sábado, junho 12, 2004

Metal fundente

"Gosta de explicar-te e de poder
eu próprio compreender
porque momentos houve em que perder-te
era metal fundente como o que disse um poeta
entre nós e as palavras existir

Eu seria as palavras tu os corpos
fundentes de nós dois, pela separação
futura liquefeitos
Era de cada vez como se a vida
também fundisse e o seu metal escorresse
sobre a pele da perda talvez isso
explicasse como o chumbo
da ilusão derrete e nos liberta
até desse momento em que tememos
nada mais ter

Mas como poderia
eu amar-te e achar-te já de mais
sentir estando tu tão perto ainda
a onda
da ausência contornar-me

O céu em certos dias produzia
o efeito de um espelho em voltávamos
inversos
ao verão que tu julgaras
então igual à vida e era apenas
a infância perdida sobre o mar"

Poema do algarvio Gastão Cruz, in 366 poemas que falam de amor, uma antologia organizada por Vasco Graça Moura (Quetzal Editores, 2003)

Sem comentários: