Alguns termos da nomenclatura familiar
dominaram nestas semanas o vocabulário político, numa primeira fase, e as
manchetes dos jornais e das televisões num momento seguinte, tentando explicar
os relacionamentos existentes no processo de negociação inerente à elaboração
do orçamento de Estado para este ano.
Por culpa exclusiva do ainda Presidente
da República e do primeiro governo Passos/Portas, estamos a discutir em
fevereiro de 2016 aquilo que deveria ter sido discutido em julho ou agosto do
ano passado e apresentado no Parlamento até 15 de outubro. Na melhor das
hipóteses, o OE’2016 entrará em vigor no segundo trimestre do ano e algumas das
medidas mais esperadas apenas no segundo semestre, a partir de 1 de julho…
Foi um erro gravíssimo do Presidente da
República manter em funções um Governo que já nada tinha a dar ao País e que
apenas sobrevivia devido aos balões de oxigénio proporcionados pela conjuntura
internacional (queda do preço do petróleo e taxas de juro negativas, entre
outras benesses) e pelo Banco Central Europeu, que decidiu em boa hora fazer
aquilo que os bancos nacionais deveriam fazer: apoiar o desenvolvimento da
economia e sustentar o empreendedorismo e a inovação. Embora pertença á mesma
família política dos anteriores Governos, até Jean-Claude Juncker percebeu que
era esse o papel da Comissão.
Recordemos que o Parlamento Europeu
aprovou, no final de junho passado, o Fundo Europeu para Investimentos
Estratégicos, conhecido como "Plano Juncker", que pretende mobilizar
315 mil milhões de euros de investimento público e privado nos próximos três
anos. Era para arrancar no final do verão, visando o financiamento de projetos
viáveis que não se consigam aprovar nos fundos atuais, nem financiar pelo
mercado, destinando-se 240 mil milhões de euros para investimentos e 75 mil
milhões de euros para as empresas, nomeadamente as pequenas e médias empresas,
que geram dois terços do emprego no setor privado e representam 99% das
empresas na Europa.
Regressando aos cenários nacionais,
António Costa disse desde a primeira hora ao que vinha e conseguiu dentro da
família das esquerdas (os tais primos) um conjunto de acordos de princípio para
viabilizar no Parlamento um orçamento virado para as necessidades das pessoas,
que parasse a tendência de empobrecimento da sociedade e proporcionasse o
regresso aos objetivos do crescimento da economia e da criação de emprego. Com
as Grandes Opções do Plano 2016-2019 já aprovadas por unanimidade no ConselhoEconómico e Social, o Governo aprovou a proposta de Orçamento com o beneplácito
dos tios (os organismos da União Europeia)!
Se as questões da família ficassem por
aqui, parecia que tudo estava bem, mas o processo não foi assim tão simples.
Apresentado em Bruxelas com um atraso inusitado pelas razões antes explicadas,
o draft do documento foi alvo de
ataques virais dos eleitos do PSD e do CDS na Assembleia da República, no
Parlamento Europeu e nas redes sociais, levando muita gente a questionar-se
sobre o seu patriotismo de pacotilha. Será que o draft revelava alguma inconstitucionalidade gritante?! Não, apenas
demonstrava que era possível fazer diferente e melhor, assumindo-se como ponto
de partida para uma negociação onde os interesses nacionais estavam em primeiro
lugar…
Como se não bastasse este histerismo
caquético e delirante dos seus pares, assistimos esta semana ao enterro da
credibilidade do anterior Primeiro-Ministro. Apresentando-se a sufrágio pela
quinta vez no PPD/PSD, Pedro Passos Coelho vem agora armado em paladino da
social-democracia como se os verdadeiros sociais-democratas não soubessem bem
aquilo que andou a fazer nos verões passados, liderando o Governo mais liberal
e insensível da nossa história. Haja sabedoria para lidar com estas figurinhas,
porque a paciência para aturar travestis
já é pouca… ou nenhuma!
1 comentário:
Passos define estratégia social-democrata sem ouvir direcção do PSD
por Inês David Bastos in Diário Económico
Maioria dos vice-presidentes do partido foram surpreendidos com o vídeo de recandidatura de Passos Coelho, que não reuniu Comissão Permanente para debater estratégia.
(Mais em http://economico.sapo.pt/noticias/passos-define-estrategia-socialdemocrata-sem-ouvir-direccao-do-psd_241434.html)
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