(Publicado na edição de 20 de Janeiro de 2005 do jornal POSTAL DO ALGARVE)
A sequência dos acontecimentos das últimas semanas roça o irreal e causa-nos arrepios. Perante tal espectáculo, é preciso ter coragem para continuar a acreditar nas virtudes da Democracia!
As inaugurações de obras prontas há dois anos e guardadas para a véspera das eleições autárquicas são antecipadas por pressão ministerial.
Há financiamentos, obras e projectos que são assumidos, sabendo-se que não têm enquadramento orçamental e que não se podem cumprir.
A catadupa de nomeações para altos cargos, para empresas e institutos públicos e as aberturas de concursos de promoção ameaçam esgotar o espaço disponível no Diário da República.
As notas de imprensa com anúncios e boas novas entopem as redacções da imprensa, das rádios e das televisões.
Publicam-se encartes propagandísticos nos jornais e editam-se livros luxuosos com o dinheiro de todos os portugueses.
Os meios e os agentes do Estado são mobilizados para a campanha eleitoral de forma nunca vista.
Os funcionários recebem convites para jantaradas do partido em papel timbrado dos municípios, são pressionados telefonicamente pelos seus chefes a participar e não há consequências.
Os membros do Governo percorrem o País, fazendo inaugurações de manhã e despindo a farda à tarde, participando em acções de campanha nos círculos onde são candidatos.
No meio de tanta confusão, o partido convida a imprensa para o balanço da actividade autárquica e, pasme-se, a tarefa cabe ao Presidente da Câmara que faz a apresentação pública numa sessão partidária de um documento oficial.
Que venha rapidamente o dia 20 de Fevereiro, trave-se já esta espiral de desorientação, insensatez e pouca vergonha. Que haja decoro, senhores!
Em completo desespero, o Governo PSD / CDS vai aumentar os funcionários públicos na véspera das eleições, os salários e as reformas vão aumentar pela redução do IRS, anunciam-se reduções de impostos para as empresas, a actualização dos transportes públicos ficou para Março e as portagens nas SCUT até vão avançar… mas só são pagas daqui a quatro anos!
Portugal precisa de políticos e de políticas responsáveis que garantam estabilidade governativa e permitam a consolidação das contas públicas, congregando em torno dos interesses nacionais toda a sociedade civil. Precisamos de um desígnio mobilizador que agregue gerações, que valorize as energias positivas e potencie os mais optimistas e empreendedores.
Está provado que os portugueses estão prontos a assumir sacrifícios cujos fins sejam conhecidos, concretizáveis e contribuam para melhorar a sua qualidade de vida. Contudo, exigem que se fale verdade em cada momento, para ultrapassar as nossas fragilidades e rentabilizar as forças de todo o País!
Dois em cada três portugueses desejam que o vencedor das eleições para a Assembleia da República obtenha a maioria absoluta. Quase metade de todos nós queremos voltar a acreditar!
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