quinta-feira, janeiro 01, 2004

2003 - O ano de Sampaio

(Publicado na edição de 2 de Janeiro de 2004 do jornal ALGARVE REGIÃO)

Por José Graça *

O ano que acabou não deixa saudades de espécie alguma, marcado pelo aprofundamento da crise interna e por uma guerra que pretendia acabar com o terrorismo, mas que acabou por agravá-lo e semear mais medos...

Os portugueses afectados pelos níveis históricos de desemprego e de pobreza, no seu desespero contentaram-se com o folhetim macabro da Casa Pia, continuamente alimentado pela informação tablóide e, insatisfeitos com as dificuldades do quotidiano, fizeram justiça na praça pública e já condenaram as personalidades envolvidas na sua consciência!

Envolvidos numa guerra mal explicada e que permanece por justificar, sem uma liderança política de jeito, viraram as costas à Europa. Entretidos com o Iraque, nem se aperceberam que os nossos governantes desistiram de aprofundar a União Europeia, rompendo com uma tradição de pequenos avanços, deixando-a incapaz de enfrentar questões cada vez mais complexas e que exigem compromissos.

Felizmente, por entre este nevoeiro, surgem alguns raios de sol que nos dão esperança para o ano que agora começa!

Sempre atento, o Presidente da República terminou o ano com um conjunto de intervenções marcadas pela apologia dos valores da solidariedade e da tolerância, da justiça e da igualdade. Quebrando o gelo, potenciando o diálogo e dando voz aos mais fracos!

Ao longo do ano, Jorge Sampaio soube ser o árbitro da sociedade portuguesa e o moderador da comunidade política. Conteve excessos e motivou os desanimados. Colocou o dedo nas feridas e sugeriu soluções. Despertou a oposição da apatia para as suas responsabilidades. Contra as atitudes arrogantes da maioria governamental, defendeu o património constitucional da democracia de Abril...

Aproveitando as oportunidades, quando as sondagens mostram-nos sinais preocupantes de desconfiança, racismo e xenofobia, alertou o País para a fragilidade e o risco de exclusão social em que vivem dezenas de milhar de imigrantes que escolheram o nosso País para trabalhar.

Alertado pelas personalidades mais sensíveis da Igreja, aproveitou os indultos natalícios para denunciar o flagelo do aborto clandestino que vitima milhares de portuguesas todos os anos, desdramatizando uma polémica marcada pela hipocrisia, pelo radicalismo e pela intolerância.

Perante o fracasso da cimeira de Bruxelas, aproveitou a assinatura da ratificação por Portugal da adesão de dez novas nações à União Europeia para apelar ao reforço do projecto europeu como o caminho certo para garantir a democracia, o desenvolvimento e a tranquilidade na Europa.

Tal como Mário Soares, percebeu qual era o papel que a Constituição havia reservado para si, sem intromissões desnecessárias na governação do País, defendendo uma sociedade justa e plural, livre de extremismos políticos e regulando a intervenção dos agentes económicos, agora que os perigos da globalização são conhecidos.

Em 2004, por todos nós, estou certo que não alterará um milímetro este rumo, mantendo-se fiel aos princípios e aos valores que defendeu e praticou ao longo da vida!

Talvez por tudo isto, a direita portuguesa desmultiplica-se em candidatos, tentando cada um demonstrar que é o melhor amigo do Governo. Talvez por isto mesmo, António Guterres permanece silencioso, gerindo o tempo e aguardando a sua vez de responder afirmativamente ao apelo dos portugueses!

* Presidente da Comissão Política Concelhia do PS-Tavira (jose_graca@sapo.pt)

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