Estar é estar além de onde se está
mas sentindo que se está aquém
que por sua vez é um aquém que foge
sobre um solo fugidio ainda que lento
Só quando um outro além nos aspira é que sentimos
que era num além anterior que nós estávamos
embora ele fosse vazio com o tremor da nossa ânsia
Por isso nós não somos o que somos
mas o movimento de uma separação interna
em que se acende o fogo da unidade viva
porque só ela nos situaria no aquém
projectando a duração do inteiro no além
É esta ficção do uno em musical matéria
para que o voluptuoso movimento
do corpo libertando-se em ondulosa indolência
de iluminados músculos aderindo ao tronco da identidade amada
António Ramos Rosa, in Deambulações Oblíquas
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