barajas apenas veio confirmar que ainda há quem teime em rejeitar a paz e não aceite as negociações entre o Governo e os representantes da Batasuna (braço político ilegalizado dos independentistas bascos), não percebendo que o ódio e a vingança não são as soluções que os novos tempos exigem.

Infelizmente, a normalidade reinante nas "calles" de Madrid nos últimos dias não transpareceu na televisão portuguesa. Pelo que se viu, a correspondente da RTP na capital de Espanha não desceu aos túneis apinhados do metropolitano, não percorreu os corredores dos museus e dos palácios nem atravessou os jardins ensolarados e frios da cidade dos Áustrias. Atrevo-me a suspeitar que nem ouviu a generalidade dos líderes políticos espanhóis e do País Basco antes de enviar a sua peça para Lisboa. Por aquilo que a RTP-Internacional passou, talvez tenha passado por uma manifestação de vítimas da ETA, convocada pela direita espanhola (que governa a capital e a Comunidad de Madrid), ao que parece no mesmo sítio onde depois milhares de pessoas festejaram alegremente as badaladas que anunciavam 2007...

Se estivesse mais atenta, teria percebido que não é apenas a pujança económica que faz de José Luís Rodriguez Zapatero a terceira personalidade mais popular em Espanha (depois de Koffi Annan e Bento XVI, sublinhe-se!). Os novos tempos exigem novas soluções e o presidente do Governo de Espanha teve a coragem de tentar a paz no seu País, conjugando necessariamente justiça e memória e consolidando a unidade nacional com o reforço das regiões autónomas.

Hoje, tenha sucesso ou não até ao final deste mandato, sabe que tem a sociedade espanhola ao seu lado e que o caminho a seguir é mesmo esse!

PS - Depois de ter escrito este texto, li a revista que acompanha El País em cada domingo. A
história da vida de Eduardo Madina, vítima da ETA quando era dirigente da Juventude Socialista de Euskadi e actual deputado no Parlamento, e a sua posição de esperança reflectem a Espanha que encontrei nas ruas de Madrid nos últimos cinco dias. Todos, seja aqui, seja onde for, temos que construir uma muralha contra o ódio que ameaça o Mundo!

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