(Publicado na edição n.º 33 do Algarve Informativo)
Passados quarenta anos sobre o verão quente de 1975, os portugueses testemunharam momentos históricos para a nossa Democracia, com o alargamento do arco da governação aos partidos da esquerda parlamentar e a deslocação do centro da atividade política para a Assembleia daRepública.
Passados quarenta anos sobre o verão quente de 1975, os portugueses testemunharam momentos históricos para a nossa Democracia, com o alargamento do arco da governação aos partidos da esquerda parlamentar e a deslocação do centro da atividade política para a Assembleia daRepública.
Longe da maioria absoluta pedida aos
portugueses na campanha eleitoral, António Costa protagonizou a mudança e soube trazer o Bloco de
Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista Os Verdes ao
debate, desempenhando um papel que o Presidente da República atribuíra ao líder
do maior partido da coligação vencedora.
Perante a incapacidade de Passos Coelho
de alargar o leque de apoiantes, o Partido Socialista apresentou-se ao serviço,
negociando o seu programa eleitoral com os outros partidos e alcançou um
compromisso que lhe permitirá apresentar-se ao Presidente da República com uma
alternativa ao chumbo do programa e à rejeição parlamentar do 20.º Governo
Constitucional, que congregou toda a oposição.
Se muitos tinham dúvidas sobre a
viabilidade de um acordo entre os partidos da esquerda, a aprovação por
unanimidade no Comité Central do PCP da proposta de apoio ao Governo do PS por
uma legislatura marca o fim de quatro décadas de desconfiança mútua, pelo menos
nas cúpulas partidárias, e abre novas portas ao diálogo e à concertação entre
os dois partidos, permitindo outras alianças na senda do trabalho iniciado por
Jorge Sampaio no Município de Lisboa nos anos noventa.
Considerado por muitos como o principal
vencedor das últimas eleições, o Bloco de Esquerda acabou por seguir no período
pós-eleitoral um caminho que sempre havia recusado, motivando até os
afastamentos de Rui Tavares ou Joana Amaral Dias, que defenderam ativamente
soluções governativas de base alargada e obtiveram os resultados que sabemos.
Na minha opinião, a democracia
representativa amadureceu e ficou a ganhar com a nova composição do Parlamento,
permitindo a participação de todas as forças político-partidárias na construção
de soluções de futuro de forma responsável e reforçando o papel de Portugal
numa Europa que se deseja mais solidária e inclusiva, sendo certo que todos são
unânimes na sua importância na resposta à crise que ultrapassa fronteiras e
continentes.
Para os portugueses, o aumento do
salário mínimo nacional, a devolução dos cortes nas pensões e a devolução da
sobretaxa de IRS são boas notícias que permitem no curto prazo a melhoria do
rendimento disponível das famílias, contrariando uma tendência inexorável de
empobrecimento e de gritante desigualdade social.
Outras medidas, há muito pedidas pelos
partidos da (atual) oposição e que nunca foram consideradas, podem ver a luz do
dia no médio prazo. Falo-vos da redução do IVA na restauração ou da reposição
dos feriados perdidos, ambos com o condão de contribuir para o aumento do
emprego no Algarve, ou da tão propalada reforma do Estado.
Sendo certo que este cenário governativo
pode justificar alguns receios, mesmo até para o Presidente da República a quem
compete escolher o próximo líder do Governo, a construção de uma alternativa de
confiança passará pela formação de um governo de combate para quatro anos que
privilegie uma prática quotidiana de excelência. Porque, esta é uma
oportunidade que Portugal não pode desperdiçar!
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